Um grupo de pescadores de Cabo Verde estão sendo impedidos de voltar a casa porque as fronteiras estão fechadas devido à COVID-19. O dono da empresa para a qual trabalham dá-lhes comida e enviou dinheiro para as famílias.
Esta história foi dada a conhecer na quinta-feira, através de uma reportagem do Jornal de Notícias em Portugal.
“As nossas famílias não tem nada! Nem para comer”, diz André Andrade, com tristeza no olhar e saudade na voz, citado por esse online.
André, Fernando, Josias, Francisco e Eusébio são cabo-verdianos. Estão há dois meses fechados num barco de pesca. Vieram trazer o “Curralinho” aos estaleiros de Vila do Conde.
Apanhados no furação da pandemia, estão abandonados à sua sorte sem conseguir regressar a casa e com as famílias a passar fome. Dois colegas já fugiram.
Quando saíram do Mindelo, em Cabo Verde nem havia casos da COVID-19 na ilha São Vicente. Após 12 dias de viagem, os sete tripulantes chegaram a Vila do Conde a 24 de Março. Deviam ter regressado três dias depois.
“O capitão do porto (de Vila do Conde) disse que, de acordo com o delegado de saúde, tinham que cumprir 14 dias de quarentena. Em quarentena já vinham eles no mar há 12 dias! Tínhamos voos para eles dia 27. Não os eixaram sair daqui”, explica Paulo Ribeiro, o sócio-gerente da empresa dona do barco.
Dia 5 de Abril novo voo, nova recusa. No dia seguinte Cabo Verde fechou as fronteiras. Tinham contrato de trabalho por 12 dias, o tempo de viagem. Agora estão “presos” no estaleiro de Vila do Conde. André tem um irmão a viver no Porto. Era uma cama quente, um banho em condições, televisão, família. O capitão do porto diz que não podem sair do barco” explica indignada, Luísa Barreto, dona do esteliro “Barreto & Filho”, onde o “Curralinho” ficará em reparações.
“Jogar as cartas e passear em cima do cais. É isso”, diz Josias quando lhe perguntamos como passa os dias. O coração está apertado. A três mil quilómetros, todos deixaram mulher e filho, agora sem sustento”.
Paulo diz que já gastou “mais de oito mil euros”. Leva-lhes comida todos os dias, deu-lhes roupa, um telemóvel a cada um, mandou algum dinheiro para as famílias, mas agora também não sabe mais o que fazer. Cabo Verde está em cerco sanitário. A embaixada diz que não sabe quando abrirá fronteiras.
“No primeiro dia veio o SEF e a Capitania. A partir daí ninguém quer saber”, diz Luísa Barreto, mostrando a troca de emails com todas as entidades”.
À chegada a Vila do Conde, o estaleiro ficou “fiel depositário” dos passaportes dos sete cabo-verdianos. Luísa Barreto garante que o SEF lhe diz que é a “responsável” pelos pescadores. Mas, José Cosmo e Nelson Fernandes, ambos de 44 anos, fugiram do barco na sexta-feira. É que ao fim de semana, o “Barreto & Filhos” não trabalha e Luísa só deu pela fuga na segunda-feira. Comunicou às autoridades e o SEF repete-lhe que é a “responsável”.
“Eu não sou policial”, diz. Luísa sabe que um está na Figueira da Foz, o outro em Viana, “aliciado” por outro armador. “Recusam voltar e eu que posso fazer? Se fizerem alguma asneira, pago eu?”, questiona.
C/JN