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Coronavírus “versusS”: Covid19 Perfil de um vírus

Por: Lucas Monteiro

(Primeira parte)

O novo corona vírus surpreende pela sua elevada taxa de letalidade, desenvolvimento camuflado, contágio de proximidade relativamente fácil (salpicos de saliva projetados).

Desde a sua primeira manifestação na cidade chinesa de Wuhan (11 milhões de habitantes) em Dezembro de 2019 a epidemia desencadeada pelo Covid19 transpôs célere as fronteiras da Republica Popular da China já com o estatuto de pandemia, disseminando-se por toda a parte, contagiando milhares de pessoas e semeando a morte silenciosa entre os mais velhos, infelizmente o grupo etário que faz a ponte necessária entre o mundo de ontem e as novas gerações. 

Quem imaginava que um vírus, embora perigoso, pudesse provocar uma catástrofe sanitária de pesada magnitude à escala mundial, com débitos impressionantes de gente infetada e óbitos alarmantes, em que raro é o país que ficou de fora nas diferentes latitudes.

Os cineastas, por esse mundo fora, talvez não tivessem tido coragem de inventar cenários dantescos de países fechados a cadeado, cidades de um outro mundo com ruas desertas, missas de fiéis defuntos celebradas via Skype e filas intermináveis de féretros que ninguém acompanhou até a última morada, coisas enfim não imagináveis na fronteira de um filme de terror aos olhos de um espetador que nada percebe do enredo. 

Nos tempos bíblicos, o profeta Jeremias, considerado o primeiro pacifista da Historia, que antevia os sinais de muitas provações, não teria esperado outro momento para conclamar aos quatro ventos o triste epílogo da família humana, apanhada de surpresa e expulsa temporariamente do “paraíso” pela espada de um inimigo, aparentemente invisível, e sujeita aos constrangimentos de circunstância nos apertados espaços confinados onde aguardará impaciente dias melhores ou talvez desafios outros não programados.

Destino imerecido, não há dúvida. Tal como no século VII antes da era cristã, ainda hoje em pleno século XXI as nações poderosas da Terra estão procurando sua destruição mútua, fingindo ignorar a verdade latente, segundo a qual a vida no Planeta Azul depende exclusivamente da sobrevivência do mundo natural, que é insubstituível. E por essa mesma razão o ser criado não substitui o criador.

O estranho no meio de tudo isso é que o novo micróbio parece transmitir a ideia inocente de um filho de falcão caído do ninho ao acaso, mas pode muito bem ser a ponta emersa de um iceberg. Mais estranho ainda são, em parte, algumas das suas manifestações idênticas às da Peste Negra ou Pneumónica, a qual surgiu no século XIV no deserto de Gobi na Mongólia e voltou à carga no século seguinte penetrando na Europa onde ceifou milhares de vidas; há quem já o tenha rotulado de doença emergente, inimigo invisível e pirata, sendo que este último estigma assenta-lhe como uma luva.

Sabe-se que um vírus é um princípio de doenças contagiosas, invisível à vista desarmada, filtrante, capaz de atravessar filtros de porcelana, detetável ao microscópico eletrónico e cuja dimensão é inferior a 0,2 µm. Alguns virologistas, que têm estado a observar nos laboratórios a nova doença e as suas complicadas involuções, são de opinião que este microrganismo patogénico, extremamente perigoso, ataca os indivíduos da coletividade humana instalando-se preferentemente nos pulmões onde tenta paralisar as vias respiratórias da vítima substituindo parte do material celular pela sua própria proteína letal. 

Até que surja uma vacina eficaz contra o novo micróbio, o combate à pandemia continua a ser feito com medidas de cerco ou cordão sanitário que incluem o estado de emergência, a quarentena de pessoas suspeitas de serem portadoras passivas do vírus, isolamento dos infetados, confinamento e distanciamento social para impedir contágios de proximidade, utilização de máscaras sanitárias, além de outras práticas de profilaxia e de segurança epidemiológica para evitar recidivas e outras surpresas desagradáveis. 

Num espaço de tempo nocivo à saúde do ser humano, isto é, no período de Dezembro de 2019 a Abril de 2020 a vida humana foi fortemente abalada e ameaçada mortalmente, com repercussão dramática na sociedade e nos negócios, quer a nível de cada país afetado pela pandemia, quer a nível internacional e global. 

A pandemia paira como uma sombra negra e o vírus não desaparece de todo; as suas sequelas já estão de portas a dentro sem solução a curto prazo. De repente tudo mudou. O quotidiano de cada cidadão, a vida social exigindo de todos um esforço de adaptação às novas circunstâncias na família, no emprego, indústrias e serviços.

O momento seguinte à pandemia não será de interrogações, mas sim de decisões corajosas.

Mindelo, 15 de Junho de 2020. 

(Publicado no A NAÇÃO (pdf), nº 668,  de 18 de Junho de 2020)

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