“Atendimento Solidário de Psicologia em tempos de pandemia”, enquanto projecto, foi criado a partir das demandas psicológicas de pessoas de várias origens sociais e idades.
O atendimento no âmbito do projecto é feito pelos estagiários do curso de Psicologia Clínica e da Saúde na Universidade de Cabo Verde (Uni-CV), com a supervisão de Kika Freyre, Psicóloga Clínica e docente desse estabelecimento (ver perfil).
“Temos supervisões individuais e colectivas semanalmente, para que juntos possamos pensar, elaborar possibilidades e oferecer, realmente, a nossa melhor resposta ao que nos é solicitado por quem nos procura”, informa Freyre.
Segundo essa especialista brasileira, a viver em Cabo Verde há dez anos, “Atendimento Solidário” oferece acompanhamento psicológico individual, mas também conta com pequenos grupos para trabalhar temas como comportamentos de enfrentamento ao medo, autocuidado em saúde mental, diminuição do impacto negativo do estresse, gestão de emoções para crianças, entre outros.
Muita procura
O projecto surgiu em Julho passado e foi sendo divulgado e ampliado através de redes sociais. E, apesar de estar ainda na sua fase de expansão, a procura não para de aumentar.
“Há pessoas que telefonam em busca de informações, outras que ligam porque necessitam que as suas histórias sejam ouvidas”, expõe Kika Freyre.
“Felizmente as pessoas têm tido mais consciência da importância do autocuidado em saúde mental e têm buscado acompanhamento psicológico e não uma consulta isolada”.
Os desafios
Nesta fase, de acordo com a entrevistada do A NAÇÃO, um dos grandes desafios enfrentados pelo “Atendimento Solidário” é vencer o preconceito que ainda afasta as pessoas do atendimento psicológico. Neste momento, os adultos são os que mais procuram ajuda.
“A maior procura tem sido mesmo a busca por autocuidado. São as pessoas que se apercebem da sua necessidade de acolhimento e buscam-no, o que é formidável”, explica.
Mas, as crianças e os adolescentes também estão no radar do projecto. Tanto assim que alguns jovens sob os cuidados do Centro de Emergência Infantil do Instituto Cabo-verdiano da Criança e do Adolescente (ICCA) estão a ser atendidos.
“O ICCA é o primeiro parceiro institucional da nossa rede de cuidados. Temos um orgulho imenso desta confiança e estamos seguros e entusiasmados por oferecer um trabalho de qualidade”, afirma a psicóloga.
“Em linhas bem gerais”, conclui Kika Freyre, “a base do ‘Atendimento Solidário’ é o equilíbrio entre o cumprimento dos requisitos da formação de Psicólogos Clínicos e da Saúde e a resposta de qualidade às necessidades actuais. É nosso propósito estender a mão para que as pessoas que já perderam muito, não percam, também, a esperança”.
Os estagiários
O Atendimento Solidário conta neste momento com seis estagiários. Segundo a supervisora Kika Freyre, trata-se de um grupo “bem conectado” e empenhado que adora ser desafiado. “Eu os desafio e eles mergulham de cabeça, trazem ousadia e responsabilidade, imprescindíveis para o bom desempenho do ofício. Criaram a Rede de Atenção Psicossocial de Cabo Verde – a RAPS-CV e a ideia é que mesmo depois de finalizado o estágio, a rede continue a actuar”, expõe a professora.
A clínica
O atendimento é feito na Clínica Cereus Psicologia e Arte que fica no Palmarejo (cidade da Praia), próxima ao Ola Mar Hotel, na Rua de Assomada. A Clínica iniciou os trabalhos em Setembro de 2019. A clínica oferece atendimento em Psicologia Clínica e Jurídica, Arte-terapia, Neuropsicologia, Psicomotricidade, Terapia da Fala e Psiquiatria.
“A responsável da clínica sou eu, mas somos uma equipa multidisciplinar. Esta é a nossa riqueza: poder oferecer no mesmo espaço, trabalhos conexos e complementares. Aprendemos muito com esta conexão e complementaridade e com isso conseguimos oferecer o melhor que temos”, assegura Kika Freyre.
Kika Freyre
Francisca Suassuna de Mello Freyre Monteiro, mais conhecida por Kika Freyre, é Psicóloga Clínica desde 2003. Brasileira, neta do famoso sociólogo Gilberto Freyre, vive em Cabo Verde há 10 anos. Especialista em Arteterapia, Kika também é mestre em Sociologia da Saúde e em Psicologia Jurídica e Criminologia além de Doutora em Antropologia e Docente da Uni-CV nos cursos de Psicologia e Medicina e no Mestrado em Saúde Pública.
(Publicado no A NAÇÃO (digital), nº 677, de 20 de Agosto de 2020)
Miriam Pires (Estagiária)