Na semana em que Cabo Verde comemorava os 45 anos da sua independência, o país recebeu a notícia da nomeação de duas cidadãs a cargos importantes na África e Europa. São elas Cristina Duarte, nomeada conselheira do secretário geral da ONU para a África, e da franco-cabo-verdiana Elisabeth Moreno, ministra da Igualdade de Género, Diversidade e Igualdade de Oportunidades do governo francês.
A notícia da nomeação de Cristina Duarte chegou ao país no dia 3 de Julho, depois de ser indigitada assessora de António Guterres. Segundo as Nações Unidas, Duarte foi nomeada pela sua experiência profissional em políticas públicas e gestão de projectos para o desenvolvimento.
A ex-ministra das Finanças e Planeamento actualmente era membro da Comissão de Especialistas da ONU sobre Administração Pública, no Conselho Director para Assuntos Económicos e Sociais, dirigido pelo Presidente do Ruanda, Paul Kagame.
Duarte também dirigiu um projecto do Banco Mundial para o sector privado e foi directora de planeamento e estudos do Ministério da Agricultura cabo-verdiano. No Quénia, trabalhou como gestora de relações institucionais e financeiras do Citibank, da qual chegou a ser vice-presidente.
“A sua nomeação como nova Conselheira do Secretário-geral das Nações Unidas para a África trouxe-nos júbilo e orgulho, nestas nossas ilhas, seja pela sua competência, seja pelo seu percurso profissional alcançado até aqui enquanto mulher cabo-verdiana e personalidade que tão bem tem sabido abraçar os vários desafios que lhe têm surgido pela frente”, declarou o Presidente da República, Jorge Carlos Fonseca, em mensagem enviada à Cristina Duarte.
Três dias depois, chegava a notícia da nomeação da franco-cabo-verdiana Elisabeth Moreno, como ministra da Igualdade de Género, Diversidade e Igualdade de Oportunidades da França.
Natural de Tarrafal de Santiago, Elizabeth Moreno acompanhou os seus pais com destino à França aos sete anos de idade. Ali cresceu e estudou, tendo-se licenciado em Direito e adquirido o grau de mestre em Direito Comercial. Da sua carreira, consta “uma gestora de sucesso” no domínio das tecnologias de informação e comunicação (TIC), tendo ocupado cargos de chefia nas empresas Lenovo e Dell, bem como na Hewlett Packard, de que foi vice-presidente para a África, até ser convidada para integrar o governo francês.
No seio da comunidade cabo-verdiana em França, especifica o Governo de Cabo Verde em nota de felicitação, Elisabeth Moreno é uma líder empenhada e activa, fundadora do “Cabo Verde Business Club” e membro da fundação da “Casa de Cabo Verde em Paris”, instituição virada para o apoio à comunidade cabo-verdiana em França. Ademais, a mesma estaria ainda prestes a assumir a presidência da Federação das Associações Cabo-Verdianas em França.
Para o PR, a nomeação de Elisabeth Moreno pode “potenciar o relacionamento relevante entre Cabo Verde e França”. “Ela tem um percurso invejável de êxito, nomeadamente no plano empresarial. O facto de ter ligações profundas com Cabo Verde e para um país como o nosso, que tem uma vasta diáspora, é sempre motivo de orgulho e satisfação”, adiantou Jorge Carlos Fonseca.
Mulheres em cargos de liderança
As mulheres vêm conquistando cada vez mais espaço no mercado de trabalho, ocupando cargos importantes quer na política, quer em várias outras esferas de direção em todo o mundo, travando uma luta diária, em prol da igualdade e equidade do género, referiu o Instituto Cabo-verdiano para a Igualdade e Equidade de Género (ICIEG). “Isso mostra que já não vivemos numa sociedade machista, em que os cargos de liderança eram assumidos maioritariamente por homens”, declarou.
Num vídeo partilhado nas redes sociais, Elisabeth Moreno deixou uma mensagem de “força e energia”, direcionada aos cabo-verdianos, como incentivo para realizar os seus sonhos. “Somos crioulos, temos vontade e determinação. Se temos um sonho, não devemos deixar que ninguém nos pare até realizá-lo. Viemos de longe, fazemos sacrifícios, então vamos fazer esses sacrifícios valerem a pena”, determinou.
A presidente do PAICV, Janira Hopffer Almada, felicitou as nomeadas e aproveitou para lembrar às autoridades nacionais que “a mera aprovação da lei não irá garantir a paridade”, caso não houver também uma mudança de mentalidade.
Na sua explanação, a líder do maior partido da oposição disse ainda que “as conquistas que as (os) cabo-verdianas (os) alcançam, seja cá dentro, seja lá fora, devem ser motivo de reconhecimento e valorização por todos, pois, ganha essas personalidades, mas ganha também o país”.
Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 671, de 09 de Julho de 2020
