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Covid-19

Covid-19: Enfermeiros cabo-verdianos desabafam o que sentem ao tratar pacientes positivos

Verónica Silva foi uma das contratadas para reforçar a equipa de profissionais no combate a Covid-19. Esteve na linha da frente no Hospital Augostinho Neto (HAN), local onde são encaminhados os doentes mais críticos. O primeiro contacto com pacientes covid-19 positivos revelou-se assustador.

“Dá um frio na barriga e um certo medo o primeiro contacto com pacientes positivos. Ao nos depararmos com a quantidade de profissionais de saúde infetados em todo mundo, ficamos assustados, mas é um medo natural”, confidencia a profissional.

Mas, o que mais “dói” neste processo, segundo Verónica, é ter de lidar com as preocupações dos familiares. “O meu pai liga-me todos os dias a pedir que eu me proteja”, revela.

O filho de 15 anos também fica preocupado e cheio de incertezas com a profissão da mãe, mas compreende a situação.

Para proteger a familía, a enfermeira teve de se isolar. O isolamento também causa angústia a esta profissional, apesar de reconhecer que é necessário.

“Passei um mês fora de casa para proteger a minha familía do risco de contágio. Não é fácil ficar longe dos filhos. Sempre conversavamos por vídeo e era uma alegria, principalmente com o meu filho mais pequeno de dois anos”, relata.

Apesar do medo de contágio, a possibilidade de desistir nunca foi colocada. A missão de cuidar dos outros foi mais forte.

São Vicente

Em São Vicente encontramos também na linha da frente o enfermeiro Vlademiro Reis. Com 15 anos de profissão, Vlademiro foi um dos profissionais que cuidou do primeiro caso positivo que esteve em isolamento no Hospital Batista de Sousa (HBS).

O enfermeiro também teme o contágio, mas teme muito mais a possibilidade de faltar equipamentos de proteção.

“O maior medo é não ter equipamentos necessários para a proteção e ter de entrar em contacto com os doentes de forma desprotegida, mas até agora tenho tido todos os equipamentos necessários”, informa.

O profissional diz passar por preconceitos e estigmas durante este período de combate.

“Sentimos o preconceito que as pessoas têm de nós, pelo facto de cuidarmos de doentes positivos. Mas é uma coisa que pode melhorar com o tempo. As pessoas devem compreender que não somos veículo de transmissão e sim cuidadores”, apela.

A volta a casa é para Vlademiro um sentimento de alívio para a familía que, confessa, fica o tempo todo apreensiva.

Atualmente, há casos de profissionais de saúde com a infecção no país, mas nem Vlademiro nem Verónica se apegam nessa possibilidade. Preferem lembrar das pessoas que ajudaram na recuperação.

“Prefiro me apegar no número  de pessoas recuperadas. É tão bom quando telefonam-me para agradecer”, revela Verónica.

Verónica e Vlademiro encontram-se em casa neste momento. Após testarem negativo, reencontraram as famílias e lembram dos abraços. “Os melhores do mundo”, dizem.

Ricénio Lima

*Estagiário

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