As mulheres transgéneros em Cabo Verde pedem que o sistema público de saúde passe a disponiblizar e acompanhar o processo de transição de género através de reposição hormonal. Com este tratamento negado, muitas tomam os medicamentos sem acompanhamento médico, colocando em risco a própria saúde.
Kery Cabral iniciou o tratamento hormonal por conta própria há um mês. A travesti teme os riscos que a toma dos hormónios sem acompanhamento médico possa causar na sua saúde. Contudo, diz só recorrer a este meio porque os centros de saúde não disponibilizam o tratamento para os transgéneros.
“Penso que é um direito que deveríamos ter nas estruturas de saúde. O ministério da saúde deve dar atenção aos trangéneros, criando um plano de acompanhamento no processo de transição de género. Com acompanhamento médico tudo se torna mais fácil”, diz Kery.
Esta entrevistada usa no momento hormónio anticoncepcional que lhe é fornecido pelas amigas.
Na mesma situação está Elisa Baptista, que também pretende dar início a um processo de transição hormonal. Elisa critica, entretanto, a falta de informações sobre a temática nas estruturas de saúde do país.
Só não iniciou o tratamento porque não encontrou acompanhamento médico e os hormónios de que necessita não estão disponíveis no país.
“Já tentei, mas é difícil encontrar hormónios femininos aqui no Fogo. Também é uma questão financeira porque são caros e ainda não tenho como arcar com esses custos”, expõe Elisa.
Ao contrátrio das demais, Simone Cabral, transgénero, está informada sobre os procedimentos médicos e a transição hormonal, tanto que iniciou a transexualização numa clínica privada no Sal.
Ganhou traços femininos, seios e voz fina, um sonho que diz pretender culminar com a cirurgia de resignação sexual.
A transgénero reconhece que há alguns hormónios que não estão disponíveis em Cabo Verde, tanto que pede que o serviço público de saúde olhe para a saúde dos LGBTI no país.
“Os hormónios são caros no serviço privado e há quem não tenha condições financeiras em aderir ao tratamento. Seria bom se os centros de saúde dessem assistência as pessoas transgéneros a nível médica e hormonal”, reconhece.
O tratamento hormonal é destinado a pessoas transgéneros, ou seja pessoas que não se identificam com o sexo biológico. Os hormónios atribuem características físicas femininas ou masculinas, conforme for a identidade de género da pessoa.
Ricénio Lima
*Estagiário