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Política

Com pandemia quase nenhuma vitória está garantida

Pela primeira vez, em Cabo Verde, uma disputa eleitoral decorre num ambiente de crise pandémica. Uma contingência geradora, por si só, de muitas incertezas. Sem comícios, nem grandes aglomerações, com recurso às redes sociais, as candidaturas mais modestas acabaram por se agigantar. De tal forma que se torna difícil, nalguns municípios, prever quem são os vencedores antecipados.

A campanha para as eleições autárquicas de hoje, 25 de Outubro, tem sido atípica e, com as restrições sanitárias impostas para conter a propagação da covid-19, as candidaturas mais modestas acabam por se agigantar.

Previamente, tendo em conta a gravidade da situação sanitária criada pela covid-19, esperava-se que isso fosse impor novas formas de fazer campanha em Cabo Verde. Sem comícios, grandes arruadas e batucadas, os meios virtuais foram apontados, inicialmente, como alternativas às grandes concentrações, nomeadamente comícios e acções de porta-a-porta. Acontece, porém, que a infoexclusão obrigou os partidos a voltarem ao sistema primitivo, optando por acções de rua, contactos directos com os eleitores e até mesmo a realização de comícios camuflados.

Instados pelo A NAÇÃO das razões que os levaram a não cumprir o Código de Conduta, que estabelece um conjunto de normas de segurança sanitária, alguns dirigentes foram perenptórios em afirmar que a candidatura que não aglomerar os seus apoiantes e não fizer campanha porta-a-porta “dá um sinal claro de fraqueza”.

Contudo, a Comissão Nacional de Eleições (CNE) considera que os partidos políticos e as candidaturas independentes “não estão isentos de responsabilidades criminais por violação” dos direitos dos cidadãos à saúde e à vida.

Impotente, na verdade, a presidente da CNE acusa os partidos de estarem a violar as restrições impostas para a campanha autárquica que termina na sexta-feira. Maria do Rosário Pereira fala mesmo em “violação clara” de normas sanitárias e do Código de Conduta subscrito pelas candidaturas. As consequências dessa violação, essas, é que são difíceis de se ver.

Redes sociais

Porém, a relevância da campanha virtual não foi descartada, essencialmente pelas candidaturas independentes, que não conseguem competir com os dois partidos do arco do poder em termos de meios financeiros, materiais e humanos. Actualmente, com o desemprego, até os jovens que transportam bandeiras, ou ajudam a fazer o “grupo” de cada força concorrente, recebem por esse “trabalho” de ocasião.

Se para os independentes as redes sociais constituem veículos para fazer passar as suas mensagens, o mesmo não se pode dizer em ralação aos partidos políticos, nomeadamente o MpD e o PAICV, que se aproveitam dessas plataformas para fazerem uma guerra de sondagens e um espaço para lançar notícias falsas sobre candidaturas adversárias.

As sondagens, que muitas vezes são lançadas de forma aparentemente sistematizada, acabam por colocar a sua credibilidade em causa, por falta de dados fiáveis em relação à ficha técnica.

Por outro lado, há os comissários políticos e franco-atiradores que lançam dados para o ar dando como certa a vitória de uma determinada candidatura, quando só as urnas poderão dizer quem ganha e quem perde uma disputa eleitoral.

Essa “intoxicação” baralha e desorienta ainda mais os eleitores menos avisados, que acabam por ficar indecisos e, perante os perigos da pandemia da covid-19, preferem ficar em casa engrossando as fileiras da abstenção que, nestas eleições, poderão ser expressivas.

Sondagens para todos os gostos

As incertezas relativas a estas eleições, por causa da pandemia da covid-19, obrigam as candidaturas do arco do poder a procurarem novas formas de convencer o eleitorado.

E um desses mecanismos são as sondagens que proliferam nas redes sociais, sem qualquer credibilidade e com prognósticos que sempre favorecem a falange de apoio de determinadas candidaturas. Quase sempre dão vitórias contundentes, conforme o gosto do freguês.

