Eram 7 horas da manhã deste terceiro dia do Estado de Emergência em Cabo Verde.
O A NAÇÃO saiu à rua para espreitar o movimento de pessoas que a essa hora se deslocam ao trabalho (ao menos num dia normal de trabalho).
Começamos o nosso passeio pela zona de Ponta D’Água, onde nos deparamos com ruas vazias e um silêncio de todo incomum a uma cidade como a Praia.
Não estamos surpresos, pois é isso que se espera que as pessoas façam, seguindo as medidas de prevenção, para o bem de todos. A sensação é de estranheza.
Hoje a ronda faz-se a pé para sentir mais de perto a vida que desvanece nesta cidade normalmente super agitada.
Na estrada, de vez em quando aparece um ou outro táxi. Com alguma frequência passa por nós um carro de rusga da Polícia Nacional ou então esbarramos com um ou dois agentes em alguma esquina.
Autocarros, somente para o transporte de funcionários de algumas empresas públicas. A capital está despida da sua vivacidade. Por onde se costumava andar em passeios fartos de vida humana, caminha-se tranquilamente sem ninguém que nos faça apressar os passos.
De repente, o frenesim de crianças, estudantes e trabalhadores repousa em casa e a cidade dorme. Parece mais um feriado nacional daqueles onde toda a gente aproveita para dormir até mais tarde.
Mas é uma terça-feira, que poderia ser um dia normal, não fosse a imposição da pandemia do coronavírus, que sequestra a vida das cidades e países um pouco por todo o mundo.
A Covid-19 chegou sorrateira para nos tirar a todos a normalidade dos nossos dias. Questiono-me qual será o nosso conceito de normalidade e quando poderemos retornar a ela. Se voltaremos ao normal de sempre ou se será reinventado um novo “normal”.
Já são 8 da manhã e o cenário permanece quase o mesmo. Em Bairros como Ponta D’Água e Safende, algumas mercearias e minimercados começam a abrir timidamente as portas.
À porta das casas começam a aparecer pessoas que fitam a rua como se observa o desconhecido. Outros formam grupinhos à conversa, tranquilos, como se estivessem num mundo paralelo.
Agentes da Polícia Nacional começam a chamar a atenção dessas pessoas para o risco de se estarem a agrupar e questionam a necessidade de estarem na rua. Escutam e concordam com a cabeça. O carro da polícia segue o seu caminho e estes permanecem no mesmo lugar. A conversa regressa a seu ritmo e ignoram completamente a chamada de atenção que acabaram de receber.
Começam a aparecer algumas pessoas que parecem esperar transporte para trabalhar. Os táxis são escassos e passam quase sempre ocupados. As ruas continuam quase desertas e o movimento de carros não chega nem perto daquilo que costuma acontecer, lá está, num dia normal.
Hoje não há engarrafamentos. A capital parece adormecida.
NA