Relatório de 2012 sobre fictícia pandemia de coronavírus publicado pelo Parlamento alemão chama atenção da opinião pública. Documento analisou efeitos de vírus surgido em mercado na Ásia e transmitido por gotículas. Publicado em janeiro de 2013 pelo Bundestag (Parlamento alemão), o “Relatório sobre Análise de Risco na Defesa Civil 2012” está sendo motivo de burburinho nas redes sociais da Alemanha, gerando até teorias da conspiração de que o governo em Berlim já sabia há muito da atual pandemia do coronavírus Sars- Cov-2.
O relatório engloba duas análises de risco para dois cenários hipotéticos: “Inundação extrema provocada pelo derretimento de neve das montanhas baixas”; e “Pandemia causada pelo vírus Modi-Sars”. As análises de risco servem para dar uma visão geral sobre quais eventos podem ocorrer e com que probabilidade, como também sobre a dimensão dos danos esperados no caso dos cenários fictícios.
Na análise de risco “Pandemia causada pelo vírus Modi-Sars”, o Instituto Robert Koch (RKI), agência do governo alemão responsável pelo controle e prevenção de doenças, e outras autoridades desenvolveram uma análise teórica baseada em surtos anteriores.
Como o Sars-Cov-2, causador da doença respiratória covid-19, o hipotético vírus Modi-Sars é um coronavírus. Segundo o relatório, a justificativa para “a escolha de um vírus do tipo Sars ocorreu, entre outros, no contexto de que a variante de 2003 levou vários sistemas de saúde de rapidamente a seus limites”.
Em 2002/2003, a disseminação da doença respiratória Sars fez com que mais de 8 mil pessoas adoecessem e quase 800 morressem em 25 países. Partindo desse fato, o relatório do governo alemão previu cenários fictícios, cuja semelhança com atual pandemia está chamando atenção da opinião pública do país. No relatório, os pesquisadores do Instituto Robert Koch imaginaram um cenário em que um coronavírus se espalha de um animal silvestre para o homem, num mercado no Sudeste Asiático, disseminando-se então para o resto do mundo.
O Modi-Sars é transmitido através de gotículas, podendo sobreviver alguns dias sobre superfícies. Os doentes apresentam tosse seca e febre. Um infectado pode transmitir o vírus para cerca de três outras pessoas. E, a princípio, não existem medicamentos ou vacinas contra o patógeno.
Na Alemanha, esse fictício vírus teria chegado por meio de várias pessoas, escreve a análise de risco, entre elas, um estudante universitário do sul do país que havia feito um semestre de intercâmbio na Ásia e um convidado de uma feira numa metrópole no norte da Alemanha.
No pico da primeira onda da doença, após cerca de 300 dias, por volta de 6 milhões de pessoas teriam sido infectadas pelo Modi-Sars no país, supõe o relatório, apontando que “cerca de 10% dos doentes morrem”.
A análise também prevê que, no caso de nenhuma medida de proteção civil ser tomada, o número de infectados deva aumentar para 19 milhões de pessoas na primeira onda da doença, com cada uma infectando outras três, em vez de 1,6 indivíduo numa situação de contramedidas oficiais no setor de saúde, que incluem “isolamento e quarentena”, escreve o relatório. A atual pandemia, no entanto, difere significativamente do cenário de 2012.
Na atual crise do coronavírus, muito menos pessoas morrem dos que os supostos 10% do surto do fictício Modi-Sars.
Embora a taxa de mortalidade ainda não seja clara, supõe-se que menos de 1% das pessoas infectadas por Sars-Cov-2 morram em decorrência da covid-19.
No cenário hipotético do Instituto Robert Koch de 2012, uma vacina só é encontrada três anos depois da eclosão da pandemia, ou seja, bem depois do que o previsto para o atual coronavírus: especialistas calculam que um agente imunizador contra o Sars-Cov-2 poderá estar disponível já no meio ou fim do próximo ano.
Independentemente da análise de risco hipotética de 2012, surge a questão em retrospecto se as autoridades alemãs subestimaram por muito tempo o novo coronavírus, diz reportagem da revista alemã Der Spiegel publicada nesta terça-feira (07/04). “Porque, o mais tardar desde o surto de Sars, em 2002, e na verdade ainda mais cedo devido ao vírus HIV, conhece-se o potencial de patógenos que podem passar de animais para humanos”.
Fonte: DW