Agnelo Andrade, que dispõe de uma empresa de promoção turística e cultural em São Filipe, lamenta o facto de a sua cidade não dispor de alguns elementos fundamentais, como por exemplo uma biblioteca, uma sala de espetáculo digna desse nome ou sala de cinema.
O prédio recuperado nos anos 80 do século passado para instalação de uma biblioteca para a cidade, na altura, com seis mil habitantes, foi desactivada no início do século XXI, para albergar a sede da Assembleia Municipal e do Gabinete de Apoio Técnico.
Os livros e equipamentos foram encaixotados e desterrados para as instalações do Centro Cultural Armand Montrond, cujo pátio, por estes dias, foi transformado em armazém de areia.
Para este ex-bailarino, “é triste falar da cultura” num município onde praticamente inexiste actividade cultural.
“Não há iniciativas, tudo está parado e muito dependente da Câmara Municipal, não há pessoas capazes para fazer ver que a cidade é um todo e não somente os problemas sociais”, lamenta esse cidadão que, em tempos, chegou a organizar actividades para assinalar o aniversário da cidade e para homenagear outras personalidades da cidade, mas que não teve continuidade por falta de engajamento, mesmo do poder público, para continuidade das actividades.
Atenção aos patrimónios
Vieira de Andrade defende que é fundamental ver a questão dos patrimónios, observando que houve algum dinheiro investido, como o caso do museu, uma obra acarinhada pela Câmara de Palmela (Portugal), mas que hoje está completamente ao abandono.
“Infelizmente, a interpretação que se dá ao museu é de um depósito de ‘coisas velhas’, ou então, o que acontece na Casa das Bandeiras cujo espaço é mais uma ‘galeria de retratos’, pese embora haver algumas peças etnográficas de valor”.
Um outro exemplo de descaso é o que aconteceu com o cinema, mas também com a biblioteca municipal.
“Começou-se por retirá-la do centro da cidade, deslocando-a para perto da escola secundária Dr. Teixeira de Sousa, que tem a sua própria biblioteca; e depois, porque não chegou a funcionar como tal”.
Cidade sem planeamento
São Filipe, continua o entrevistado do A NAÇÃO, “é uma cidade sem planeamento e que anda ao sabor de cada um que entra e que pinta à sua maneira gastando dinheiro para enganar os pobres”.
Ainda no dizer deste cidadão, anos atrás, havia grupos de teatro e dança, iniciativas culturais que deixaram de existir, talvez por desmotivação das pessoas, lembrando que antes não havia escolas, liceus, institutos superiores de formação como hoje.
“Até redes sociais são utilizadas para coisas mais ofensivas e não para promoção e valorização cultural”.
Em termos do património antigo construído, não há nada que fosse para preservar ou tentar respeitar e valorizar, antes pelo contrário, as coisas continuam a cair e quando tenta dar uma mão para restaurar, destrói a outra metade porque não há uma política de património.