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Levarei em devida conta a Plataforma Eleitoral que: 6) Põe fim à desvalorização educativa/académica

Por: António Carlos Gomes

Uma observação atenta permite-nos aperceber que ocorre, na sociedade cabo-verdiana, uma certa desvalorização educativa/académica que obriga jovens, licenciados e mestres, a aceitarem trabalhos que exigem formação profissional ou até mesmo uma simples aprendizagem ad-hoc.

Este é um fenómeno frequente e comum nos centros urbanos, especialmente, nas cidades da Praia e do Mindelo que espelha, inequivocamente, a incapacidade do setor económico em criar emprego suficiente para absorver o fluxo de universitários.

A erosão do valor do diploma e o consequente desgaste do capital humano,[1] que disso resultam, aumentam a precariedade laboral, a prática de baixos salários e o bloqueio do acesso da mão-de-obra não qualificada ao mercado de trabalho.

A falta de oportunidade de emprego obriga, ainda, os jovens a preferir a melhoria da competitividade no mercado do trabalho pela obtenção de novos graus académicos do que pela consolidação da experiência profissional. Têm os jovens alternativa num contexto de elevado desemprego?

[1] O recurso a esta expressão bizarra é feito apenas para facilitar a compreensão porquanto não é aceitável que se trate um ser humano como capital sujeito as regras de alocação eficiente de recursos.

Necessidade de um Governo empreendedor

É, no entanto, interpelante verificar que a desvalorização académica/educativa ocorre em simultâneo com o fenómeno da escassez de quadros nas Ilhas do Maio, da Brava e de S. Nicolau bem como nos municípios do Interior de Santiago.

Relacionando este facto com os demais problemas sociais, pobreza absoluta 35% e pobreza subjetiva 60%, se apercebe, com clareza, da necessidade de um governo interventor, social e, necessariamente, empreendedor sobretudo num contexto, como o nosso, em que a política fiscal adotada, apesar de ser favorável à classe empresarial e à classe média no seu conjunto, não está tendo impacto na criação de novos empregos porque, provavelmente, os beneficiários de uma fiscalidade amiga dos haves estão optando pelo entesouramento e/ou pagamento de dívidas e não pelo investimento de expansão.

A dificuldade de acesso ao crédito bancário não explica, pois, por si só, o défice de emprego criado em relação ao fluxo dos universitários que completam a licenciatura. Temos que procurar a explicação no comportamento dos nossos empresários e na debilidade do tecido empresarial porquanto, mesmo depois do Governo ter assumido parte do risco do crédito, a redução do desemprego se deve mais ao método utilizado na sua avaliação e aos programas de estágios do que à criação de emprego duradoiro e atrativo.

 Incentivar a produção

O quadro aqui descrito nos impõe o dever de vencer o desemprego e a consequente desvalorização dos diplomas. E vencer o desemprego exige um pouco mais do que a razoabilidade da política fiscal porquanto apela à instalação de uma dinâmica produtiva começando por setores e atividades que não exigem tecnologia de ponta dado que o importante agora é incentivar a produção.

Na verdade, vencer o desemprego implica, no contexto cabo-verdiano, literalmente, promover a replicação da experiência de empresas como a Sociave em todos os demais setores de atividade económica. Esta dinamização pela diversificação é geradora de uma dinâmica forte de criação de empresas e de oferta de emprego tendo em si o potencial de, sem grandes custos, inverter, o ciclo vicioso para um ciclo virtuoso.

Para o efeito, a Pró-empresa deve ser repensada e ser pró-ativa. Deve ser esta instituição de promoção a ir à caça de micro e pequenas empresas com potencialidades para se transformarem, conforme for o caso, em pequenas e médias empresas.

Nesta perspetiva, urge, por exemplo, avaliar o potencial das unidades de produção do queijo nas Ilhas do Fogo e Santo Antão ou de doces e compotas em Porto Novo e Paúl e, se for caso, ajudando-as a dar o salto que lhes libertaria do modelo de produção cometa e de subsistência passando, naturalmente, para um modelo de produção industrial.

São estas ações concretas que geram emprego e que têm, por esta razão, o potencial para inverter a ascendente tendência da desvalorização educativa pela erosão do valor de mercado dos diplomas que procurarei nas plataformas eleitorais dos concorrentes das legislativas 2021. Quem as tem, seguramente, terá o meu voto.

(Continua)

Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 693, de 10 de Dezembro de 2020

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