Os familiares do italiano David Solazzo, encontrado morto no dia 1 de Maio de 2019, na sua residência em São Filipe, ilha do Fogo, alegam que até agora não receberam quaisquer informações sobre a investigação do caso, que na altura foi classificado como um “trágico acidente doméstico”.
David Solazzo, de 31 anos, foi encontrado sem vida, no banheiro do seu apartamento, após sofrer uma hemorragia letal, derivado de um corte. Passado mais de um ano após a ocorrência, as investigações iniciadas pelo Ministério Público ainda não foram encerradas, segundo apontam os familiares.
Por intermédio da namorada, Marija Tošić, a família da vítima diz não acreditar na versão de um “trágico acidente doméstico”, justificando que “muitas coisas não combinam”.
Para Marija, a tese equacionada na altura, de que David teria partido o vidro da entrada porque não tinha a chave de casa não é admissível, já que as chaves estavam na porta do piso superior. Outra situação estranha é o facto de, na versão dos familiares, o vidro ter sido partido desde o interior do corredor, o que levanta a hipótese da presença de outra pessoa no momento do ferimento.
“São muitas as dúvidas. Se a Procuradoria de Cabo Verde está assim tão segura que foi um acidente doméstico, porque depois de mais de um ano as investigações ainda estão abertas”, questiona Marija Tošić.
“A reconstrução apressada e simplificada do “acidente doméstico” nunca convenceu a família de David”, referiu a mesma.
Por outro lado, avança, a Procuradoria continua na posse do material pessoal e de trabalho da vítima, nomeadamente computador, câmera e telefone, sem no entanto informar o que está procurando.
A namorada estranha ainda o facto da conta de Whatsapp de David ter sido eliminada, em Setembro de 2019, enquanto o seu telefone está com as autoridades.
- MARIJA TOŠIĆ
- David Solazzo
Autoridades italianas abriram linha de investigação por homicídio voluntário
Depois de ter visualizado o vídeo e as fotografias da casa e do local onde o corpo foi encontrado, a Procuradoria de Roma começou uma investigação com base na hipótese de homicídio voluntário.
“Com todo o sangue encontrado na casa e todas estas dúvidas, pode ser um homicídio, por isso queremos a verdade e estamos a pedir mais atenção na investigação e mais determinação no trabalho da Procuradoria e das Instituições locais”, referiu Marija Tošić.
Questionada se há alguma razão para se pensar em homicídio, esta diz que é da responsabilidade das autoridades judiciais de São Filipe fazer a reconstrução dos factos para encontrar razões, mesmo sabendo que a vítima não tinha inimigos e que trabalhava na implementação de um projeto de turismo agro-ecológico.
“É por isso que a família quer a verdade e mais informações sobre a investigação”, rematou.
No entanto, segundo explica, a falta de informação está a bloquear a investigação em Itália, já que o único documento disponível é o resultado geral da autópsia realizada em Cabo Verde, que também foi feita em Itália.A família teve conhecimento geral do resultado da autópsia realizada em Cabo Verde, mas ainda não dispõe do relatório detalhado de análises clínicas, que foi solicitado pelas autoridades italianas.
Diante deste impasse, a família levanta a possibilidade de ter acontecido algum “imprevisto” que mudou o rumo da investigação.
Até hoje a família mantém o apartamento, na esperança de se proceder à investigação no seu interior e descobrir alguma coisa. “Não é mais aceitável este silêncio que está a bloquear as investigações em Itália”, observa a companheira da vítima.
Contatada pelo A NAÇÃO, em São Filipe, a Procuradoria remeteu os esclarecimentos para a Procuradoria Geral, na Praia. Apesar de várias tentativas, não foi possível saber, junto das autoridades, em que pé está a investigação neste momento.
