Após cinco anos em Portugal, Bea Santos, internacional cabo-verdiana, busca agora novos voos na Liga Francesa de Voleibol, uma das mais competitivas na Europa.
Beatriz Patrícia da Graça Santos, ou Bea, como é conhecida no mundo do voleibol, é uma atleta natural de Santo Antão, que recentemente se mudou de Portugal para França, para jogar numa das melhores ligas profissionais de voleibol feminino da Europa.
No início deste mês, aos 25 anos, assinou por uma época com a equipa do Istres Provence Volley, clube do sul de França, após cinco temporadas na liga portuguesa. Em Portugal, Bea teve passagens bem-sucedidas pelo Boa Vista, Leixões e pelo AJM FC Porto. No currículo a internacional cabo-verdiana conta com duas Ligas Portuguesas, uma Taça de Portugal e duas Supertaças de Portugal.
Início em Ponta do Sol
Cinco anos após da sua chegada na Europa para jogar pelo Boa Vista em 2015/16, Bea Santos conta que deu os seus primeiros passos no mundo do vólei não foram nada fáceis. “Na escola eu não jogava vólei, não conhecia o desporto, só jogava andebol e basquetebol”, começou por explicar a Bea que deu os seus primeiros toques aos 15 anos, por influência da irmã mais velha.
“Acordávamos às 5 da manhã para fazer os primeiros treinos na equipa do Solpontense e assim começou a minha paixão pelo jogo. Mas não era uma boa jogadora e nessa altura ouvia muitas críticas”, lembra atleta. E é com de alma que afirma: “Fiquei muito triste quando regressei a Cabo Verde de férias e percebi que já não se pratica vólei na Ponta do Sol. Muitas crianças querem treinar, mas não têm as mínimas condições para que isso aconteça.” Bea Santos
Não obstante o nível que atingiu actualmente, nos primeiros três anos no Solpontense ela não participava dos jogos. “O treinador na altura, o Rui Silva, não me colocava nos jogos, por isso eu chorava muito. Queria participar dos jogos e ser como a minha irmã, que era um das estrelas da equipa”.
Foi apenas no seu quarto ano no plantel do Solpontense que a jogadora começou a ter mais oportunidades e tempo de jogo. Nessa época o clube foi campeão regional, pelo que, representou a ilha de Santo Antão no campeonato nacional de voleibol, seniores femininos.
O Solpontense terminou em terceiro lugar, na prova que decorreu na ilha de Santiago. No ano seguinte Bea Santos foi convocada, pela primeira vez, para a selecção nacional feminina de vólei, com as “coisas a acontecerem de forma muito rápida.
Oportunidades
A excelente participação do Solpontense e das suas jogadoras no nacional chamou a atenção de clubes estrangeiros, sendo que a primeira proposta veio da Itália, que acabou por não se concretizar, para mais tarde surgir uma proposta do Boa Vista de Portugal.
Embora o sonho de competir num nível mais alto estivesse cada vez mais próximo, Bea confessa que sair de Cabo Verde. “Não foi fácil, mas ao mesmo tempo foi o realizar de um sonho. Sempre quis ser uma jogadora profissional, ganhar algum dinheiro para ajudar a minha família, mas no início as coisas não foram nada fáceis”.
Conforme a jogadora, Portugal é um país totalmente diferente, lá ela encontrou “muitos obstáculos no caminho”, mas acabou por superá-los. “Em Cabo Verde eu era muito mimada e não sabia o que era a vida e quando cheguei à Europa, sozinha e com 18 anos, fui obrigada a crescer, a ter responsabilidade. Apesar de tudo, isso foi um ponto muito positivo e importante na minha vida”, afirma a desportista.
Voleibol.cv
Questionada sobre o estado actual do voleibol feminino no país Bea Santos confessa que não acompanha a evolução do desporto, mas acredita que há muito talento em Cabo Verde.
“Penso que a Federação Cabo-verdiana de Voleibol deveria ter um papel mais incisivo no crescimento do jogo em Cabo Verde. Há muito talento no país e com mais apoio e oportunidades, muitas meninas poderiam atingir outro nível, o que beneficiaria a própria selecção nacional, com jogadoras mais experientes”, ponderou a internacional cabo-verdiana.
Mas Bea tem também este desabafo: “Fiquei muito triste quando regressei a Cabo Verde de férias e percebi que já não se pratica vólei na Ponta do Sol. Muitas crianças querem treinar, mas não têm as mínimas condições para que isso aconteça”.
Novos voos
A mudança para Istres Provence Volley, França, representa uma nova fase para a carreia da jogadora, que procura novas conquistas na sua nova casa. Após seis temporadas em Portugal, a atleta diz estar na hora de buscar novos voos e objectivos.
“Passei seis anos em Portugal, joguei numas das melhores equipas da liga, porém a liga era semiprofissional. Já a França a liga é totalmente profissional e sempre foi um objectivo jogar numa das melhores ligas da Europa”.
O Istres Provence Volley representa “um passo de gigante” carreia de Bea Santos. Além disso, a proximidade com os familiares que ela tem na França irá ajudar na sua rápida adaptação, embora, “o ritmo dos treinos e dos jogos seja mais intenso”.
A temporada 20/21 da Liga Francesa Voleibol Feminino está na 13ª jornada, com o Istres Provence Volley no décimo lugar, a 13 pontos do líder, o Beziers Volley, com 24.
A aleta diz que agradece a Deus e à minha família pelo apoio recebido, pois, em muitos momentos pensei em desistir. “As pessoas têm a ideia errada que a vida de uma jogadora de vólei é um mar de rosas, mas na realidade é muito dura. Exige de tempo, esforço e dedicação”.
Beatriz Santos espera continuar a ter a “sorte” continuar a progredir na sua carreira, para um dia jogar na liga Itália, que seria “o topo”, mas até lá continuará a trabalhar arduamente para que isso aconteça.
Nascimento: 1995-08-16 (25 anos)
Nacionalidade: Cabo Verde
Naturalidade: Santo Antão
Posição: Oposto
Altura: 195 cm
Peso: 92 kg
Situação: no activo
Clube actual: Istres Provence Volley, França;
Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 694, de 17 de Dezembro de 2020