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Diáspora

Cabo-Verdiano na República Checa garante: “Soubemos sempre tirar o bom proveito das oportunidades”

Os cabo-verdianos na República Checa “estão todos bem integrados” e “soubemos tirar sempre o bom proveito das oportunidades de viver” nesse País da Europa Central. A garantia é de Adnilson Pereira, formado em Engenharia Informática e mestre em Informação Bancária, trabalhando, presentemente, numa empresa italiana, com sonho adiado de regresso definitivo a Cabo Verde, devido à “pendência” de acompanhar a educação das filhas-gémeas.

Praiense de gema, ao completar o (então) Ano Zero, e com pretensões de de fazer uma Formação Superior em Engenharia Informática, com especialização em Sistemas Bancários, a República Checa (RC) foi o País que melhor opção lhe ofereceu para a realização do seu sonho.

Na procura de referências, conheceu Valdmiro Segredo, actual cônsul-honorário desse País em Cabo Verde, que lhe deu “informações úteis” sobre a qualidade do Ensino na RC, e, incentivado pelo seu pai que, também, se formou no Leste Europeu, ajudaram-lhe a completar e a tomar a decisão definitiva.  

Na “hora di bai”, foi com a intenção de voltar ao Arquipélago e ajudar no seu desenvolvimento. “Mesmo estando for a, tanto tempo, procuro sempre estar informado sobre notícias do País e o seu progresso”, garante Adnilson Pereira.

Ao conluir a sua formação universitária, “com excelência”, recebeu, em meados de 2000, muitas ofertas de trabalho em empresas internacionais, que estavam na fase de expansão e a entrar na RC, enquanto “um bom País para investir, com bons quadros e boa qualidade de serviço a prestar”, compatível com outros países europeus.

“Entendendo as oportunidades que estavam a aparecer no mercado, principalmente, na minha área, resolvi trabalhar alguns anos, para ganhar algumas experiências antes de regressar ao meu País”, explica, garantindo que sonha sempre com um regresso definitivo, mas que há a  pendência da “educação das minhas filhas-gémeas”, que lá nasceram e estão em idade juvenil.

Boa integração 

A Comunidade Cabo-Verdiana na RC é composta por antigos estudantes que terminaram, formaram famílias e ficaram por lá a trabalhar, em diversos sectores, designadamente: Banca, Financas e Informática, bem como por jovens universitários a estudar Medicina, Informática e alguns emigrantes. 

“Estamos todos bem integrados, tanto na área profissional, como na social e cultural. Soubemos tirar sempre o bom proveito das oportunidades de viver nesse País, com um excelente Sistema de Ensino e de Saúde, uma Economia estável, e com um povo humilde e acolhedor”, remarca Pereira, notando que a maioria trabalha em empresas de renome internacional, com funções de destaque. 

A Comunidade não é grande, mas a chegada de novos estudantes e dos que procuram emprego está a crescer anualmente. 

“Este grupo necessita de contactos ou referências para ajudá- los em diferentes problemas, que poderão enfrentar durante a sua estadia, principalmente, no início, devido à dificuldades no domínio da língua, de vistos, ofertas de emprego, aluguer de casas, entre outras”, realça. 

Até este momento, são os que lá vivem há mais tempo, que, “com  boa-vontade”, ajudam a contornar os obstáculos. 

“No meu caso particular, venho prestando informações sobre vagas e possibilidades de estudar na RC, bem como, na recepção e acompanhamento de conterrâneos que visitam  Praga ou procuram oportunidades para negócios”, revela, frisando que “a dificuldade maior reside no facto de o fazer a titulo voluntário”, sem suporte official, que “daria maior legitimidade e credibilidade junto das Entidades Checas”.

 Faz falta uma Associação 

 Oficialmente, não dispõem de nenhuma Colectividade.

“Já tivemos, no passado, uma Associação de Estudantes, criada pelo actual ministro da Agricultura e Ambiente, Gilberto Silva”, lembra, ajuntando que, esporadicamente, organizam encontros para a celebração de aniversários, a par das Festas do Natal, passeios e “Vylet”, que “é um passeio activo aos parques e museus”, muito popular na RC.  

Pereira reconhe que faz falta “algo official”, que representa  todos cabo-verdianos que vivem na RC, bem como os que vivem nos países vizinhos, nomeadamente:  Eslováquia, Hungria e Bulgária. 

“Precisamos fazer um levantamento e ter um registo de todos os cabo-verdianos, assim como ter um representante com título legal, reconhecido pelo Estado de Cabo Verde, que possa actuar em casos de necessidade,  junto dos governos do Arquipélago como Checo. 

As Embaixadas mais próximas ficam na Bélgica ou na Alemanha, o que não é muito conveniente.

“Com a existência de uma Associação organizada e com um representante, poderíamos tirar melhor proveito da Cooperação entre os dois países, nas mais diversas áreas, com destaque para a  Educação, Cultura e Medicina”, salienta Pereira.  

Assistência Consular 

  Pereira considera que o consul-honorário de Cabo Verde na RC tem desempenhado “um bom papel” na aproximação dos cabo-verdianos, incentivando-os a participarem em encontros na recepção de governantes em visita à Praga, bem como na celebração da nossa Independência e recepções na Época do Natal.

