O quarto período de estado de emergência para a ilha de Santiago, prorrogado ontem pelo Presidente da República, continua a suscitar opiniões contrárias, sobre os impactos da pandemia, tanto na vertente sanitária como económica.
À Rádio de Cabo Verde, o antigo ministro da Saúde, Dario Dantas dos Reis, considerou que a decisão não poderia ter sido mais acertada e diz ter encarado a medida com naturalidade, reconhecendo ainda não ter sido uma decisão fácil.
“Os estados de emergência anteriores foram muito mais fáceis de decidir. Neste momento existem vozes discordantes, como os presidentes da Câmara Municipal da Praia e da Boa Vista, que se declararam contra a prorrogação do Estado de Emergência”, recordou.
Não obstante, considera, compreende-se que a Boa Vista tomasse essa posição, já que estava há muito tempo sem novos casos. Dario dos Reis não concorda, entretanto, com a posição assumida por Óscar Santos.
“Relativamente a Santiago, o problema já não é tão nítido. As pessoas começaram a pesar bastante os problemas financeiros e sociais que se colocam com a continuação do EE”, defendeu, alegando estar convencido de que Jorge Carlos Fonseca decidiu pela prorrogação depois de “pesar” os dois lados e de ter ouvido todas as instituições.
Na contramão, o presidente da Câmara de Comércio, Indústria e Serviços de Sotavento, Jorge Spencer Lima alega que o PR não ouviu os representantes das empresas, que são as câmaras de comércio e que a medida não está a levar em conta a vertente económica.
“Estamos a raciocinar com base em uma única premissa, que é a premissa sanitária, a saúde e a vida das pessoas”, disse Spencer Lima que já havia mostrado reservas em relação a prorrogação do EE, ainda no seu segundo período.
“Se na primeira vez estivemos 100% de acordo, na sua segunda prorrogação já manifestamos as nossas dúvidas, ainda que não tivéssemos sido ouvidos. Desta vez não fomos nem tidos nem achados e estranhamos porque significa que estamos sendo postos de lado e que não se está a olhar para o outro lado da moeda, que mantém muitas famílias em estado de desespero”, admitiu.
Para Jorge Spencer Lima, não é à toa que muitas pessoas não estão a cumprir o isolamento na Cidade da Praia. Segundo diz, são pessoas que vivem o dia a dia a trabalhar para comer e não se pode exigir que fiquem em uma casa superlotada à espera de que algo caia do céu.
“Mesmo com algumas medidas de apoio às famílias mais vulneráveis, elas não estão a atingir uma parte significativa da população”, defendeu.
Segundo Spencer Lima, outro aspecto que se deve ter em conta é que daqui a quinze dias, período em que vigora o EE, a pandemia vai continuar a existir e vamos ter de coabitar com ela.
Quanto à sobrevivência das empresas, defende que o início do funcionamento o quanto antes, sob pena de muitas não sobreviverem aos problemas causados pela pandemia. “A crise já está instalada, as medidas do Governo vão ajudar a mitigar o problema, mas não vão resolvê-lo.”
Duvidando de que se possa novamente prorrogar o Estado de Emergência, Spencer Lima defende uma abertura gradual, acautelada, mas que também deve ser programada desde já.
A mesma posição é defendida por Dario Dantas. “Não podemos esperar que os casos desapareçam da Praia para se suspender o EE. Até este momento as medidas tomadas e o próprio estado de Emergência tiveram razoável êxito. Não estava na cabeça de ninguém fazer desaparecer o vírus. Aquilo que se pretendia era fazer com que o aumento de casos fosse muito progressivo e lento, para que as estruturas de saúde não explodissem com um pico da pandemia”, observou o ex ministro da Saúde.
Segundo Dario Dantas, o nosso sistema de saúde é relativamente bom, mas não estava preparado para abraçar toda esta complexidade da pandemia. “Estou convencido de que, mesmo com esse aumento progressivo, vai chegar uma altura que vamos começar a fazer internamento domiciliário e em outras instituições que não as hospitalares clássicas”, concluiu.