Por: Clara Silva*
O assassínio de Willy Monteiro Duarte, de origem cabo-verdiana e de cidadania italiana, em Colleferro, perto da Roma, na noite entre 5 e 6 de Setembro, entristeceu profundamente a comunidade cabo-verdiana em Itália, bem como o povo de Cabo Verde, em pátria e em toda a diáspora. Chocou a opinião pública italiana, gerando uma forte mobilização a nível local e nacional, até as instituições mais altas. Fez chorar os pares de todas as nacionalidades, que se identificaram em Willy para a violência atroz sofrida, que causou sua morte.
O perfil biográfico de Willy, que hoje circula nas redes sociais e nos meios de comunicação, representa plenamente o de um ‘cabo-verdiano da Itália’: um jovem trabalhador, sério, ligado à sua família e às suas origens, amado e apreciado pelo povo da aldeia de Paliano, onde vivia com os seus familiares, e que perseguia com teimosia e convicção um projeto definido de afirmação pessoal e de resgate da comunidade de origem. A morte de Willy é uma grande perda para a sociedade italiana e cabo-verdiana. A violência em nossas sociedades hoje tem muitas faces; a que matou Willy nos faz vislumbrar a intenção de aniquilar aqueles que são percebidos como diferentes, não só pela cor da pele ou as origens, mas também como portadores de valores e princípios de uma convivência saudável e de uma integração pacífica.
É por isso que a perda de Willy deve levar-nos todos a se engajar mais em nossas sociedades na proteção dos muitos Willys que com seu compromisso diário se esforçam para construir uma sociedade melhor para si e para os outros. Deixados sozinhos, de facto, permanecem expostos à brutalidade e ignorância daqueles que usam o ódio, a violência e o culto exasperado do corpo para se imporem aos outros sem restrições e sem limites.
Willy tinha intervindo para ajudar a trazer a paz a um desacordo em que estava implicado um conhecido dele que tinha sido um companheiro de escola. Aqueles que o mataram também foram estudantes nas mesmas escolas frequentadas por Willy. Este triste evento monstra que a comunidade e a escola são incapazes de prevenir a violência e a agressão, em face das quais o sorriso de Willy não foi capaz de agir como uma barreira.
Diante desse sorriso, que imortaliza o impulso positivo e pacífico de um rapaz de 21 anos, todos devemos questionar sobre as causas das patologias das sociedades em que vivemos, as razões para tanta violência, e redobrar os nossos esforços na luta contra a cultura da opressão do outro, que muitas vezes, nos países da imigração, se junta com o racismo. Também para evitar a instrumentalização política do assassínio de Willy ou para reduzi-lo a um mero episódio de crime.
*Professora de pedagogia, Universidade de Florença, Itália
Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 681, de 17 de Setembro de 2020