Veterano do Exército, antigo professor de Inglês, pequeno empresário e “pai orgulhoso” entra na corrida para a Presidência da Câmara de Pawtucket, nos Estados Unidos da América (EUA). Norte-americano, David Norton de seu nome, confessa ter “um amor especial pela comunidade cabo-verdiana”, pelo que pede e espera merecer o voto dos emigrantes aí residentes. Membro do Conselho de Administração do Desenvolvimento Comunitário Americano-Cabo-Verdiano (CACD), em Pawtucket, conhece a Cultura das Ilhas, gosta de ouvir Morna e classifica Amílcar Cabral como “a figura mais significativa da História” do Arquipélago.
O norte-americano David Norton garante ao A NAÇÃO que, caso a sua Chapa “vencer Pawtucket”, os residentes cabo-verdianos beneficiarão social e economicamente.
“Socialmente, os EUA atravessam, actualmentec uma grave crise social, directamente relacionada com a identidade racial e étnica”, sustenta Norton, prometendo introduzir mudanças práticas na estratégia de policiamento comunitário.
A este respeito, o candidato promete substituir os agentes policiais nas escolas, por assistentes sociais qualificados e multilingues (Kriolu, Português, Espanhol e Inglês).
Economicamente, revela que pretende “acelerar a contratação de colaboradores multilingues”, em ordem a alterar as práticas de contratação.
“A alteração na contratação de funcionários multilingues, cria uma dinâmica que transforma as partes negligenciadas da nossa Cidade”, realça., notando que esta prática alimenta “um enorme problema social”.
Membro do Conselho de Administração da CACD, nos últimos três anos, Norton diz ter “aprendido muito” sobre Cultura, Comida, Arte e Dança cabo-verdianas.
“Gosto de ouvir Morna e ter ‘Hora di Café’ no nosso Centro Comunitário, aos domingos”, revela, remarcando que “Amílcar Cabral é a figura mais significativa da História cabo-verdiana”. Aliás, gosta de ler os seus escritos e aquela parte da História das Ilhas.
A maior parte da população estrangeira da Cidade é cabo-verdiana. “Perto de 30 por cento (%) da população de Pawtucket é de herança cabo-Verdiana. Estima-se que 80-90% da população cabo-verdiana de Pawtucket, provém da Ilha Brava – o que é incrível! -, tendo em conta que Brava conta com uma população aproximada de seis mil pessoas”, nota, estimando que há quatro mil cabo-verdianos residentes em Pawtucket.
Impacto de COVID-19
Pawtucket – avalia Norton – enfrenta enormes desafios sociais e económicos, tanto a curto como a longo prazo, pelo que gostaria de ajudar a moldar a estratégia para lidar com estas empreitadas.
“Enfrentamos não só uma crise de Saúde Pública -a longo prazo -, mas, provavelmente, a pior desaceleração económica das nossas vidas”, frisa, para acrescentar que “temos de nos preparar” para as significativas mudanças que estão a caminho.
Piscando o olho aos emigrantes cabo-verdianos, Norton considera que a Comunidade em Pawtucket “está a ser mais impactada do que qualquer outra pela COVID-19”, agravada pela perda de emprego.
“Sou um veterano do Exército, um antigo professor de Inglês, um pequeno empresário e um pai orgulhoso. Tenho uma visão diferente do Mundo do que muitos outros residentes de Pawtucket. Nasci e cresci em Pawtucket, mas passei grande parte da minha vida adulta a viver e a aprender no estrangeiro, designadamente, na Alemanha, Dinamarca, Chile e Japão”, apresenta-se, juntando que sua mulher e a filha são imigrantes, e que, ele próprio, foi imigrante no Japão, durante dez anos. Norton diz que, muitas vezes, sente-se que relaciona “mais com a comunidade imigrante, em termos de visão do Mundo” e experiência de vida. “Tenho um amor especial pela Comunidade Cabo-Verdiana em Pawtucket, tendo servido no CACD de Rhode Island, nos últimos três anos”, confessa.
“Política discriminatória”
Falando de questões sociais, o candidato considera que a sua “experiência de vida” e a sua “visão do Mundo” dizem-lhe que um Corpo de Bombeiros, “branco de 99%, numa cidade que é apenas 50% branco”, é indicativo da existência de “um racismo sistémico”.
E prossegue: “Isso é indicativo de uma grave falta de liderança, nos últimos dez anos, da actual Administração. É uma falta de ligação com a nossa Comunidade Cabo-Verdiana”.
Norton que tem “uma visão muito única” e que diz estar qualificado para a Presidência da Câmara de Pawtucket, imagina “uma Cidade que trata os residentes igualmente”, em termos de contratação e comunicação.
A “política discriminatória” não é visível só no Corpo dos Bombeiros.
“De acordo com o Relatório de Acção da actual Administração, os funcionários municipais, em todos os departamentos, são 94% brancos e estimo que 97% dos nossos educadores de escolas públicas são brancos”, ilustra, ajuntando que socorre de estimative, já que “o nosso Departamento Escolar nem sequer tem um Plano de Acção Afirmativo”.
Prometendo acabar com as “práticas discriminatórias”, caso ganhe a Câmara, Norton tem em agenda a reforma das práticas de contratação para os departamentos urbanos e escolares.
“Com a minha ligação e compreensão da Comunidade Cabo-Verdiana de Pawtucket e as habilidades linguísticas especiais da maioria dos cabo-verdianos que vivem em Pawtucket, prevejo acelerar a diversidade linguística e racial da força de trabalho da Cidade”, prognostica.
“Vidas Negras importam”
O candidato anuncia mudanças de Política e Cultura para abordar a questão das “práticas discriminatórias”, principalmente, em matéria de contratações.
“Na Cultura prevejo, anualmente, um evento de ‘Junhoteenth’ (Celebração da Liberdade Afro-Americana), patrocinado pela Cidade. Proponho, também, trabalhar em conjunto com o CACD, para acelerar a mudança social e cultural, que tantos residentes desejam”, avança, salientando que “as Vidas Negras importam”.
No domínio económico, Norton propõe uma Cidade que rejeita a utilização do dinheiro dos contribuintes para “projectos de tartes para investidores ricos”, fora do Estado.
“A minha Administração lutará para acabar com a imposição do Estado de um imposto sobre os carros, que é muito injusto”, salient, prometendo
“uma estratégia de desenvolvimento económico de baixo para cima, que apoie as pequenas empresas familiares”, com foco em bens e serviços especializados, que utilizam “as tradições e actividades culturais únicas e diversificadas”.
A sua visão para “esta estratégia de bens e serviços especializados”, inclui Arte, Música e Desporto cabo-verdianos, promovidos pela Cidade.
Bem-estar dos residentes
O candidato quer, também, uma Cidade que prioriza o bem-estar dos residentes, “em vez dos interesses dos promotores ricos”.
Para tanto, imagina uma urbe onde o dinheiro dos impostos é usado para os Bombeiros, preparação de emergência, habitação acessível, escolas, entre outros equipamentos, que servem, verdadeiramente, aos mais carenciados, contrapondo, assim, à construção de “locais de entretenimento para pessoas ricas”.
“As minhas prioridades serão sempre ajudar os nossos residentes mais vulneráveis, tanto na questão social, como económica”, remata o pretendente à Câmara de Pawtucket.
publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 670, de 02 de Julho de 2020