A cineasta cabo-verdiana Lolo Arziki acusou a Associação de Cinema e Audiovisual de Cabo Verde (ACACV) de “discriminação institucional” ao recusar financiar um filme que traz vivências e performance de pessoas LGBTQI em Cabo Verde.
A cineasta cabo-verdiana Lolo Arziki acusou a Associação de Cinema e Audiovisual de Cabo Verde (ACACV) de “discriminação institucional” ao recusar financiar um filme que traz vivências e performance de pessoas LGBTQI em Cabo Verde, com a justificativa de que “não reflecte a cultura cabo-verdiana”.
Em declarações à Inforpress, Lolo Arziki explicou que submeteram o documentário “Sacudi” ao edital gerido pela ACACV, que por sua vez, iria atribuir um valor de 500 mil escudos aos projectos seleccionados e cujo tema teria que reflectir a cultura cabo-verdiana.
O filme “Sacudi”, prosseguiu, retrata a vivência real de cinco personagens LGBTQI, entre os quais um comerciante transsexual integrante do grupo de Tabanka, um personagem gay, coordenador de um grupo de carnaval e uma bissexual adventista, que traz uma reflexão sobre a relação da sexualidade e religião.
“Os personagens são pessoas reais que vivem na cidade da Praia e, nós, através do documentário, abordamos a forma como lidam com essa questão, tendo em conta o contexto cultural cabo-verdiano”, explica Lolo.
Mesmo assim, contou, a ACACV informou que não aceitou o projecto, com a justificativa de que o mesmo não respeita o ponto 2.1 do regulamento, ou seja, não promove a diversidade cultural do país.
“Agora cabe a cada um entender se realmente um filme que fala sobre as pessoas LGBTQI em Cabo Verde, no contexto cultural do país, aborda ou não a diversidade cultural”, questionou, realçando que a diversidade de género não é uma coisa nova na sociedade africana e cabo-verdiana.
Para a cineasta, ainda que o documentário não tivesse esses elementos, só o facto de trazer a reflexão sobre a relação desta sociedade com pessoas LGBTQI já tem um ponto de vista cultural, pois reflecte a história e a cultura de um povo.
“Quando submetemos ao financiamento nacional queríamos que o trabalho tivesse assinatura nacional, sou cabo-verdiana e queremos contribuir no desenvolvimento da cultura cabo-verdiana. Uma vez que é rejeitado a nível nacional, não me resta outra alternativa candidatar a financiamento internacional”, declarou.
Associação nega acusações
Contactado pela Inforpress, o presidente da ACACV, Mário Benvindo Cabral, negou as acusações de discriminação institucional e diz não entender a postura da candidata que segundo disse, nem chegou a formalizar uma reclamação oficial dirigida a associação.
“Agora estamos na fase de avaliação interna para ver se os projectos cumpriram ou não os requisitos do regulamento previamente estabelecidos e, dos cinco projectos apresentados, três não cumpriram os requisitos 2.1 do regulamento, portanto isso é completamente falso e não traduz nada daquilo que é o espírito da ACACV”, asseverou.
O ponto 2.1 do regulamento, segundo Mário Cabral, estabelece que o concurso tem por objectivo seleccionar até cinco projectos inéditos, que deverão obedecer às características técnicas de tema livre, que proponha uma visão original a partir de processos contemporâneos da diversidade cultural nacional e que promova a cultura cabo-verdiana a partir de documentários, filmes de ficção e telefilmes.
“É claro que a questão cultural é discutível, mas, não vimos como é que esse projecto irá promover a cultura cabo-verdiana”, reforçou.