Rutsel Martha, um dos advogados desse empresário colombiano, retido na ilha do Sal, também admite a possibilidade de Cabo Verde poder estar a ser “instrumentalizado” de forma “inconsciente” num conflito que opõe os EUA ao presidente Nicolás Maduro.
O governo cabo-verdiano está “equivocadamente” envolvido no caso da detenção de Alex Saab. Esta é a opinião de Rutsel Martha (foto), um dos advogados desse alegado “testa-de-ferro” do presidente Nicolás Maduro, preso em Cabo Verde desde 12 de Junho, quando o avião que o transportava teve de fazer uma escala técnica na ilha do Sal.
“Não havia motivos para detenção de Saab”
Em entrevista ao A NAÇÃO, aquele advogado de nacionalidade holandesa, director da Lindeborg Counsellors at Law, que está em Cabo Verde para “livrar” Saab da extradição para os EUA, pretende disponibilizar “todas as informações” às autoridades cabo-verdianas no sentido de se “corrigir este erro”.
“Estou convencido de que, no momento da detenção, de Saab, no dia 12 de Junho, as autoridades superiores de Cabo Verde sabiam que ele estava a executar uma missão política em nome do Governo da Venezuela”, defende Rutsel Martha, e que, por isso, não havia motivos para a detenção do seu constituinte.
Martha diz ainda que, logo após à detenção de Saab, as autoridades venezuelanas endereçaram uma nota ao Governo de Cabo Verde explicando as motivações da missão de Saab, mas a notícia já tinha sido espalhada, numa alegada jogada de antecipação. “A partir dessa divulgação, as dinâmicas se alteraram completamente”, alega.
Para entender esta “saga” con-tra Saab, conforme o entrevistado do A NAÇÃO, é preciso retro-ceder alguns anos, quando o governo norte-americano decidiu “estrangular” o regime de Nico-lás Maduro, colocando na “lista negra” vários dos seus dirigentes.
“Esta posição se vem intensificando desde 2017, com a imposição de sanções contra a Venezuela que passou a enfrentar problemas para resolver as necessidades básicas da sua população”, explica Martha, que considera que a crise da Covid-19 “exacerbou” o problema social provocado pelas san-ções impostas pelos EUA.
Neste quadro, “Alex Saab foi contratado pelo governo Venezuelano, desde 2011. Ele tem trabalhado com êxito e tem demonstrado habilidade suficiente para dotar a Venezuela de bens básicos, cumprindo os prazos e os orçamentos”, explica o nosso interlocutor que considera que a eficácia Saab na resolução dos problemas do governo de Maduro é que não agrada às autoridades norte-americanas.
Isto porque, no exercício das funções, como enviado de Maduro, o empresário colombiano recebeu, em 2019, um passaporte diplomático.
“Perante a capacidade Alex Saab, no exercício das suas missões, os EUA decidiram elegê-lo como alvo a abater, inicialmente por meio de outros países”, esclarece o nosso interlocutor.
E é assim que, em 2019, as autoridades norte-americanas decidiram avançar com um processo contra Saab por alegado envolvimento num esquema de lavagem de capitais.
“Mas é importante esclarecer que o processo movido contra Saab nos EUA tem a ver com situações ocorridas em 2011, 2012 e 2015. São coisas que foram investigadas tanto no Equador, como na Venezuela, com o parlamento presidido por Juan Guia-dó”, elucida.
Rutsel Martha afirma que Saab não é o principal interessado dos EUA. “O que querem realmente é eliminar a solução que o governo de Maduro obteve para esquivar as sanções”, afirma, considerando que, por isso, o processo de extradição “não é genuíno” nem legítimo.
“É algo político”, enfatiza Martha. “Estão a tentar utilizar as leis internacionais para tirar dividendos políticos”.
Alex Saab, segundo o nosso entrevistado, não é único que está nessa situação. Cita como exemplo uma alta funcionária chinesa da Huawei que está detida em Canadá, a mando do governo norte-americano, que “querem limitar o progresso da tecnologia chinesa”.
“Para camuflar essa estratégi-ca inventam todas essas histórias contra o senhor Saab, como, por exemplo de ser testa-de-ferro de Nicolás Maduro e de outras coisas que vocês estão lendo na Imprensa. Mas tudo isso não passam de especulações”, realça.
Um dos sucessos de Alex Saab
Rutsel Martha revelou ao A NAÇÃO que, em Abril deste ano, Alex Saab efectuou “com êxito” uma missão ao Irão que resultou num carregamento, por via marítima, de uma grande quantidade de gasolina para a Venezuela.
“Os EUA ficaram muito furiosos com isso e decidiram sancionar os barcos que transportaram esse combustível”.
A partir desse episódio, conforme o nosso interlocutor, as missões de Saab passaram a ser cada vez mais secretas e “foi por isso que não se notificou a ne-nhum país que ele estava a bordo do avião e também não se notificou que ele estava em missão oficial”.
“As autoridades de Cabo Verde devem perceber que a partir do momento em que ficaram a saber que ele estava em missão oficial, terão que cumprir com a proibição de interferência nos assuntos de um outro país”, defende.
Alex Saab, 48 anos, de dupla nacionalidade, colombiana e venezuelana, foi detido a 12 Junho, no aeroporto internacional Amílcar Cabral, pela Polícia Judiciária, a bordo de um avião privado, na sequência de um “alerta vermelha” da Interpol.
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Artigo publicado na edição semanal nº 674