Os grupos Vindos do Oriente, Estrela do Mar e Flores do Mindelo anunciaram a sua
desvinculação da Liga dos Grupos Oficiais do Carnaval de São Vicente (LIGOC), na sequência do
que consideram “violação grotesca” dos regulamentos da liga, no entanto nunca aprovados, e
que ditaram os resultados do carnaval 2020.
Este conjunto de três grupos dizem-se todos muito prejudicados pela liga nos desfiles de
carnaval e acusam a utilização de medidas diferentes para pesos iguais, por “negligência ou má
fé”.
Depois de uma análise de todos os dados que envolveram o processo, desde a direção,
julgamento e apuramento dos resultados do concurso, Dirce Vera Cruz, membro do grupo
Vindos do Oriente, diz que as irregularidades começaram na nomeação dos novos quatro vice-
presidentes da direção executiva da LIGOC, já que os anteriores se demitiram todos.
“Em caso de vacatura dos cargos, deve ser apresentada uma proposta ao Conselho
Deliberativo, constituído pelos cinco presidentes dos grupos, mediante um parecer desse
conselho. Este parecer não aconteceu, ou seja, os quatro presidentes que constam dessa
Direção Executiva estão ilegitimamente eleitos”, esclarece.
Para agravar, acresce Eva Marques, membro do Estrela do Mar, um dos vice-presidentes
eleitos, que foi também o diretor do carnaval 2020, foi membro da direção do grupo que
acabou por consagrar-se campeão no carnaval 2020. “É este mesmo vice-presidente que
escolhe o corpo de jurados que avaliou a prestação dos grupos no concurso”, explica.
Por outro lado, continua, a formação dos jurados foi feita pela vice-presidência do grupo
Monte Sossego, campeão do carnaval 2020. “Àartida o corpo de jurados está comprometido
uma vez que foi formado, guiado e instruído pelo vice-presidente do grupo vencedor. A partir
dai compreende-se todas as violações que vamos encontrar também durante o julgamento do
concurso.”
Estas são, segundo estes grupos, prova da ineficiência, no mínimo, ou da má fé da LIGOC,
sobre o facto de o regulamente nunca ter sido aprovado e estar a ser discutido até poucos dias
antes do carnaval.
Sobre o julgamento do concurso, Eva Marques diz que foram utilizadas medidas diferentes
para o mesmo peso. Como exemplo, apontam várias penalizações aplicadas a alguns grupos e
não a outros, ou ainda, pontuações desequilibradas dos júris em cabines diferentes sobre o
mesmo grupo ou a mesma situação.
“O Vindos do Oriente, por exemplo, foi penalizado em 1,5 pontos negativos, quando, segundo
explicam, o seu desempenho foi prejudicado pelo grupo Monte Sossego, que não conseguiu se
dispersar a tempo e este não foi penalizado” explica.
Do mesmo modo, o Estrela do Mar, que entrou na Rua de Lisboa com uma hora de atraso, foi
penalizado quando, na verdade, o atraso foi da responsabilidade da liga, que não conseguiu
colocar os reis e rainhas nos carros alegóricos a tempo.
Diante destas situações, estes grupos decidiram desvincular-se da liga, mas ainda não
tomaram uma decisão sobre a impugnação ou não dos resultados do concurso.
Ainda as direções de todos os grupos vão se reunir para discutir e compreender os resultados
do carnaval 2020, mas, segundo explicam, não se trata dos resultados, mas sim a qualidade do
carnaval de São Vicente.
Recorde-se que, logo a seguir ao anúncio os resultados do carnaval 2020, o presidente do
grupo vencedor, António Duarte, anunciou que deixaria a presidência do Monte Sossego e o
carnaval do Mindelo.
Em entrevista ao A Nação, há poucos dias do carnaval, Patxa, como é conhecido, já havia dito
que a LIGOC veio para melhorar o carnaval de São Vicente, mas que, no momento, passava por
um problema de liderança.
Também o carnavalesco Fernando Morais, responsável pela confeção dos andores do Vindos
do Oriente em 2020 e que já passou por quase todos os grupos de carnaval mindelense,
anunciou que vai se aposentar, por estar magodo com situações estranhas ao carnaval do
Mindelo.
NA
*Foto meramente ilustrativa