“O que está a faltar mesmo, é a existencia de uma Associação ou Entidade que possa  estar mais perto da Comunidade, facilitando o processo de integração e prestando informações sobre meios e formas para ajudar, também, no processo de desenvolvimento do nosso País”, reforça, notando que, embora,  “cada um de nós  sermos um embaixador”, deve-se estar “unido e bem informado sobre assuntos internos”, em ordem enquadrá-los sobre as necessidades de Cabo Verde, principalmente, agora, no contexto da Pandemia Mundial que se está a viver. 

Amortecimento do impacto de COVID-19 

O impacto da COVID-19 na RC “não foi grande”, graças ao seu “excelente Sistema de Saúde”, bem como o facto de os checos terem adoptado medidas sanitárias e de isolamento, desde o início, que só mais tarde vieram a ser adoptados por outros países. 

“Tudo isso ajudou a ter o controlo do vírus e a sua pouca propagação. Até ao momento, não tivemos registo de ninguém infectado na comunidade Cabo-Verdiana”, garante. 

Durante a Pandemia, altura em que estiveram confinados, os patrícios mativeram ligações “online”, trocando notícias e apoio mútuo para ultrapassarem o estresse de se estar em casa.

“No meu caso, pelo  cariz do meu emprego, estive em tele-trabalho, sem nenhum obstáculo, aliada à prática de actividades físicas”, realça, acrescentando que aproveitou,também, o tempo para desenvolver o conhecimento em algumas áreas novas,  bem como reforçar o contacto com familiares e amigos, que vivem distantes. 

Algumas iniciativas,com relevo para as individuais, foram e estão a ser desenvolvidas, visando ajudar Cabo Verde no combate a essa Pandemia.

 “Ainda recentemente, foram oferecidas algumas máscaras e ‘kits’ respiratórios, por parte de alguns checos, através do cônsul de Cabo Verde na República Checa”, ilustra Pereira, reiterando que se poderia “tirar mais proveito, caso houvesse uma Entidade Legal para ajudar na recolha”, junto de organismos não-governamentais, reforçando-se, assim, o empenho de todos nessa Luta Global. 

No entendimento de Pereira, “todos estamos a aprender muito” com esse vírus.

“Teremos de adoptar um modo de viver diferente, com prioridades diferentes, para que possamos colmatar eventuais impactos económicos ou Financeiro Global”, prognostica.

 Soluções bancárias 

 Pereira trabalha há 12 anos para uma empresa italiana, que desenvolve soluções bancárias, a par de consultoria  em gestão de crédito bancário e análise de risco.

“A área bancária é muito exigente, por causa do seu sigilo,  pelo que, no início, temos muitas dificuldades, pois, a tendência é de cada Banco proteger os conhecimentos e a sua forma de negócio”, confessa, notando que desenvolve soluções inovativas/digitais, para vários bancos na Europa, Ásia e  América. 

Ultimamente, Pereira tem em mãos “pedidos de trabalho, para ajudar muitos bancos” na Europa a transformar e a digitalizar todo o Sistema de Crédito Bancário, com vista à criação de soluções digitais simples, transparentes e a custo baixo para os bancos e clientes.
Adnilson Pereira desafia os conterrâneos a traçarem “metas e objetivos ambiciosos”, de modo a concretizarem os seus sonhos, apostando na aprendizagem contínua. 

“Da minha experiência, considero que o domínio de uma língua estrangeira é muito importante, aliado a uma capacidade lógica, mente aberta e espírito de curiosidade”, salienta, concluindo que tais características, “alicerçadas no espírito resiliente do cabo-verdiano, permitem alcançar o sucesso no além-fronteiras”.

Informática rima com Desporto 

Adnislson Alberto Alfama Martins Pereira nasceu na Cidade da Praia, em 1977.

Estudou no Liceu “Domingos Ramos”, concluindo o (então) Ano Zero, em 1997,  na área Económico-Social.

Como sempre teve muita curiosidade para a Informática, em 1998, parte para a República Checa (RC), onde cursa Engenharia Informática Aplicada a Sistemas Empresariais.

Em 2004 conclui, “com excelência”, a Licenciatura, com a defesa de Tese de “Estudo Comparativo entre Sistemas Bancários de Cabo Verde e da RC”. 

Em 2006 conclui o Mestrado em Engenheira Informática.

Entre 2004 a 2006 trabalha para uma Empresa Norte-Americana. 

 Desde 2007 trabalha para uma empresa italiana.

Pereira já cooperou com diversos bancos europeus, nomeadamente,  na RC, Hungria e Irlanda do Norte, assim como, os da América, Ásia e Norte de África.

Neste momento, dirige um Projecto na Irlanda, com o objectivo de criar uma Plataforma Digital para Crédito à Habitação com Hipoteca. 

O meu “hobbie” foi sempre o Desporto, tendo participado em várias competições de Maratona e Meia-Maratona, na Europa. 

É pai de duas filhas (gémeas), de 14 anos, ambas com representação na Federação de Atletismo Júnior da República Checa.

(Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 671, de 09 de Julho de 2020)

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