O primeiro-secretário da Autoridade Metropolitana do Porto (AMP), Portugal, Mário Rui Soares, revelou que um operador rodoviário, concorrente à concessão de transportes do Porto, caso ganhe ou seja subcontratado, tenciona ir buscar imigrantes a Cabo Verde, e também Venezuela, para dar-lhes formação e minorar a falta de mão-de-obra no sector e assim atenuar a décalage fnanceira que se pratica em Portugal relativamente aos custos, avança o Jornal Público.
Em causa, um concurso de concessão dos transportes rodoviários no distrito do Porto, que já conta com 40 operadores, na maioria espanhóis, na corrida.
Segundo a mesma fonte, o recurso à mão-de-obra estrangeira é justificado pelos baixos custos a que os operadores rodoviários em Portugal são forçados a trabalhar.
“É uma vergonha! Como é que um país organiza concursos de prestação de serviços públicos que nem sequer são compatíveis com os salários baixos que já são praticados hoje, e é preciso ir buscar imigrantes a países que estão na miséria?”, questionou José Manuel Viegas, especialista em Transportes, que não disfarçou a sua indignação quando ouviu o primeiro-secretário da Autoridade Metropolitana do Porto (AMP), Mário Rui Soares, contar que um operador rodoviário lhe tinha dito que, se ganhar o concurso, ou se for subcontratado, vai buscar imigrantes à Venezuela e Cabo Verde e dar-lhes formação.
Este episódio, segundo o Público, aconteceu a 4 de Novembro no congresso da ADFERSIT (Associação para a Defesa dos Sistemas Integrados de Transportes) num painel onde se discutiu a importância dos transportes públicos na mobilidade sustentável.
Mas, ciente de que a sustentabilidade não deve ser só ambiental, o moderador José Manuel Viegas insistiu na questão: “Quando, para termos autocarros a funcionar, é preciso ir buscar imigrantes à Venezuela, não estamos a ser sustentáveis.”
Nesse contexto, instou os operadores dos transportes colectivos regulados a falarem com as autoridades que lançam os concursos públicos “levando uma agenda a favor da sustentabilidade que inclua a dignidade humana”.
Depois do congresso, em questão, o Público avança que falou com o responsável da AMP, Mário Rui Soares, que atestou a história do operador que tenciona “importar” imigrantes para trabalharem como motoristas.
Trata-se, conforme essa fonte, de um concorrente português que está bem colocado para ganhar um dos cinco lotes postos a concurso, mas que Mário Rui Soares não quer divulgar o nome, porque lhe foi pedida reserva.
No entanto, este responsável não partilha da indignação que o assunto provocou, explicando que a intenção do referido operador é essencialmente driblar a falta de mão-de-obra que existe na contratação de motoristas.
“Se recrutarem motoristas na Venezuela e em Cabo Verde e lhes derem formação, não vejo problema, porque até a própria língua é parecida com o português”, disse.
Mário Rui Soares lembra que os operadores terão de respeitar as convenções colectivas de trabalho, independentemente de os seus empregados serem ou não portugueses.
Entretanto, o Sindicato Nacional dos Motoristas (SNM) já pediu que seja investigado o concurso para o transporte rodoviário na AMP.
Com base nas declarações, o SNM pergunta se os operadores que apresentaram o preço por quilómetros mais baixo estão “já preparados para fazer recrutamento da Venezuela ou Cabo Verde e em que condições vão contratar esses trabalhadores”, questionam.
C/Público