Assim sendo, as “sondagens” produzidas por apoiantes do PAICV prognosticam uma forte recuperação desse partido em relação às autárquicas de 2016, com a conquista de mais de metade das Câmaras Municipais.

Nas “projecções” do MpD, este partido deve manter o status quo em relação às anteriores eleições, ou até mesmo o reforço desse score, tendo em conta a possibilidade de conquista de duas Câmaras Municipais que estão com independentes.

Mas quem tentou dissipar essas dúvidas foi o deputado Miguel Monteiro que, na última sessão parlamentar, foi taxativo ao afirmar que a líder do PAICV, Janira Hopffer Almada, vaticina recuperar nove Câmaras Municipais, mas que os dados que detém dão apenas cinco Câmaras para o maior partido da oposição.

Incógnitas, abstenção e abstencionismo

É bem provável que estas eleições venham a registar o maior índice de sempre de abstenção e absentismo, isto é, gente que não irá votar. Uns por receio da covid-19, outros porque deixaram, simplesmente, de acreditar nos actores políticos.

São Vicente

Em Santo Antão poderá não haver surpresas, mas em São Vicente, a disputa está mesmo renhida entre o MpD, PAICV, UCID e o grupo independente, “Mas Soncent”.

As quatro candidaturas na Ilha do Monte Cara têm dado sinais de muita garra na caça ao voto e é bem provável que haja uma divisão da Câmara Municipal. Aliás, o histórico eleitoral de São Vicente mostra que sempre que o quadro se adensa, isso acaba por ter reflexos na composição do executivo camarário.

Ainda em São Vicente, uma das grandes questões é saber como é que o PAICV se irá comportar, isto é, se recupera terreno depois de, em 2016, ter sido ultrapassado pela UCID, caindo para a terceira posição numa ilha onde chegou a dar cartas.

São Nicolau, Sal e Maio

Em São Nicolau a disputa também é renhida e todos os cenários estão abertos. Na Ribeira Brava, tanto o MpD como o PAICV tentam reconquistar a Câmara que neste último mandato esteve nas mãos de um independente. No Tarrafal, o MpD está a fazer uma luta titânica para manter o poder, enquanto o PAICV tenta uma alternância com um candidato vindo da diáspora, o médico João Soares.

No Sal não deverá haver surpresas, com Júlio Lopes a manter-se como presidente da Câmara nos próximos quatro anos. Mas já não se pode dizer o mesmo em relação à Boa Vista, onde a disputa parece estar cerrada entre o MpD e o PAICV.

No Maio, as coisas parecem ser mais pacíficas com a possibilidade de Miguel Rosa se manter à frente dos destinos da Câmara por mais quatro anos, não fosse Maio uma ilha nunca governada pelo PAICV.

Santiago, o grande palco

Mas é em Santiago, ilha que comporta nove municípios, onde as incertezas mais que abundam. No Tarrafal, onde o MpD foi sempre poder, há uma forte possibilidade de alternância ou então de divisão da Câmara. Celso Ribeiro, o escolhido dos ventoinhas para substituir José Soares, tem pela frente três adversários: José dos Reis (PAICV), Holden Duarte (UCID), Domingos Semedo (Unidos por Tarrafal), e Cláudio Sousa (Movimento Independente Tarrafal). A pergunta aqui é: quem sairá a ganhar com a dispersão de votos e abstenção.

Em Santa Catarina, a candidatura independente de Félix Cardoso baralhou as contas de Beto Alves e do MpD e há sérios riscos dessa Câmara ir parar às mãos do PAICV, através de Armindo Freitas. Beto Alves conta ainda com a concorrência da UCID, liderada por Neida Rompão.

