Adilson Matias e Ederlindo Ribeiro iniciaram o projecto de forragem hidropónica para ensinar os criadores a produzir o próprio pasto e driblar as secas prolongadas em Cabo Verde. Por falta de parcerias, constituíram a Carvalho Agropec e optaram pela produção própria, que tem sido ofertado a um grupo de criadores nas ilhas de Santiago e Fogo, como forma de testar e introduzir o produto no mercado.
Sem grandes equipamentos, o pasto é produzido num espaço de dez dias, com recurso à meia luz e utilizando sementes de media e baixa qualidade. A produção já atingiu os 200 kg por dia na ilha do Fogo e a mesma quantidade, por semana, em Santiago.
Segundo o empresário Adilson Matias, o projecto esteve por muito tempo no papel, já que, a princípio, exigia alguns equipamentos custosos. Depois de algum tempo, a dupla percebeu que “não era necessário muitos recursos para produzir o pasto em Cabo Verde”. “Lá fora eles usam ambientes climatizados e sementes de alta qualidade. Nós não temos isso em Cabo Verde”, aponta.
Por causa do preço da electricidade, produzir em ambientes climatizados representaria gastos avultados. Por isso, optaram por iniciar a produção em salas normais, apenas à meia luz, técnica que tem dado certo até agora.
Experiência
Durante um ano – entre 2018 e 2019 – a Carvalho Agropec ofereceu pasto a alguns criadores do Fogo e acompanharam o gado, especialmente da espécie caprina, para ver se a produção de leite aumentava, se engordava ou se não morria, já que havia a suspeita de que o pasto pudesse causar diarreia nos animais. “Deu certo no Fogo e começamos a produzir na Praia, agora em Abril”, adianta Adilson Matias.
Até agora, também na ilha de Santiago, o pasto tem sido oferecido a alguns criadores de São Lourenço dos Órgãos, como forma de promover a familiarização com a técnica e atrair clientes para a Carvalho Agropec.
Das experiências feitas até o momento, o nosso entrevistado fala em resultados satisfatórios, como, por exemplo, o aumento de leite de 5 a 12%, dependendo da raça do animal.
Pra os pecuaristas que optarem por uma produção própria, o que pode custar mais, avança, é a instalação dos equipamentos, se for para uma produção elevada e de alta qualidade. “Mas para produzir pasto para dez cabras ou duas vacas, por exemplo, não se gasta mais do que cinco mil escudos”, garante.
O objectivo desses produtores é criar uma cadeia de valores a volta dos produtos da pecuária, desde carnes, ovos, leite e derivados.
A ideia é construir um sector de economia a volta do pasto. A empresa fornece o pasto e os criadores fornecem leite, por exemplo, que se será transformado em derivados. Depois obtém-se a diferença entre o valor do pasto e o valor do leite. “Assim construímos uma cadeia de valores com os produtos derivados do leite e os produtores continuam com o seu animal vivo e a ganhar com ele”, exemplifica.
Até o final do ano pretendem aumentar a produção para uma tonelada de pasto, assim como alargar o espaço de cultivo.
O pasto ou forragem hidropónica, na prática, é a mesma coisa que o pasto verde que cresce em campo aberto. O que difere é a quantidade de água e solo utilizado. “Para uma tonelada de pasto, gastamos entre uma a três toneladas de água no sistema hidropónico. No sistema de rega em campo aberto, são quinhentas toneladas de água. O espaço e a água são consideravelmente menores”, adianta.
Quanto à qualidade do pasto e suas vantagens para os animais, o diferencial é que não há pasto verde o ano inteiro. Sendo assim, os animais se alimentam de palha seca, com baixo teor nutritivo. Para Adilson, é a mesma coisa que vai acontecer a um ser humano que só tem arroz na sua dieta. É aqui que entra a técnica, que pode proporcionar pasto verde o ano inteiro.
“O pasto hidropónico é uma bomba de proteína, adicionada a vários nutrientes, desde a raízes até a parte verde. Uma cabra ingere, por dia, o máximo de três quilogramas deste alimento”, garante.
***Reportagem completa e originalmente publicada na edição 670 do A NAÇÃO