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Testemunhos… : Contingente Henry Reeve, uma contribuição valiosa à saúde da humanidade, um candidato justo a prémio Nobel…

Por: Crispina Gomes Rodriguez*

Desde muito criança aprendi que a saúde é um bem precioso que deve ser preservadoe cuidado a todo o custo.

Pela vida fora, e já com responsabilidades políticas em Cabo Verde, meu país, fui entendendo a importância de se investir na melhoria das condições sanitárias destas frágeis ilhas e na valorização dos seus recursos humanos, sobretudo, na área da saúde.

Como repisava vezes sem conta Amílcar Cabral o pai da nossa nacionalidade, a saúde devia constituir um dos pilares do desenvolvimento do nosso arquipélago, uma vez livre da dominação estrangeira. Na verdade, ele mesmo tinha passado a sua adolescência e juventude numa das ilhas do pais e havia dado conta da pouca ou nenhuma atenção que o governo colonial dispensava ao povo caboverdiano em matéria de saúde.

Com efeito, não havendo nenhum hospital digno desse nome em Cabo Verde, era só ver as péssimas condições dos escassos postos de saúde existentes que atendiam os pacientes e a exiguidade do pessoal medico e de enfermagem. O número de mortes era grande, com especial relevo para as grávidas e recém-nascidos.

Assim, logo depois da independência nacional, o Governo de então começou decidiu apostar fortemente na saúde das populações, através da formação de pessoal médico e da construção de equipamentos sociais em todas as ilhas.

Para reforçar ainda mais a sua política sanitária, e uma vez estabelecidas as relações diplomáticas com a República de Cuba, imediatamente se deu início a uma profícua e exemplar cooperação na área da saúde com aquele país, cooperação essa que, felizmente, vigora até hoje. Graças a ela, centenas de médicos cubanos passaram e passam por estas ilhas, todos os anos, sendo justo reconhecer a dedicação e entrega incondicional desses profissionais na prestação de cuidados às populações. Não raras vezes ouvem-se elogios   a esta cooperação e reconhecemento aos medicos cubanos.

Nas minhas lides diplomáticas enquanto Embaixadora nesse país por quase oito anos, tive a oportunidade de conviver de perto com o seu povo e de testemunhar o quão verdadeiro é o sentimento de solidariedade e de humanismo que caracteriza as suas gentes.

Aprendi a apreciar e a respeitar a sua nobreza e simplicidade e pude constatar que o pessoal de saude com quem me privei procurava conhecer bem o seu paciente e sabia que era tão ou mais importante o aspecto afectivo que o curativo. Aliás é, exactamente, a forma carinhosa com que o pessoal médico cubano trata os pacientes no meu país, que de há muito conquistou os caboverdianos e as caboverdianas.

Cabo Verde, porém, esta longe de ser o único país a receber ajuda de profissionais de saúde cubanos. Efetivamente, há mais de cinquenta anos que este pequeno arquipélago caribenho vem respondendo com total entrega e dedicação a solicitações de mais de 150 países de todo o mundo com o único ojectivo de prestar a sua ajuda fortemente marcada por sentimentos de solidaridade e humanismo.

Para alem de enviar o seu pessoal medico para numerosos países, sobre tudo para os mais pobres, criou em 2005, o chamado Contingente Internacional de médicos especializados em situação de desastre e graves epidemias “Henry Reeve “.

Este Contingente tem por missão oferecer ajuda humanitaria médico-sanitaria às populacões de países víctimas de desastres naturais e epidemias e ajudar na sua recuperação.

A iniciativa de Cuba de criar este Contingente tem-se revelado das mais justas. Uma vez mais, se constata que muitas vidas humanas têm sido poupadas sempre que se solicita a sua presença.

O Contingente tem operado em varias regiões do mundo ajudando a combater epidemias, desastres e calamidades naturais e o que é mais importante, em tempo útil.

No nosso Continente, com o aparecimento de surtos simultâneos do vírus Ebola no República da Guinea, Guinea Bissau, Sierra Leona e Liberia (2014-2015) a situação sanitária rapidamente piorou, sobre tudo por se não se conhecer,verdadeiramente, o víruse ele se revelar,altamente, mortal.

Em colaboração com a Organização Mundial da Saúde, em menos de duas semanas mais de 5 mil médicos e enfermeros cubanos, membrosdo Contingente “Henry Reeve”, se oferece rampara, voluntariamente, para ajudar a combater a epidemia.

Finalmente, foram selecionados 256 profissionais de saúde que, com o risco da sua própria vida, participaram nessa cruzada para salvar vidas humanas.

Os días de hoje estão a ser marcados a nivel mundial pela Pandemia do Covid-19. Praticamente, nenhum país do planeta tem estado imune a esta grave enfermidade.

A pesar de a comunidade científica mundial, ainda, estar a estudar o virus e o seu tratamento, Cuba, uma vez mais, não hesitou. Rapidamente, o Contingente respondeu à chamada de ir cuidar dos pacientres do Covid 19, e não tempo upado esforços para levara sua ajuda humanitária, aos que dele necessitam. Nesta cruzada, talvez o caso mais paradigmático, seja a sua presença na Italia, infelizmente, conhecida por ter sido, depois da China onde surgiu o virus, um dos países mais afectados pela pandemia.

No meu país, bem como em varios outros, a presença do pessoal médico cubano desse Contingente tem constituido uma esperança no combate a esta terrivel e mortífera doença que segundo dados recentes, já atingiu mais de um milhão e noventa e três mil mortos e mais de 38,5 milhões de casos de infeção em todo o mundo.

Pelo breve testemunho que aquí apresento, acredito que Cuba e o seu Contingente Médico Henry Reeve são um justo candidato ao premio Nobel da Paz que será atribuido próximo ano.

Praia, 16 de outubro de 2020

*Ex-Embaixadora de Cabo Verde na República de Cuba

Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 686, de 22 de Outubro de 2020

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