Lara Amado, mãe de Paco, de 6 anos, com Transtorno do Espectro Autista (TEA), diz que o filho foi expulso da Escola Portuguesa do Mindelo (EPM) por ter necessidades educativas especiais e suspeita que a criança teria sido vítima de bullying na instituição.
Segundo explica ao A NAÇÃO, Paco viveu toda a sua vida na Cidade da Praia, tendo estudado no colégio MiraFlores, onde foi “extremamente bem cuidado por todos”.
Entretanto, há cerca de dois anos precisou de se mudar para São Vicente, levando com ela o filho.
“Chegando em São Vicente, decidi que o melhor para ele seria entrar numa escola aonde pudesse ser acolhido desde o preparatório até o final do primeiro ciclo, para evitar mudanças”, explica.
No entanto, ao se reunir com o Director da Escola Portuguesa do Mindelo (EPM), explica Lara, o mesmo negou a matrícula do filho.
“Tempos depois tive de me ausentar da ilha. Durante este tempo a minha mãe conseguiu uma vaga para o Paco na EPM, mas acredito que, na matrícula, ela não tenha mencionado que se tratava de uma criança neuro-atípica”, alega.
Uma vez matriculado, Paco começou a frequentar a referida escola. Entretanto, segundo a mãe, desde cedo se mostrou “muito irritado” por ter de lá ficar.
“Ele, que é uma criança que pouco verbaliza seus pensamentos, vinha sempre com três palavras na ponta da língua: pateta, taná e idiota”, diz Lara Amado, alegando ainda que o filho passou a responder aos colegas com raiva e agressividade. “A exclusão era clara”, pontuou.
Esta mãe alega ainda que o filho chegou a ser deixado sozinho na sala de aula, sem supervisão, “em situação constrangedora” e que, no dia do carnaval, todos os alunos foram avisados para irem à escola com uma fantasia, excepto o Paco.
Em Maio de 2019 Lara deixou de levar o filho à EPM, pois, segundo diz, a exclusão estava a provocar uma regressão na criança, aumento de estereotipias e comportamentos inadequados.
“Eles depois insistiram em se reunir comigo e, muito cordialmente, expulsaram o Paco da escola. Como explicação, disseram que a escola é muito pequena, que não tem condições para acolher crianças com TEA, nem profissionais”, explica.
Segundo Lara, o director da escolha ainda teria dito que o Paco “ficaria melhor entre os cavalos do que na escola”, ou então que era melhor matriculá-lo noutra escola, que alegadamente possui um espaço com especialistas para acolher estas crianças.
Escola nega
Procurada pelo A NAÇÃO, o director pedagógico da EPM, Filipe Soares, mostrou-se “surpreso com a acusação grave”.
“Começamos por afirmar, de forma inequívoca, que a criança em causa não foi, em momento algum, expulsa da EPM”, afirmou.
Segundo Filipe Soares, Paco começou a frequentar a escola em Janeiro de 2019, para um período de observação e análise das suas necessidades educativas especiais, com o objectivo de avaliar que tipo de resposta a escola poderia dar ao seu caso.
“Embora a EPM não seja uma escola de referência na educação especial, tem alguns alunos com necessidades educativas especiais, enquadrados nas valências que a mesma pode oferecer em prol de uma educação inclusiva, e com muito bons resultados”, garante.
Nesse sentido, acrescenta, foi aconselhado que o aluno tivesse apoio psicológico, mas “verificou-se que não compareceu às sessões de apoio”.
Nos registos do aluno são ainda referidos vários períodos de falta às aulas. “Por ter sucessivas faltas, e por ser uma criança especial, conseguiu-se apenas atingir os objetivos básicos que se tinham delineado para o aluno, dado que, quando o mesmo regressava à escola, era visível o seu retrocesso” afirma o director pedagógico.
Segundo Filipe Soares, o aluno esteve na escola pela última vez no dia 29 de Maio de 2019, momento a partir do qual a mãe foi convocada para várias reuniões de análise do processo do aluno, não tendo comparecido.
A escola teria se reunido com a mãe em Julho do mesmo ano, e chegado à conclusão de que, por não ter profissionais especializados nas necessidades educativas do aluno, o melhor seria procurar serviços especializados e locais que ajudassem a melhorar as suas respostas educativas e cognitivas.
“A Educadora disponibilizou-se, caso fosse necessário e solicitado, para acompanhar a mãe em visitas aos serviços especializados locais. Foi igualmente proposto que o aluno efetuasse um programa educativo individual, com medidas de suporte à sua inclusão, nomeadamente através da adaptação do seu horário escolar, criando-se a possibilidade do aluno frequentar a EPM por um determinado período, sendo que o outro período fosse reservado a terapias e outras valências mais específicas”, explica.
Sobre ter dito que o aluno “ficaria melhor entre os cavalos”, segundo apontou a mãe, Filipe Soares diz que, entre o apoio e suporte de terapias alternativas, foi referida a Hipoterapia, que é um método terapêutico e educacional que utiliza os andamentos do cavalo para o desenvolvimento psicossocial.
“Foi sugerido que a Encarregada de Educação procurasse se informar junto do Centro Hípico do Mindelo se essa terapia aí era disponibilizada”, refere.
Quanto às suspeitas da mãe de que o filho estaria a ser vítima de bullying e a alegação de que a criança teria sido abandonada sozinha numa sala de aulas, sem supervisão, o director diz que são informações “completamente falsas e sem fundamento”.
NA