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Covid-19

Covid-19: Guias turísticos de Santiago com receio de ficarem a ver navios

O presidente da Associação dos Guias Turísticos de Santiago, Fredy Cardoso, receia que os profissionais deste ramo fiquem, com a crise da Covid-19, a ver navios. O impacto, como diz, já é perceptível e, mais do que isto, o momento deve ser aproveitado para regulamentar o sector com a devida legislação.

O presidente da Associação dos Guias Turísticos de Santiago considera que a pandemia da Covid-19 está a ter um impacto “enorme” e “desconcertante” para o sector do turismo e, consequentemente, na economia e no dia-a-dia dos guias turísticos. 

“A nível da ilha de Santiago, pelas informações que dispomos, desde o início de Fevereiro e até final de Março, as excursões que estavam agendadas, algumas há mais de seis meses, foram todas canceladas”, aponta Fredy Cardoso, realçando que a previsão, antes da crise da Covid-19, era boa para os meses de Março e Abril. 

“Tínhamos calendário cheio. Porém, passámos todo o mês de Março sem trabalhar e Abril também vai ser a mesma coisa. A partir de Maio até finais de Novembro, normalmente, era a nossa época baixa, pelo menos aqui, na ilha de Santiago. 

Sendo assim, vamos atravessar um grande período a ver navios e, se as autoridades competentes não olharem para a nossa situação, vamos ter enormes dificuldades para honrar os nossos compromissos, não só a nível fiscal, mas também para o sustento familiar”, avisa. 

Cardoso avança que em Santiago há cerca de 80 guias turísticos, conforme o registo feito na última formação. Destes, apenas 60 trabalham o tempo inteiro no sector, os restantes trabalham pontualmente como prestadores de serviços. 

“Com esta crise, todos nós nos encontramos praticamente na mesma situação, no mesmo barco e a ver navios, à espera de dias melhores”. 

 

 Medidas de mitigação 

O líder dos guias turísticos de Santiago mostra-se, contudo, esperançoso, de que não ficarão entregues à própria sorte. 

“O Sindicato do Turismo (SINTOUR), a Câmara de Comércio de Sotavento e os Ministérios de Turismo e das Finanças devem levar em conta a nossa situação e ter já alguma medida em pauta. 

O Vice-primeiro-ministro e Ministro das Finanças, Olavo Correia, reconheceu publicamente que, em média, aproximadamente 20 mil pessoas em Cabo Verde que trabalham ligadas a este sector ficarão afectadas com a pandemia. 

Estamos confiantes e a aguardar o resultado, tendo em conta que o Governo prevê algum retorno a nível financeiro até o final do mês de Abril”. 

 

Formas de beneficiar 

Segundo Fredy Cardoso, caso forem contemplados pelas medidas de mitigação da crise, os guias vão poder resistir melhor. “

Há um número reduzido de guias que trabalham em regime de contrato com as agências e estes devem ser enquadrados no pacote dos assalariados. Tendo um empregador estes têm um sistema de desconto para a segurança social e pode beneficiar a partir desta via”, aponta.

Já para os que trabalham por conta própria (freelancer), que são a grande maioria, Fredy assegura que os que estão enquadrados no Regime Especial das Micro e Pequenas Empresas (REMPE) vão poder beneficiar do pacote anunciado pelo Governo para este regime.

 “Aqueles que não podem ser abrangidos pelo REMP, uma vez que não têm empresa formada, devem ser enquadrados no grupo das rabidantes e condutores no sentido de beneficiarem também do subsídio de 10 mil escudos. Porque também ficaram sem nenhuma fonte de rendimento e a situação é grave”. 

 

Legislação 

Fredy Cardoso defende que para um melhor funcionamento da actividade de guias turístico no país, doravante, é preciso criar uma legislação para regulamentar o sector. 

“Os guias turísticos ainda não estão na carteira das profissões reconhecidos pelo Estado. Isso porque ainda não existe uma legislação a respeito. O que nos coloca no grande pacote de prestadores de serviços”, considera. 

O interlocutor do A NAÇÃO assegura que, tendo em conta a natureza e importância dos guias, estes merecem um tratamento diferenciado para que possam ser incluídos dentro dos pacotes de mitigação criados pelo Estado. 

“Só assim os guias vão poder continuar motivados para darem a sua contribuição para o desenvolvimento do país logo que as coisas voltar a normalidade”, afirma. 

Fredy Cardoso alerta que, caso contrário, os guias de um modo geral certamente vão cair no desânimo. 

“Estando desmotivados, certamente vamos partir para outros sectores de actividades que nos dê mais garantias, com prejuízos para o país, dada a falta de guias formados e com experiência. 

No contexto actual, além de saber falar línguas, é necessário que o guia turístico tenha competência e conhecimentos específicos para poder ser um intérprete socio-cultural, para que os monumentos e outros pontos actrativos do país para as visitas dos turistas não ficam vazias. 

O objectivo final dos turistas é passear no destino final para conhecer a realidade do país e não ficar dentro dos hotéis. E, neste capítulo, defende o nosso entrevistado, os guias têm um papel fundamental”.

SM

Publicado no A NAÇÃO, edição nº 657, de 02 de Abril de 2020

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