Por: Filinto Elísio
Considerando o agravamento da pandemia do novo coronavírus, que causa a doença Covid-19, e em atenção às medidas de proteção da saúde coletiva, o momento que vivemos, até há pouco de contingência, pode agora ser considerado de emergência. Esta é uma pandemia de proporções desastrosas e transbordantes. A colocar em causa a vida que nos acontece.
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Enquanto a vacina não chega é preciso insistirmos no isolamento e pararmos as interações sociais em presença, lavarmos as mãos, evitarmos tocar nos olhos, nariz e boca – isto da parte de cada um de nós. Ao mesmo tempo, é preciso não perdermos a ternura, a solidariedade e a esperança, que não são palavras vãs. O amor, este fogo que arde sem se ver, é um grande bálsamo “em tempos de cólera”.
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Enquanto gerimos as nossas ansiedades e, convenhamos, as nossas angústias, é preciso que o Estado – isto da parte de todos nós -, mais autoridade que nunca nesta crise epidemiológica e sanitária, nos garanta as macro-decisões e as medidas excepcionais, como aparelhar hospitais com profissionais, testes, camas e ventiladores, suspender escolas e serviços, assim como eventos, públicos e privados, que impliquem ajuntamento público, condicionar fronteiras, ao mesmo tempo que permita o “oxigénio económico”. Que a vida passa (deixemo-nos de ingenuidade) por salvar também a economia, ainda que, por ora, cem respiração assistida.
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No articular das coisas – desde da nossa higiene mais exigente à reconfiguração orçamental, passando por não deixar morrer os idosos e os doentes crónicos -, temos de repensar a vida. Há uma formatação a fazer-se na nossa forma de ser e de estar em sociedade, em comunidade e em família. Ressignificar as nossas metas, torná-las mais resilientes e sustentáveis. Prepararmo-nos, com conta, peso e medida, para a vida que nos acontece…como um milagre!
Publicado no A NAÇÃO, nº 655, de 19 de Março de 2020