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Os efeitos de se pôr, por e simplesmente, o dinheiro na economia: Os ensinamentos da crise Covid-19

Por: João Pina Cardoso

De norte ao sul do mundo, com a pandemia COVID 19, os governos, em atos de desesperos, andam a despejar, quase que literalmente, o dinheiro no mercado. Que perigo! Mais adiante explico.

Não houve aumento dos depósitos, não houve aumento de moedas estrangeiras (divisas) nas economias, não houve pedido de crédito (digo aqui que as empresas não precisam de crédito neste momento até porque já estão muito endividadas, tanto é que os bancos dispõe de liquidez e as empresas não vão lá buscar o dinheiro – aqui sim teríamos a criação de moeda escritural por parte dos bancos comerciais caso houvesse efetivamente empréstimos), nem mais exportações – com exceção da China. Nada do que eu disse atrás aconteceu para que os Bancos Centrais em concertação com os governos andem por aí a colocar o dinheiro na economia. Injetar dinheiro dessa forma faria sentido em caso da falência do sistema financeiro. Num cenário deste o Estado é quase que obrigado a fazer essa injeção, claro está, enquanto a economia real estiver a funcionar. Aqui sim faz sentido. É uma questão da falta de liquidez. Situação contraria a que estamos a viver hoje. Hoje não há falta de liquidez no mundo. “Anzi” (expressão italiana) , diria o outro. O que temos hoje é choque em simultâneo na oferta e na procura. As empresas não produzem porque estão sem o factor trabalho. O factor trabalho não trabalha e, consequentemente, encontra-se sem remuneração, ou seja, salário. Ora, sem salário não se pode ter a procura. Aliás pode, mas fiado! Os Estados, na conjuntura atual, resolveriam o problema de uma forma simples: punham o robô ou extraterrestres a produzirem. Aí já podia dar dinheiro a vontade tanto as empresas como às famílias.  

Indo para o lado mais técnico do assunto.

Ora, na análise dos efeitos da quantidade de moeda numa economia não se deve ficar apenas pelas considerações respeitantes a essa mesma quantidade de moeda. A velocidade com que ela circula é algo de muita importância. É o valor dessa velocidade a multiplicar pela quantidade dos meios de pagamentos que nós dá o valor das trocas realizadas em dado período de tempo na economia.

Qual é o economista que não se lembra da famosa equação: M.V=P.T?

M.V=P.T

M- Quantidade de meios de pagamento nua economia

V- Velocidade medio de circulação

P- Preço médio dos bens

T- Valor real das transações 

Vamos as primeiras consequências do aumento do M, ou seja, da moeda no mercado:

1. Vamos considerar que a velocidade é quase que constante. As transações essas sabemos que praticamente não existem neste momento. Ora isso quer dizer que único impacto do aumento de moeda na economia será o aumento do preço, ou seja, inflação.

2. Uma parte da moeda emitida é retida pelos agentes de forma a não ser despendida. Passam a ser moeda inativa. Ora, isto pode levar ao aumento na velocidade de circulação da moeda ativa. Mas aqui o comportamento também pode ser “desentesouramento” levando ao aumento inesperado de moeda no mercado.

Na economia de mercado é a procura e a oferta é que determinam tudo!!

 

A consequência mais do que óbvia, mais uma vez, será apenas e só o aumento generalizado dos preços, ou seja, inflação ou ainda se se quiser perda de poder de compra da população.

Para um país sem capacidade produtiva como o nosso, onde quase tudo que consumimos importamos, o efeito sobre os preços resultante do aumento da oferta de moeda serão estrondosos. Espero estar errado, mas pelo menos é isso que nos diz a economia.

 

“De norte ao sul do mundo, com a pandemia COVID 19, os governos, em atos de desesperos, andam a despejar, quase que literalmente, o dinheiro no mercado. Que perigo!”

 

Ensinamentos ou ilações que Cabo Verde em particular deve tirar desta crise:

  1. Deve-se apostar fortemente numa capacidade produtiva endógena, ou seja, criar uma classe empresarial produtiva rica.
  2. Deve-se subsidiar os agricultores porque agricultura é uma atividade ingrata: Quando chove os preços dos produtos baixam (prejuízo para o agricultor), quando não chove os preços aumentam (prejuízo para o consumidor).Com atribuição de subsidio teremos os preços dos bens agrícolas sempre estáveis. Europeus e americanos fazem isso!
  3. Deve-se fortalecer o nosso ensino superior. Apostar forte e feio nas engenharias, particularmente informática. Criar prémios nesta área como forma de termos os melhores do mundo. Esta crise mostrou-nos que os informáticos são fundamentais hoje em dia. Sem informática o mundo para literalmente.

Ora, o dinheiro que será colocado na economia não vai salvar empresas que já estavam falidas antes da crise. Esta é uma crise da qual só as empresas sólidas irão sair dela salvas. Esta crise que atacou tanto a procura como a oferta (empresas), como já tinha dito anteriormente, em simultâneo- é uma crise sui generis.

Caso Keynes tivesse vivo não ficaria nada satisfeito se alguém lhe invocasse, num contexto desse, para justificar o intervencionismo (financeiro) doEstado. Keynes propõe intervenção do Estado num contexto bem diferente deste.

Mas é uma crise que mais uma vez veio mostrar a África que com a educação, a saúde e com a capacidade produtiva interna de um país não se brincam. Também trouxe aos americanos e europeus alguns ensinamentos. A deslocalização das suas indústrias para Ásia, só porque a mão-de-obra é mais barata, pode ter sido um erro.

Duvido que a África minha aprenderá a lição!

Quanto ao Ocidente, acredito que sim!

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