Os agentes da Polícia Nacional foram chamados, uma vez mais, para intervirem no sentido de evitar o desrespeito do distanciamento social e aglomeração junto das mesas das assembleias de voto na Escola Secundária Regina Silva em Achadinha por parte de elementos ligados aos dois maiores partidos, o MpD e o PAICV.
“É a segunda vez que as forças policiais estão a intervir aqui. As pessoas principalmente os delegados e candidatos dos partidos não estão a colaborar e estão constantemente a arranjar conflitos desde o período de manhã”, diz Sónia Cabral, delegada das assembleias de votos em Achadinha, Bairro, Várzea e Eugénio Lima, recordando os momentos tensos vividos nas primeiras horas de votação.
“Não estão a respeitar o distanciamento. Os delegados devem entrar um de cada vez para fazer as rondas e devem substituir um ao outro. No entanto, não respeitam, não colaboram e cada partido fica a reclamar pelo seu lado”, acrescenta. Sónia Cabral diz que, de todas as mesas de votos sob sua responsabilidade, esta de Achadinha tem sido a mais agitada.
Ouvidos pelo A NAÇÃO, os delegados dois maiores partidos (MpD e PAICV) que alegadamente estiveram envolvidos na situação registada, defendem-se, apresentando também os seus pontos de vista.
Manuel Teixeira, Delegado do Círculo Eleitoral do PAICV, disse que desde as primeiras horas que esta eleição tem trazido um conjunto de problemas ao seu partido.
“O primeiro problema é que nós não recebemos a lista definitiva da mesa. No entanto, a delegada do círculo eleitoral do MPD, muito conhecida em Achadinha pela sua cor partidária, chegou aqui com a lista e fica a pôr todas as pessoas que quer na mesa. Eu vim tão-somente com a lista que mandamos como proposta para a CNE para pôr as nossas pessoas na mesa e a CNE não aceita e diz que aqueles nomes não constam na lista definitiva. Isso não pode ser”, contesta Manuel Teixeira, reafirmando que os problemas que prejudicam o seu partido começaram desde ontem.
“Ontem uma menina do pensamento foi chamada por uma delegada da CNE a fim de recolher a urna e, quando lá chegou, uma outra menina do MpD disse que ela é que vai ficar com a urna porque foi à formação e que está mais capacitada. E foi ela a ficar com a urna”, afirma.
Por seu turno, Maria do Carmo Semedo ou “Carminha”, Delegada de Círculo Eleitoral do MPD, contesta que “o PAICV já passou muitas credenciais às suas “bocas de urna” para entrarem e ficarem em frente às portas. Estamos em plena pandemia. Estamos a pedir e a negociar para que apenas duas pessoas fiquem cá dentro e nada mais. Mas eles querem que todos fiquem na porta”.
Justificando a questão da lista das mesas, a nossa entrevistada esclarece o seguinte: “Eu tenho a lista provisória que a CNE publicou e foi ideia minha imprimir e traze-la comigo. A CNE não tem nada a ver com isso. Cada partido tem a sua forma de arranjar a sua lista. Por exemplo, nós temos o caderno de 2016. Podemos procurar nele os nossos votantes e mais nada”.
Carminha diz que os delegados e candidatos do PAICV “não querem respeitar as regras” e que quando as autoridades foram acionadas para intervir “dizem que estão a ser parciais”.
Liga da Sociedade Civil protesta contra a situação
Presente no local, um dos representantes da Liga da Sociedade Civil, que também é uma das listas concorrentes à Câmara Municipal da Praia, manifestou-se insatisfeito com a situação e protestou:
“Estamos a verificar o velho hábito dos partidos que não respeitam as decisões da CNE, posicionando-se nos arredores das mesas de voto a fazerem pressão e dando indicações em quem devem votar. Isto sem falar da aglomeração e desrespeito ao distanciamento social. Não estão a respeitar a pandemia e estão a contribuir para juntar as pessoas. É uma situação triste de ver”.
Segundo Jair, estes partidos com mais anos de estrada na política deveriam ser os primeiros a dar o exemplo. No entanto, não estão a fazer isto pelo que “é lamentável uma situação dessas, em que onde os votos estão sendo colocados acima da vida das pessoas”.
Após a intervenção de seis agentes da Polícia Nacional, ficou decidido que cada partido teria de cumprir com as medidas de “fiscalização” proposta pela CNE e que os votantes não deviam permanecer no recinto após exercerem os seus direitos de voto.
“Depois que acionamos as forças policiais conseguimos reverter a situação finalmente estabilizamos. Agora, os agentes estão na porta e a partir de agora, só vão ficar aqui dentro um delegado e candidato de cada partido e as pessoas que já votaram vão sair para dar espaços a outros. Vamos a todo o custo fazer com que respeitem todas as regras, incluindo as sanitárias”, finaliza Sónia Cabral.
Tendo permanecido no local por mais algum tempo, o A NAÇÃO constatou que a situação de aglomeração ao redor das mesas das assembleias deixou de acontecer. No entanto, ficou por resolver a aglomeração fora do recinto escolar que tão pouco respeitava o distanciamento social.
Na Escola Secundária Regina Silva em Achadinha, arredores e bairros limítrofes, constam 51 mesas de assembleias de votos, sendo 14 em Achadinha Cima, 7 em Achadinha Baixo, 4 no Bairro, 16 em Eugénio Lima e 10 na Várzea.