Por: Filinto Elísio
“Black Jack sta na kosta”, para quem anda esquecido ou desavizado, vale lembrar que “Black Jack sta na kosta”, tal qual o mote daquele funaná que nos obriga ao coro “é sta li me”. Para quem anda posto em sossego, sem querer estragar-lhe a quietude, sussurro que é preciso dar a volta por cima e repito, quase tautológico, que o país tem futuro pela frente. Sem perder a ternura, aliás ganhar mais ternura, é preciso pôr o passo no compasso do desenvolvimento. E aqui, só aqui seja recomendável a ideia dos 200%, a unidade na diversidade e a convergência da diferença. Só derrotando o “Black Jack” que nos vai na alma é que venceremos aquele que “sta na kosta”. Posto o introito, presenteio-vos, de compostura e “kunbidu”, com estes versos de Manoel de Barros de que “palavras têm espessuras várias: vou-lhes ao nu, ao fóssil, ao outro que trazem da boca do chão.”
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Ânimos exaltados, frustrações intempestivas e caça às bruxas são as resultantes da não aprovação do diploma que regulava o Estatuto Administrativo Especial para a Capital da República de Cabo Verde. Dir-se-ia que fez acordar de vez o nosso regionalismo dorminhoco e burro, maldição que, uns e outros acalentam na calada. Falsos profetas, habitualmente na pasmaceira dos dias, mobilizam os incautos para o arrasta-rabo geral. Cansa este estado de espírito negativo, que não se justifica pelo aproximar das eleições autárquicas e amplia a esquizofrenia com que olhamos para o que faz falta. E a pandemia, sem fim à vista e a atravessar a barreira dos dois mil infetados, lembra-nos, tamanha a sua devastação, que ela é o Estado da Nação.
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Falaciosa a ideia deste vírus, ora pandemia entre nós, ser isento e democrático. À boca pequena e à porta fechada, sabemos a verdade inconveniente. De que ele, atacando a qualquer um que se ponha a jeito, contagia mais e mata mais onde prolifera a vulnerabilidade sanitária e socioeconómica. Combater esta maldita “peste” requer uma abordagem sobre a desigualdade que campeia na nossa sociedade e que fragiliza sobremaneira todos quantos em precariedade do emprego, rendimento, habitação e mobilidade. Por isso, deixemo-nos de hipocrisia e de complacência…que “Deus castiga”.
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Todavia, choveu. Ou, começou a chover. Há três anos consecutivos que não chovia, fazendo desandar muitas vidas e criando imponderáveis às previsões do desenvolvimento. Até aparecer o novo coronavírus, o país crescia a 5,5% do PIB e, apesar da seca prolongada, dava sinais de notável dinâmica. Naturalmente, prevalecendo ainda quadros terríveis de desemprego, pobreza e de extrema pobreza, como os da desigualdade franciscana e do desamparo social. A luta pelo desenvolvimento requer uma dinâmica modal que trespassa os mandatos de governação e determina o acerto e o concerto sobre os fundamentais para que haja resiliência, que a mantenha da chuva de per si não é suficiente. É preciso juntarmo-nos pela sustentabilidade da boca do chão. E pela irreversibilidade…sobretudo, agora e doravante em que o “Black Jack sta na kosta”.
Publicado na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 672, de 16 de Julho de 2020
