Erico Fortes é um jovem santantonense que vem desenvolvendo um trabalho inovador na área da automação e robótica adaptada ao sector agrícola através da construção de drones. Apesar de ser uma área ainda pouco explorada em Cabo Verde, este empreendedor quer mostrar que é possível criar alternativas locais para os desafios do país.
Erico Fortes é natural do concelho do Porto Novo, em Santo Antão, mas é na ilha de São Vicente que reside e divide o seu tempo entre a docência na Universidade de Cabo Verde (UNI-CV) e a sua empresa, Prime Botics que começou as suas actividades na área da robótica em 2019.
As primeiras produções da Prime Botics, criada há pouco mais de um ano, não tardaram e há já algum tempo que são do conhecimento do público em geral.
Utilização na indústria agrícola e reflorestação
A empresa produz drones, que futuramente serão inseridos na indústria agrícola e reflorestação. Basicamente, estes dispositivos estão a ser preparados para utilizar o mecanismo de pulverização de pesticidas e fertilizantes para distribuir desinfestantes em possíveis áreas contaminadas.
Também poderão ser usados no transporte rápido de espécimes para análise, materiais médicos, medicamentos, de entre outros bens, para populações isoladas. Os planos para estes equipamentos são vários, mas daqui até que estes venham a ser uma verdadeira realidade nacional, Erico Fortes quer aperfeiçoá-los.
Neste sentido, em declarações ao A NAÇÃO, o jovem avançou que, por enquanto, está a trabalhar e a fazer ajustes nos drones. Espera efectuar testes com resultados satisfatórios de modo a que possa dar o seu contributo ao país.
“Ainda estou a fazer os testes porque não trabalho só na Prime Botics. Tenho o meu trabalho ‘full time’, porque dou aulas na Universidade de Cabo Verde e, neste momento, acabei por assumir outras responsabilidades na universidade que me ocupam muito o tempo”, revela.
Apesar de ter construído a sua empresa com o apoio da fundação Tony Elumelu, o financiamento dos seus projectos depende do seu salário enquanto docente e isso, a par da falta de mais tempo, tem impedido que este empreendedor se foque a 100% na empresa.
Interesse e curiosidade
Desde que os trabalhos de Erico Fortes foram dados a conhecer, há alguns meses começaram a surgir interessados e curiosos e, actualmente, está a trabalhar num projecto para um cliente.
O jovem possui já quatro drones, sendo três de grandes dimensões. O maior consegue transportar até cinco quilogramas. O tempo de construção depende da natureza do drones, das peças a serem utilizadas e da sua finalidade.
“Um drone, simplesmente para voar, é muito mais fácil de construir. Primeiramente, é preciso garantir a parte de hardware e software para fazê-lo voar. Mas, já se for para outro tipo de tarefas, isso já pede outros componentes. Um drone maior consegue transportar cinco quilos e o mais pequeno dois quilos. Os mais pequenos normalmente não são para transporte de cargas”, explica.
Os drones construídos por Erico Fortes ainda não têm um valor de mercado, porque durante a fase de testes, na qual os projectos se encontram, há muita coisa a ser ponderada. Desde logo, a disponibilidade de materiais no mercado nacional e o seu custo, sem falar nas exigências do cliente.
Área pouco explorada
A automação e a robótica constituem uma área ainda pouco explorada em Cabo Verde. Entretanto, nalguns liceus do país tem sido feito um trabalho n sentido de fomentar o interesse de jovens por ela. Entre 2017 e 2019, alunos da Escola Industrial e Comercial do Mindelo (EICM), bem como do Liceu Ludgero Lima, participaram em dois concursos internacionais de robótica.
Com a criação da Prime Botics, Erico Fortes pretende fazer a sua parte no que tange ao desenvolvimento de soluções tecnológicas para colocar Cabo Verde no mapa do sector da automação e robótica.
“É preciso mostrar que temos soluções reais para problemas reais aqui no país, de modo a que não tenhamos necessidade de ir buscar lá fora. Se pudermos ir buscar lá fora é bom, mas porque não criar aqui dentro também. O objectivo é criar soluções a nível local”, diz.
Caso o projecto desenvolvido por este jovem singre, os agricultores e as organizações governamentais ligadas à agricultura e educação em Cabo Verde, poderão passar a contar com mais um recurso no trabalho que desenvolvem.
Publicado na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 673, de 23 de Julho de 2020