Por: Alcindo Amado
O Primeiro Ministro tem o dever e a obrigação de avaliar o desempenho da sua equipa, e sempre que necessário, fazer as remodelações possíveis, de forma a dotar o Executivo de melhor know-how e competência
Se realmente existiram agentes de mudança política que, nos últimos anos, provocaram a tão desejada alternância de poder em Cabo Verde, fui um deles, acredito.
Durante as três últimas Legislaturas, passei a minha vida escrevendo para os jornais da praça, denunciando os desmandos do Executivo, que já ia no seu terceiro mandato consecutivo.
Naturalmente que, de forma alguma, posso compactuar com a manifesta incompetência do actual Governo em gerir os destinos do nosso país. Não há forma de acertar o passo.
Não sou “hipócrita”! Escrevo para as pessoas lerem, pelo que tenho que ter seriedade naquilo que digo.
Profunda decepção
Estamos profundamente decepcionados com o fraco desempenho do actual Governo, apoiado pelo MpD, partido cujos princípios ideológicos sempre defendi.
A minha justiça começa em casa, pelo que é meu dever, na qualidade de cidadão “atento”, apoiar tudo o que de bom se faz para Cabo Verde, independentemente da cor política do Governo, assim como, é minha obrigação, moral e cívica, criticar os desmandos do actual Executivo.
Fiz tudo o que esteve ao meu alcance, para que o MpD chegasse ao poder. Eu nem quero acreditar no que está passando em Cabo Verde. A minha desilusão atingiu os limites. Já dei tempo de mais ao tempo. Não posso continuar calado.
A minha percepção é que o actual Primeiro Ministro poderá estar sendo induzido a erros pelos bajuladores que, salvo algumas excepções, integram a nossa Maioria Parlamentar. Se esses tais Deputados da Nação passam a vida a bajular, batendo palmas e parabenizado o fraco desempenho de alguns membros do Governo, é claro que o Primeiro Ministro fica à vontade, partindo do princípio de que, na verdade, tudo vai às mil maravilhas.
Infelizmente, no nosso Parlamento, ninguém critica nada. A nossa Bancada Parlamentar deve sim defender os ideais do Partido que sustenta o Governo e, sobretudo, apontar os erros de governação cometidos, trazendo subsídios que possam contribuir para melhor performance do Executivo.
Remodelação do Executivo
Todavia, o Primeiro Ministro tem o dever e a obrigação de avaliar o desempenho da sua equipa, e sempre que necessário, fazer as remodelações possíveis, de forma a dotar o Executivo de melhor know-how e competência.
Se, de facto, este Governo pretende ser reeleito nos próximos embates eleitorais, o Primeiro Ministro deve livrar-se, quanto antes, dos “faz de conta” que o rodeia, e manter por perto pessoas que tenham coragem de o advertir quando erra. Só assim, em tempo útil, poderá reparar os erros cometidos pelo Executivo, e renovar a confiança do povo.
Povo exige explicações sobre dossiers secretos
O povo destas ilhas exige explicações sobre vários “dossiers secretos”, nomeadamente a: TACV/CVA, Cabo Verde Inter/Ilhas, a Injustiça da Justiça, a Segurança Jurídica, o Desemprego Galopante, a Corrupção Institucional, a Descentralização Administrativa, os Salários Milionários versus Salários de Miséria, a nossa Economia de Mercado, o Odenamento Rural e a Gestão das Barragens, etc.etc.
É muita coisa para se resolver no curto espaço de tempo que nos separa das próximas Eleições Legislativas.
Ademais, começamos a ter sérios indicadores de descontentamento generalizado da população. A pesada derrota sofrida pelo MpD nas últimas Autárquicas pode ser o princípio do fim.
Como é possível um Partido no Poder perder o seu Quartel-general, e passar a operar em território adversário?
Não há explicação que satisfaz. A Câmara Municipal da Praia é o “símbolo” do Poder para qualquer Partido Político.
Próximas Eleições Legislativas
Com o andar da carruagem, tudo indica que, nas próximas Legislativas, o MpD perderá nos municípios da: Praia, São Vicente, São Filipe, Santa Catarina do Fogo, Mosteiros, Ribeira Grande de Santiago, Tarrafal de Santiago, São Domingos, Santa Cruz, Boa Vista, e eventualmente Santa Catarina de Santiago.
Para se perder as Eleições Legislativas, basta perder nos municípios de São Vicente, Praia, Santa Catarina de Santiago e São Filipe.
Precisa-se trabalhar seriamente, no sentido de contrariar essa tendência, repensando a forma de melhor governar Cabo Verde, fazendo mais e melhor com menos.
Não se pode permitir que, num país tão pobre como Cabo Verde, tenhamos um “Governo de Luxo” e pessoas a viver no lixo. Basta de tanta imoralidade.
O habitual abraço de fraternidade a todos, de Santo Antão à Brava.
Mindelo, 11 de Novembro de 2020
Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 689, de 12 de Novembro de 2020
