Nas eleições autárquicas deste domingo, 25, pela primeira vez na história de Cabo Verde, os invisuais podem votar sem a ajuda de terceiros, através de matrizes em braille. O invisual Carlos Mascarenhas volta a exercer o seu direito de escolha, depois de ter recuado há alguns anos, por falta de confidencialidade.
Para Carlos Mascarenhas, esta iniciativa é bem-vinda e chega depois de muita reivindicação.
“É um ganho grande, nada mais, nada menos, do que a concretização de um direito que estava consagrado há muito tempo”, aponta.
Para este eleitor, para além de violar o secretismo do seu voto, fazê-lo através de outra pessoa não lhe dava garantias de que a sua escolha e decisão eram respeitadas no voto.
Por causa dessa insegurança, Carlos deixou de votar há alguns anos. Agora, nestas eleições volta a exercer o seu direito, de forma autónoma e secreta. Uma alegria imensa, um ganho enorme. “Representa uma vitória para os invisuais”, sublinha.
ADEVIC aponta nova era democrática
A Associação dos Deficientes Visuais de Cabo Verde (ADEVIC), que nos últimos dias esteve no terreno, na ilha de Santiago, para a realização de testes e instrução de eleitores, também congratula esta iniciativa.
Para Marciano Monteiro, secretário executivo da ADEVIC, o principal ponto a destacar é a garantia do direito ao voto secreto.
“Podemos perfeitamente falar numa nova era democrática, tendo em conta que é a primeira vez que isto acontece na história de Cabo Verde, um país democrático”, sublinhou.
Não obstante a importância deste marco, Marciano Monteiro recorda que nem todos dominam o braille e reforça o apelo à educação neste sentido, para que, num futuro próximo, todos os invisuais possam ter este direito garantido.
“Nós sempre apelamos, sobretudo aos jovens, para a importância de estudar e aprender o sistema braille”, apela.
No que toca à matriz tátil utilizada neste domingo de eleições, Marciano Monteiro diz que foi feita uma adequação que irá servir, tanto para as pessoas que sabem ler o braille, como também para as pessoas que não sabem ler, mediante uma orientação prévia.
“Infelizmente, por uma questão de tempo, não conseguimos chegar ao país inteiro, para passar as orientações para a utilização da matriz”, lamenta.
A matriz tátil em braille contém quadrados com alguma saliência para que o eleitor consiga identificar o candidato e votar corretamente no quadrado destinado à votação.