Em São Miguel é provável que haja uma renovação do mandato de Herménio Fernandes, do MpD, e o mesmo se pode dizer em relação a Santa Cruz, onde tudo aponta na renovação do mandato de Carlos Silva, do PAICV.

Em São Lourenço dos Órgãos e em São Salvador do Mundo também há incertezas em relação ao vencedor das eleições de domingo. Nos Órgãos estão frente a frente Carlos Vasconcelos (MpD) e António Fernandes (PAICV). Nos Picos, Ângelo Vaz (MpD) concorre à sua própria sucessão, enquanto João Alberto de Barros tenta recuperar a Câmara para o PAICV.

São Domingos, que esteve sempre nas mãos do MpD, é também palco de uma disputa cerrada. A candidatura independente “Ami é San Domingus”, liderada por Nilton Paiva, deputado ventoinha, também baralhou as contas do partido no poder. Clemente Garcia, que concorre à sua própria sucessão, tem desta feita um duro trabalho no sentido de travar o ímpeto dos seus adversários, principalmente, o PAICV que concorre com uma candidatura liderada por Isaías Varela.

Praia, como sempre, é um dos municípios mais apetecíveis neste tipo de disputa eleitoral. Oito candidaturas, quatro partidárias e outros tantos independentes, concorrem nestas eleições. Óscar Santos (MpD), que concorre à sua própria sucessão, conta com a forte oposição de Francisco Carvalho (PAICV), Francisco Silva (UCID), Amândio Barbosa (PP), Any Reis (Sociedade Civil), Carlos Lopes (LUTA), Jeremias Garcia (MPJT) e Denise Tavares do “Dja Sta Bom”.

Na Ribeira Grande há também uma disputa renhida entre dois estreantes: Domingos Mendes (MpD) e Nelson Moreira (PAICV), que tenta conquistar Cidade Velha pela primeira vez.

Ilha do Fogo

Contudo, nestas eleições autárquicas as atenções concentram-se na ilha do Fogo. O MpD tenta conservar, a todo o custo, as duas câmaras conquistadas, pela primeira vez, em 2016, enquanto o PAICV faz uma forte investida para recuperar o seu outrora bastião.

Em São Filipe, o antagonismo é claramente entre Jorge Nogueira (MpD) e Nuías Silva (PAICV), já que a candidatura da UCID, liderada por Pedro Ribeiro, não tem mostrado gás suficiente para alterar o quadro de disputa bipolar nesse concelho.

Nos Mosteiros, o PAICV tenta manter essa Câmara perante a investida do MpD que apostou todas as suas fichas em Lourenço Lopes, que volta a concorrer nesse município depois do fracasso registado em 2000, para poder tentar conquistar um dos principais redutos dos tambarinas.

Aqui, nos Mosteiros, na impossibilidade de contar com o edil Fernandinho Teixeira, o PAICV tenta fazer uma mudança na continuidade, apostando em Fábio Vieira, vereador e que tem sido um dos principais rostos da Câmara nos últimos anos.

Para reconquistar Santa Catarina, o PAICV lançou o “veterano” Eugénio Veiga. Depois de vários anos em São Filipe, Veiga resolveu atacar Santa Catarina, concelho de onde é natural e foi deixando marcas da sua “governação” no tempo em que Santa Catarina era parte integrante de São Filipe. Alberto Nunes, do MpD, concorre à sua própria sucessão também num contexto de incertezas, isto tendo em conta que em 2016 a diferença de votos que lhe deram a vitória não foi grande.

Brava

Na Brava, onde a campanha parece estar a correr de forma muito pacífica, tudo aponta que essas eleições autárquicas não são favas contadas para nenhumas das candidaturas. Aqui, a diferença de votos entre o MpD e o PAICV também nunca foi grande. Francisco Tavares, que substituiu Alfredo Balla logo após as eleições de 2016, vai ter pela frente o deputado do PAICV Clóvis Silva que aposta todas as fichas para a reconquista da Ilha das Flores.

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