Luzes que tingem as ruas e janelas das casas, lojas enfeitadas, brinquedos nas prateleiras e grande movimentação de pessoas nas ruas da Cidade da Praia era, em anos outros, o cenário clássico da época natalícia. No entanto, este ano, por causa da Pandemia de covid-19, vai ser um Natal totalmente inédito.
Nove meses depois, Cabo Verde ainda vive e convive com a pandemia do novo coronavírus.
O isolamento social e as restrições impostas fez com que muitos familiares fossem separados dos seus entes queridos e várias empresas e comerciantes ficarem no prejuízo.
Mesmo assim, a época natalícia, período de convívio, solidariedade, ajuda ao próximo e de renovação de esperanças não vai passar despercebida.
“Tenho fé e acredito que tudo vai melhorar”, foi a frase que muitos entrevistados expressaram ao A NAÇÃO.
Sem ainda haver a cura para a covid-19, a tradicional ceia do dia 24 de Dezembro, também decorre sob o signo de restrições.
Aliás, as autoridades aconselham que se evite aglomerações, de modo a se evitar uma nova vaga de contaminação.
Consumismo e pandemia…
Nessa época que, regra geral, é o auge do consumismo, a pandemia gerou crise, “forçando” à mudança de hábito dos consumidores, e, consequentemente, prejuízo aos vendedores.
“Agora, os clientes estão mais cautelosos em relação às compras”, quem o diz é Kátia Garcia, uma jovem empreséria e proprietária do “Artencanto”, um empresa de variedades, com produtos artesanais e importados.
Ouvida pelo A NAÇÃO, Garcia avalia como razoável a movimentação de pessoas e a saída de produtos.
“Nessa época de pandemia, as pessoas ainda estão a recuperar as despesas do período de quarentena, durante o qual passaram por muitos problemas financeiros. Estão a conter os gastos, mas o movimento está razoável, tendo em conta, a difícil situação actual”, estima Kátia Garcia.
A empresária realça que, “até o momento, os produtos mais procurados foram os decorativos”, porquanto, “a maioria das pessoas, nessa época procura mudar o visual das suas casas”, investindo em decorações.
“As prendas também estão a ser compradas, mas presumo que, ainda, é muito cedo, para se ter dados, uma vez que, regra geral, os presentes são mais procurados na semana de Natal”, esclarece, garantindo que malgrado “a difícil situação em que vivemos”, não pensa desistir da empreitada, pois, “tenho esperanças em dias melhores”.
Incertezas…
Para muitos, a pandemia de covid-19 não vai impedir a celebração do nascimento de Cristo.
“Apesar das incertezas e do desconhecimento do que está por vir, para nós, cristãos, a celebração do nascimento de Jesus Cristo faz-nos acreditar em dias melhores, dando-nos mais vigor e esperanças”, afirmam os entrevistados do A NAÇÃO.
Enquanto muitos celebram o nascimento de Cristo, Gérard de Brito, estudante de Ciências da Comunicação, diz não praticar nenhuma religião, mas que o Natal “sempre teve impacto” na sua vida.
“As pessoas que fazem parte do meu círculo de amizade, ficam mais alegres, mais compreensivas e, principalmente, mais solidárias. Para muitos, o Natal é sinónimo de humanismo, no melhor sentido da palavra”, reconhece Brito.
Para De Brito, o Natal de 2020 vai ser diferente, “tal como foi, aliás, todo o ano”, com menos gente, sem abraços solidários e sorrisos tapados por máscaras.
“Natal de 2020 pode não ser o pior, mas, possivelmente, será o de maior reflexão. Vai ser um período propício para pensarmos se toda a comida, toda a bebida, todos os exageros e consumos que andamos a fazer, se realmente importam, ou se são apenas itens supérfluos, que não nos deixam ver o que realmente importa”, argumenta.
Mesmo com covid-19, o 25 de Dezembro – Dia do Natal -, para os cristãos – e não só! – vai para além do consumismo. É uma data propícia para a manifestação e prática de solidariedade para com o próximo, meditação e reflexão, sintonia entre familiares, de demonstrações de afecto e de renovação de esperanças de que o Novo Ano – que já bate à porta! – seja melhor do que já está quase a findar.
Publicado na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 695, de 24 de Dezembro de 2020
