O inquérito sobre a qualidade da democracia e da governação em Cabo Verde da Afrobarometro/Afrosondagem, referente aos cuidados de saúde, divulgado esta terça-feira, conclui que, mesmo antes da crise do novo coronavírus, mais de metade dos cabo-verdianos que já tinham tido contato com instalações médicas públicas enfrentaram dificuldades em obter os cuidados médicos de que precisavam.
Conforme a mesma fonte, os cidadãos pobres e urbanos foram particularmente propensos em relatar dificuldades no acesso aos serviços de saúde.
Além disso, um em cada três entrevistados assegura ter ficado sem a assistência médica necessária, pelo menos uma vez durante o ano anterior.
Os entrevistados, em Dezembro passado, classificaram o sector da saúde como o terceiro problema mais importante que o Governo deveria resolver, atrás apenas do desemprego e da criminalidade/segurança.
No entanto, muito poucos achavam nessa altura que o Governo estava fazendo um bom trabalho na melhoria dos serviços básicos de saúde.
“Embora Cabo Verde tenha recebido elogios internacionais pela boa governança e desenvolvimento de infraestruturas para melhorar as condições de vida, este inquérito revela lacunas importantes no sector da saúde no país”, revela.
Segundo este inquérito, mais da metade (52%) dos cabo-verdianos que tiveram contato com um centro de saúde ou hospitais durante o ano anterior disseram ter sido “difícil” ou “muito difícil” obter os cuidados médicos necessários, um aumento de 10 pontos percentuais em comparação a 2014.
As dificuldades em termos de assistência médica são maiores junto aos mais pobres, quase que duplicando comparativamente aos mais favorecidos (66% vs. 38%). As dificuldades também eram mais comuns nas áreas urbanas (56%) do que nas zonas rurais (41%) e entre os cidadãos mais jovens (55% entre os que tinham entre 18 e 35 anos de idade) do que os mais velhos (43%).
Um terço (34%) dos cabo-verdianos disse que ficou sem atendimento médico pelo menos uma vez durante o ano anterior.
Consoante a mesma fonte, a falta de assistência médica era quase quatro vezes mais comum entre os cidadãos sem educação formal do que entre aqueles com qualificações pós-secundárias (56% vs. 15%) e era consideravelmente mais comum entre os residentes rurais que os urbanos (43% vs. 31%).
A falta de acesso aos cuidados de saúde é um indicador-chave da pobreza e está fortemente correlacionado com as outras formas de privação, incluindo ficar sem comida, água potável, combustível para cozinhar e uma renda em dinheiro. Indicadores que compõem o Índice de Pobreza Vivida do Afrobarometer.