Por: Amândio Barbosa Vicente
Vou tomar de emprestado a teoria de Lavoisier: “neste mundo, nada se ganha, nada se perde, tudo se transforma”, transformou-se a matéria em éter, o fluido não visível e o Comandante Vieira Lopes partiu, ontem!
A história há de lhe reservar um lugar na primeira fila dos combatentes que lutam contra a injustiça, num país, onde os representantes do Estado são na maioria cínicos e maquiavélicos, homenageiam com cerimonias do Estado quem rouba os recursos do povo, escondendo atrás da presunção da inocência e perseguem os que defendem a justiça com toda força disponível que o Estado lhes dá.
Doutor Vieira Lopes teve uma vida de luta, a vida toda quase sozinho, enfrentou o totalitarismo do PAIGC, enfrentou o poder cínico do MPD, uma ditadura com o invólucro da democracia, lutou contra a máfia dos terrenos, o caso do Palmarejo – que ele chamou da maior burla na história de Cabo Verde. Teve tempo ainda de, em vida, ver o fruto da sua luta contra a corrupção! Saiu vitorioso nesta luta contra a máfia dos terrenos e, ontem, partiu com o dever cumprido, pois que toda trama da máfia dos terrenos foi desmontada e os criminosos estão sendo perseguidos pela justiça!
Nos meados de 2013 a 2015 tive no Dr. Vieira Lopes, a tabua de salvação, o homem que me ajudava a sobreviver face a tamanha perseguição no mundo laboral. “Ora, bolas, caraças, pá, este gajo em tudo traz a questão do profissionalismo” foram expressões a mim dirigidas pela minha então chefe, numa reunião do Conselho, para a discussão do orçamento da empresa e foi também a declaração de guerra que culminou com um processo disciplinar instaurado contra mim. Tive no Dr. Vieira Lopes um conselheiro que me ajudou a enfrentar o problema, a luta de David e Golias que representava o poder na altura.
Um Golias, um poder ditatorial em 2013, os donos do mundo, as estradas e as barragens construídas davam-lhes moral para tolher o livre pensamento. Quem me mandou atrever e tomar a palavra no Forum “Cabo Verde 2030” realizado na sala da Assembleia Nacional e dizer que “o turismo em Cabo Verde dava apenas trabalho de cozinha e de limpeza aos nacionais e que a grande riqueza produzida pelo turismo era exportada pelos donos dos capitais, para os seus países de origem, e que Cabo Verde devia olhar para o turismo como atividade complementar e nunca como atividade principal” (a atual crise mostra de que lado está a razão). Esta intervenção honesta foi o mote para a perseguição laboral que depois enfrentei. Tive no Comandante Vieira Lopes o apoio e a força para enfrentar o problema.
Parte um amigo, o Comandante Vieira Lopes, que foi um dos ideólogos do programa do PP no combate à corrupção neste país.
Perdi um amigo e Cabo Verde perde o seu expoente máximo da luta contra a corrupção e da luta a favor dos mais desprotegidos.
Até sempre Comandante Vieira Lopes!
Sal Rei, 04 de Abril de 2020.