O cabo-verdiano Paulo Renato Mendes é, desde Março, vereador na Câmara Municipal de Ponta Delgada, na Região Autónoma dos Açores (em Portugal). Este sociólogo de formação falou com o A NAÇÃO e projecta que a sua “entrada na Vereação pode ter um potencial de vantagens para os imigrantes no geral”.
Sociólogo de formação, Paulo Mendes, nascido no Bairro da Várzea da Companhia (na Cidade da Praia), desde cedo que “foi um menino irrequieto e pró-activo”, como provam, aliás, as suas pinceladas biográficas, que atestam o seu envolvimento “em acções cívicas e cidadãs”, a par da criação e direcção de díspares instituições (Vide Caixa).
Agora como vereador na Câmara de Ponta Delgada (desde Março), augura que pode ser “um grande potencial para os imigrantes”, principalmente, os residentes nos Açores.
“Quando nos olhamos para a vertente de participação política, é a área com muita invisibilidade por parte da nossa Comunidade. Por isso mesmo, é importante – e é este o repto que lanço! -, que a nossa Comunidade se envolva, de forma mais intensa, na vida política, nos locais onde estão a residir”, avança ao A NAÇÃO, o “menino irrequieto”, nado e criado na Várzea da Companhia.
Mendes entende que a sua entrada na Vereação de Ponta Delgada, “aliada e enriquecida com outras das minhas diversificadas experiências”, pode servir de “estímulo para que outros imigrantes se envolvam e participem, mais activamente, na vida política”.
E promete: “Serei mais um, também, a contribuir para ver se conseguimos imprimir algum conteúdo prático no relacionamento entre os Açores e Cabo Verde”, remarcando que “existe uma forte cumplicidade e extraordinários pontos em comum entre os dois arquipélagos, que faz sentido serem potenciados”.
“Tempos difíceis”
Mendes assume a Vereação de Desenvolvimento Social (que cobre as áreas de: Educação; Juventude; Desporto; Inovação, Empreendedorismo e Modernização; Sistema de Gestão de Qualidade e Ambiente; e Tecnologias de Informação), “em tempos muito difícieis”, numa altura em que os munícipes – e não só! – estão numa “situação de vulnerabilidade”, precisando que se esteja “ao lado delas”.
“Esta é altura de termos a humildade necessária para, diante desta situação inesperada e inimaginável, com desfecho desconhecido e imprevisível, estar mos, mais do que nunca, ao lado das pessas, saber ouvi-las, comprometidos em mitigar as consequências desta Pandemia Global – a COVID-19”, sustenta, defendendo “cooperação e diálogo permanentes entre as mais diversas entidades”, de modo a serem “eficazes no apoio às pessoas e potenciar as suas autonomias”.
“Capacidade de adaptação”
Reconhecendo ter assumido “as funções de vereador num momento muito difícil”, devido ao novo Coronavírus, Paulo Mendes defende o “cultivo da capacidade de adaptação” aos tempos que correm.
“Temos de ter a capacidade e a criatividade de adaptação aos desafios e exigências dessa nova situação e realidade, impostas pela COVID-19”, manifesta Mendes, revelando estar “disponível, engajado, comprometido e interessado para, em parceria com os meus colegas e toda a Equipa Camarária, trabalharmos, afincadamente, para uma cada vez mais e melhor Cidade de Ponta Delgada”.
Paulo Mendes integrou a Lista do PSD (Partido Social Democrático)/Açores nas Autárquicas de 2017. Entra, agora, para a Vereação, com a saída do presidente da Câmara Municipal de Ponta Delgada, José Bolieiro, que suspendeu o mandato, para se dedicar “inteiramente” ao Partido e concorrer à Presidência do Governo Regional (actualmente, nas mãos dos Socialistas), prevista para Outubro.
O Arquipélago dos Açores é formado por nove ilhas (principais).
A Câmara Municipal de Ponta Delgada fica na Ilha de São Miguel.
Quem é Paulo Mendes?
Nascido na Várzea da Companhia (na Cidade da Praia, em Cabo Verde) há 44 anos, Paulo Renato Mendes reside nos Açores (uma das duas Regiões Autónomas de Portugal, a par da Madeira) desde 1997, altura em que foi fazer os seus estudos universitários naquele Arquipélago da Macaronésia.
Antes de seguir viagem, desenvolveu uma forte e marcada intervenção cívica, tendo sido presidente da Associação “Black Panthers”, co-fundador da Federação Cabo-Verdiana da Juventude (FNJ) e líder do Conselho da Juventude da Praia.
Licenciado em Sociologia, pós-graduado em Ciências Sociais e Doutorando em Sociologia, a nível professional, desenvolveu algumas actividades empreendedoras, designadamente: fundador do “unOffice – PDL Business & Cowork Center” – o primeiro espaço de “Coworking” nos Açores; criador e director da “Competir Açores – Formação e Serviços” e da “Competir Cabo Verde – Formação e Serviços”.
Em Portugal, desenvolveu, também, um forte trabalho de intervenção cívica, nomeadamente: a fundação, em 2003, da Associação dos Imigrantes nos Açores (AIPA), e presidente da sua direção até 2016; co-fundador e coordenador da Plataformas das Estruturas Representativas das Comunidades de Imigrantes em Portugal.
Em 2008 foi distinguido pela Fundação “Calouste Gulbenkian”, com o Prémio “Imigrante Empreendedor do Ano”.
É autor do livro: “Ponte Insular Atlântica – A Comunidade Cabo-Verdiana nos Açores”.
Alexandre Semedo
Publicado no A NAÇÃO (digital), nº 662, de 07 de Maio de 2020