Por: Ursula von der Leyen*
e Moussa Faki Mahamat**
A União Europeia e África são parceiros estratégicos de longa data e a sua prosperidade e segurança estão estreitamente ligadas. A parceria entre África e a Europa atingiu a maioridade, pelo que é altura de ampliar os seus desígnios. África quer tomar as rédeas do seu próprio destino e a Europa precisa de uma África forte. As nossas aspirações são coincidentes. Queremos promover as mulheres e criar emprego para os jovens, fomentar a inovação digital, impulsionar o crescimento económico sustentável, proporcionar novas oportunidades e silenciar as armas em África. Estamos ambos dispostos a fazer a nossa parte para alcançar estes objetivos.
Nos próximos meses, os dois continentes debaterão a forma de concretizar os seus propósitos. Recentemente, a Comissão da União Africana e a Comissão Europeia realizaram a décima reunião entre os dois colégios. Foi a primeira etapa de um ano que pode redefinir a cooperação entre os nossos continentes através de uma série de reuniões de alto nível que culminarão na Cimeira UE-UA de outubro.
Os nossos dois continentes estão em rápida mutação e o mundo é hoje muito mais complexo, mas a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável e a Agenda 2063 da UA mostram que, se a Europa e África unirem forças, podemos criar um novo paradigma de multilateralismo e um futuro melhor para as próximas gerações.
Precisamos de uma parceria mais forte para enfrentar os grandes desafios dos nossos dias, sejam eles a transição para uma economia verde ou a transformação digital, temos que dar resposta às aspirações dos nossos jovens, combater as desigualdades e aliviar o sofrimento dos refugiados, das pessoas deslocadas e das vítimas de violações dos direitos humanos.
O crescimento económico em África continua a ultrapassar o dos outros continentes. Serão africanas as economias de mais rápido crescimento do mundo nos próximos anos. Os enquadramentos empresariais estão a melhorar e a revolução digital avança rapidamente: três em cada quatro africanos têm telemóvel e as empresas africanas em fase de arranque atraem investimentos de todo o mundo. A Zona de Comércio Livre Continental Africana, ao criar um mercado de 1200 milhões de pessoas, tem um efeito potenciador destas tendências, mas é preciso resolver os problemas de conectividade e colmatar o défice de competências no mercado de trabalho através da educação e da formação. Podemos intensificar a utilização das tecnologias digitais apoiar o desenvolvimento, a transformação económica e as empresas.
A nossa cooperação assenta, desde há mais de duas décadas, nas nossas organizações congéneres. A UE, enquanto bloco, é o primeiro parceiro de África em matéria de comércio, investimento, ajuda ao desenvolvimento e segurança, e África, no seu conjunto, é o terceiro maior parceiro comercial da UE.
Estamos a trabalhar em estreita colaboração para concretizar a iniciativa africana de silenciar as armas. A Europa apoia as soluções africanas para os problemas de África. Comprometemo-nos ainda a prestar o nosso apoio às instituições africanas perante a evolução das ameaças à segurança, como o terrorismo, o tráfico e a criminalidade transfronteiras.
Reconhecendo que África é particularmente afetada pelas alterações climáticas, os dois continentes desempenharam um papel fundamental na adoção do Acordo de Paris e dos seus objetivos ambiciosos em matéria de ação climática. A Europa pretende tornar-se neutra em termos climáticos até 2050 e África quer juntar às políticas de mitigação e adaptação o desenvolvimento de vias de industrialização e urbanização mais limpas. Juntos devemos promover soluções tecnológicas sustentáveis que preservem o planeta
Este ano, queremos mudanças concretas para os cidadãos africanos e europeus. Podemos assistir na década de 2020 ao nascimento de uma nova amizade, mais madura, entre os dois continentes. Juntos podemos encontrar soluções que funcionem para África e para a Europa.
*Presidente da Comissão Europeia
** Presidente da Comissão da União Africana
(Publicado no A NAÇÃO impresso, nº 653 de 05 de Março de 2020)
