O Escritório da Organização Mundial da Saúde (OMS) para a Europa anunciou, terça-feira, 22, a realização em data a indicar de uma próxima reunião dos seus membros para definir acções contra a nova estirpe do coronavírus SARS-CoV-2, detectada no Reino Unido.
Através do seu perfil no Twitter, o diretor do referido órgão, Hans Kluge, especificou que o encontro terá como foco a aprovação de estratégias para promover exames diagnósticos, reduzir a transmissão e explicar os riscos aos cidadãos.
Kluge não especificou a data da reunião, mas garantiu que a OMS está monitorando de perto as conclusões sobre a variante VUI-202012/01 e defendeu a solidariedade entre os mais de 50 Estados pertencentes à entidade regional.
“Ninguém está seguro até que todos estejam seguros”, disse Hans Kluge, saudando a iniciativa do Reino Unido de compartilhar informações e intensificar a pesquisa sobre a nova cepa.
Kluge indicou que o VUI-202012/01 está espalhando-se mais rapidamente e o nível de gravidade ainda não está claro, por isso considerou fundamental fortalecer as medidas de prevenção, nomeadamente limitar as viagens para conter a propagação, mas pediu para permitir movimentos essenciais e o suprimento de necessidades básicas.
Após a identificação dessa nova estirpe, o governo britânico impôs na semana passada um sistema de alerta mais rígido em Londres e outras cidades da Inglaterra, semelhante ao bloqueio em Novembro.
Mais de 40 países decidiram suspender temporariamente os voos e o transporte de cargas e passageiros de e para o Reino Unido, incluindo Holanda, Bélgica, Itália, Áustria, França e Alemanha.
Nova estirpe já foi identificada em vários países
Apresentada como mais contagiosa, essa nova estirpe do coronavírus SARS-CoV-2 que está a inquietar o mundo, já está a circular em vários países e territórios, dentro e fora da Europa, segundo as últimas informações.
Bélgica, Gibraltar (território britânico situado no extremo sul de Espanha e reivindicado por Madrid), Dinamarca e Austrália são os mais recentes países e territórios onde a nova variante do coronavírus responsável pela doença covid-19 foi identificada, cuja presença já tinha sido confirmada anteriormente nos Países Baixos, Itália ou na África do Sul.
A Bélgica anunciou, ontem, terça-ferira, 22, ter detetado no país a nova variante do SARS-CoV-2, precisando que esta circula há pelo menos um mês no território belga.
“Esta variante não se limita ao Reino Unido, já foi detetada em outros lugares do mundo, entre os quais nos Países Baixos e na Bélgica”, declarou o porta-voz da equipa técnica belga responsável pelo combate contra a covid-19, o virologista Yves Van Laethem.
O virologista lembrou que esta variante do SARS-CoV-2 é conhecida “desde o mês de setembro” e que atualmente representa “60% das novas infeções no Reino Unido”.
“Existem outras estirpes que circulam no nosso país e em outros países (…). É totalmente normal que as variantes apareçam” e que “acabem por se tornar dominantes”, prosseguiu o especialista, realçando que, até ao momento, não está totalmente comprovado se esta estirpe se transmite com mais facilidade.
“Ainda temos de esperar para ter um certo número de dados para ver se é realmente mais contagiosa”, afirmou Yves Van Laethem.
“Em qualquer caso, nada nos mostra que seja mais violenta, mais agressiva ou mais perigosa para a nossa saúde. Nada nos mostra que as vacinas não nos darão imunidade contra a doença covid-19 marcada por esta variante”, acrescentou o virologista belga.
O especialista vai mais longe e consegue justificar o facto desta nova estirpe ter sido identificada no Reino Unido.
Segundo Yves Van Laethem, o Reino Unido tem “um dos programas de investigação e de vigilância genética mais eficientes e completos do mundo”, o que permite aos britânicos “analisar sistematicamente entre 5 e 10% das amostras para determinar a respetiva composição genética”.
“Muitos outros países são muito mais limitados na percentagem de amostras que estudam em profundidade”, disse o virologista belga, destacando que o Reino Unido não é o único país onde está a ser verificado um aumento significativo de novas infeções.
Países Baixos, Dinamarca, República Checa e Eslováquia foram alguns dos países mencionados por Yves Van Laethem que recomendou, no entanto, que as viagens devem ser reduzidas e limitadas “tanto quanto possível”.
Pelo menos um caso de infeção relacionado com a nova estirpe foi detetado em Gibraltar, segundo confirmou hoje um porta-voz de Downing Street (o gabinete do primeiro-ministro britânico, Boris Johnson).
“Foram detetados casos em Gibraltar, Dinamarca e Austrália”, informou o porta-voz de Downing Street, em declarações à agência espanhola EFE.
Por sua vez, o ministro da Saúde francês, Olivier Véran, indicou hoje que “até ao momento” esta nova estirpe não foi identificada em França.
“Nos últimos dias, os cientistas analisaram 500 estirpes virais e não foi encontrada esta variante. Isto não significa que não esteja a circular”, disse Olivier Véran, em declarações à emissora Europe 1.
Embora não tenham sido detetados casos até agora, o ministro da Saúde francês admitiu que “é muito possível que a variante já esteja a circular” em França. Perante esta possibilidade, o Presidente francês, Emmanuel Macron, que foi diagnosticado com covid-19 na semana passada, apelou a um reforço da “vigilância”.
Em Portugal não foi identificada, até ao momento, a nova estirpe do SARS-CoV-2, disse à Lusa no domingo uma fonte oficial do Instituto Ricardo Jorge.
A pandemia da doença covid-19 provocou pelo menos 1.685.785 mortos resultantes de mais de 76,2 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de Dezembro de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.
C/Agência LUSA