Com o cancelamento dos eventos culturais devido à Covid-19, várias foram as classes atiradas ao desemprego. Em São Vicente, e um pouco por todo o país, a classe dos Dj’s é uma delas.
Passados cinco meses, os profissionais do sector dizem-se “ao Deus dará” e preocupados pelo facto de ainda não haver luz verde para a retoma da normalidade das casas nocturnas.
Primeiros a fechar e, até segunda ordem, são os últimos abrir. Os eventos culturais foram dos primeiros a serem cancelados devido à Covid-19. Numa ilha como São Vicente, onde os eventos culturais têm um peso enorme na dinamização da economia local, o prejuízo para profissionais desses sectores e respectivas famílias é já bem notório.
A classe dos Dj’s é uma das afectadas. Paulo Brito, ou Dj Paulão, como é popularmente conhecido, leva cerca de 28 anos como profissional desse ramo de entretenimento. Antes da pandemia, tinha uma agenda lotada aos fins-de-semana e era com isso que se sustentava. Agora, com a crise, diz que há cinco meses que não trabalha.
“Tenho família, filhos e contas para pagar. Trabalho por conta própria pelo que a situação, para mim, está complicada. A última vez que trabalhei foi na cidade da Praia no dia do Carnaval”, recorda.
Desde então, este veterano das pistas de dança, já fez alguns biscates, sobretudo, em alguns casamentos. Mas este tipo de trabalho esporádico não tem o peso financeiro necessário para que possa honrar as suas responsabilidades pessoais.
Alan Luz tem apenas cinco anos a trabalhar como Dj, profissão essa que foi alternando com os estudos liceais. Actualmente tem planos para ingressar no ensino superior, algo que está dependente da melhoria da situação profissional.
“A pandemia bloqueou-nos por completo, todos os eventos foram cancelados, sem data de reabertura. Automaticamente fomos atirados para o desemprego por tempo indeterminado. Não só os Dj’s, mas também muitos outros do ramo ligado directamente ao entretenimento musical”, expõe Alan Luz.
Cachê diminui
Sem uma agenda de trabalho fixa, resta a estes dois Dj’s tentar a sorte em eventos esporádicos que não têm o peso que se exigia na actual conjuntura. Como anteriormente referido, Paulo Brito tem trabalhado nalguns casamentos. Já Alan Luz, por ainda pertencer à nova geração de Dj’s da ilha, não tem tido a sorte de ser requisitado para eventos dessa natureza.
Brito fala numa redução substancial do cachê pelos poucos trabalhos que vão surgindo para a classe em São Vicente.
“Há muitos clientes a quem damos um preço, mas acabam por diminui-lo, mas também há quem respeite os preços, felizmente”, diz este entrevistado.
Por seu turno, Alan expõe as experiências que os seus colegas de profissão vivenciaram durante os mais recentes serviços prestados.
“Em relação ao cachê, pessoalmente, não tenho muito o que comentar, porque os eventos ainda não se reiniciaram como antes. Sei que em algumas casas já se ouvem DJ’s, nomeadamente bares, esplanadas etc., mas ainda de uma forma muito tímida. E pelo que ouvi, os valores pagos por esses serviços não têm satisfeito as necessidades exigentes”, explica Alan.
Novos modelos de eventos
O contexto pandémico obriga a que as pessoas tenham que aprender a conviver com o vírus e adaptar-se a ele. As expectativas quanto aos próximos meses não são animadoras para estes dois entrevistados do A NAÇÃO.
Neste sentido, apelam para que sejam desenvolvidos novos modelos de eventos vocacionados para a classe dos Dj’s, de modo a amenizar os efeitos negativos da pandemia na sua situação financeira.
Nos últimos meses o Ministério da Cultura e Indústrias Criativas lançou um programa para apoiar, através de “lives”, a classe dos artistas no geral. Paulo Brito tentou inscrever-se por duas vezes e, em nenhuma das situações, a sua inscrição foi aceite. Assim conclui apelando às autoridades competentes que organizem eventos online direccionados exclusivamente aos Dj’s.
Publicado na edição semanal nº 675