Por: Bernardino Gonçalves*
Não acredito que uma pandemia teria o poder de per si mudar o mundo permanentemente. Acho que os seres humanos precisam de mais do que isso para laborar uma transformação mais sustentável e sustentada. Se olharmos para trás podemos ver que ciclicamente a humanidade se vê dentro de problema que porventura pensara que jamais ia nos afectar novamente.
Aceito que a covid-19 seja então uma oportunidade para adquirirmos novas posturas, eliminar umas e reforçar outras, pois, nem tudo estava mal. Outrossim os períodos difíceis são férteis também em possibilidades de reconstrução, de solidariedade social.
Cabo Verde, por ser um país pequeno, pode, havendo determinação colectiva e boa liderança, fazer uma volta em menos tempo e recursos que se exigiriam de outras nações ou países por exemplo de dimensões maiores ou mesmo com complexidades superiores.
Dizia alguém “se modificarmos o homem, poderemos fazer a revolução; Só novos homens poderão criar um mundo novo”. Portanto, um Cabo Verde novo se faz com novos Cabo-Verdianos, significando então que o investimento adequado e para valer teria que ser nas pessoas, aliás, as pessoas são o essencial. E de novo temos a vantagem em Cabo Verde de termos e sermos uma estrutura etária predominantemente infanto-juvenil, portanto possível de modificar com trabalho e capaz de energias e sacrifício exigíveis nesta situação.
O agir ágil, ousando construir uma sociedade capaz de suportar a todos a viver com dignidade, criar solidariedade e redes comunitárias é uma utopia necessária e possível. E esta utopia basear-se-á inegavelmente sobre a unidade básica da sociedade que é a família.
Que decisões:
1. Decidiria pelo real empoderamento das famílias para que não caiam nas armadilhas que a pobreza favorece, nomeadamente a adopção de valores e modelos de vida que não contribuem para o seu progresso, para a sua coesão interna e para o desenvolvimento da sociedade e do Estado.
2. A aposta na educação informal em complemento com a educação formal para a formação dos jovens. Certamente é uma medida que todos tomariam e um amplo programa de mentoring e aproveitamento de quadros seniores preparados e aposentados para conservar e potenciar memória institucional e da comunidade;
3. A educação financeira seria obrigatória desde o pré-escolar. Qualquer formação profissional teria a componente educação financeira. Os servidores públicos teriam capacitação em educação financeira para poderem exercer, bem como programas massivos e consistentes de reforço de atitudes e comportamentos que coadunam com a logica da poupança, do investimento, e do uso racional dos bens públicos;
4. Fortalecimento de associações comunitárias como organização mais próximas das pessoas e com a virtude de conciliar o informal na formalidade e que comprovadamente são o hospital mais próximo para as famílias e pessoas socialmente mais vulneráveis.
5. Ninguém em condições de saúde e com robustez física terá algum beneficio de estado sem contrapartida; serão exigidos contrapartidas desde em serviço comunitário até exigências de horas de frequência de pequenas capacitações para fortalecimento e habilidades individual.
* Activista social, Safende
(Publicado no A NAÇÃO (digital), nº 670, de 02 de Julho de 2020)