A publicação é assinada pela antropóloga, investigadora e docente da Universidade de Cabo Verde, Celeste Fortes, e foi escrita em parceira com Elisabeth Challinnor, também investigadora, do Centro de Investigação em Antropologia de Portugal.
De acordo com Celeste Fortes, a texto aborda as relações de género em Cabo Verde, com foco nas mulheres e no seu percurso histórico, através de políticas sociais, públicas, económicas e a criação de instituições governamentais e não governamentais no país.
Com uma carreira de investigação e com a pretensão de se afirmar ainda mais no ramo, a cientista social considera que foi um trabalho “muito desafiante”, se tratando, sobretudo, de uma enciclopédia conceituada e respeitada, de uma universidade centenária, que é a Oxford. “Escrever para uma enciclopédia me coloca num patamar interessante e com desafios a nível de investigação. Me sinto muito orgulhosa”, refere.
O seu interesse, adianta, é também colocar Cabo Verde no mundo através de artigos, livros, publicações e comunicações. O seu trabalho tem sido ainda no sentido e elevar o papel das ciências sociais em Cabo Verde, como sendo tão necessárias quanto às demais, no entanto, muitas vezes, subvalorizadas.
“É extremamente gratificante e, enquanto cientista social, é um sinal claro de que precisamos de mais investimentos a este nível e de que as ciências sociais não podem ser deixadas para trás, em detrimento de outras ciências. Estamos a falar de um mundo globalizado, o conhecimento é global e para mim é um sinal muito positivo que estou a dar a nível de políticas de investigação”, sustenta.
Enquanto investigadora da Universidade de Cabo Verde, acrescenta, a instituição ganha, o país ganha e “todos ganhamos” com esta conquista.
“As mulheres em Cabo Verde” (Woman in Cape Verde) aborda, entre outras questões, a formação da sociedade cabo-verdiana desde o povoamento, passando pela história da migração e as relações familiares influências pela própria migração.
“Os homens eram tradicionalmente os primeiros a emigrar, influenciando as relações familiares e de gênero, com altas taxas de poligamia masculina informal produzindo diversas formas familiares em famílias predominantemente chefiadas por mulheres que desafiam o modelo cabo-verdiano dominante de uma sociedade patriarcal e coloca o homem como o ganha-pão da família”, lê-se no sumário da entrada.
Os registros históricos, aponta, falharam amplamente em abordar os papéis significativos desempenhados pelas mulheres durante o período colonial e a luta pela independência, que se tornaram o foco da pesquisa atual. O artigo nota que “após a independência de Cabo Verde em 1975, as mulheres não ocuparam cargos governamentais até depois das primeiras eleições multipartidárias do país em 1991, quando questões relacionadas à emancipação, igualdade de gênero e equidade começaram a ganhar influência política”.
O texto aponta ainda o comércio informal como “um recurso importante” para muitas mulheres proverem suas famílias, algumas das quais ocorrem através de redes de negócios transnacionais que lhes permitem comprar mercadorias no exterior e vendê-las em Cabo Verde.
As mulheres também migraram para sustentar suas famílias e buscar capital acadêmico no ensino superior, contribuíram para a disseminação da cultura cabo-verdiana através de vozes femininas, como Cesária Évora e Lura, reforça o artigo.
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