Por isso, inicialmente em Santiago não se falava em casamento como matrimónio, mas sim, como uma união de laços, de afinidades e de inter-ajuda, considerados pontos fulcrais na família tradicional cabo – verdiana. Não é por acaso que se encontra no seio da família tradicional “irmãos” que não são de sangue mas que foram criados por mesma linhagem.
Na tradição do casamento iremos encontrar um ponto alto que é a festa, porque era escasso homem e mulher que se casavam, e quando isso acontecia o motivo era festejado com muita pompa, o que ainda hoje acontece no casamento.
São esses factos que fazem com que o casamento seja algo extraordinário tornando-o num ato nobre, principalmente quando um homem livre encontra uma mulher também livre e terem o privilégio para celebrarem o ato de amor.
Mas antes da cerimónia oficial do casamento, os namorados têm que ter aprovação dos pais da noiva.
Na tradição santiaguense, um grupo de pessoas próximas do namorado dirige-se à casa dos familiares da namorada para pedir a mão desta em casamento. Muitas vezes havia consentimentos e outras não.
Não havendo permissão por parte da noiva, ou ,dos pais desta , o homem mostra o seu “machismo”, “rapta” a noiva à força para casa dos seus parentes. Depois do facto consumado, cabe a estes informarem à família da mulher raptada, o paradeiro desta até que a situação seja resolvida. Às vezes pode dar num casamento ou acabam por viverem maritalmente.
A beleza do casamento
A festa começa com a cedência da rapariga em casamento, que já fica considerada noiva. A tradição manda que ela passe a usar cordão branco na cabeça até ao enlace, como sinal de mulher comprometida.
Uma das formas de celebração é fazer a publicação do ato perante a igreja e sociedade, e, isto era motivo de festa e alegria.
A festa era tão grande que a noiva não podia vestir-se de preto durante 1 ano, mesmo que se lhe morresse um familiar perto (os pais).
A outra parte que também é marcante na tradição em Santiago é a de não se poder fazer celebração do casamento na época de quaresma, porque não é uma altura ideal para a festa, principalmente numa sociedade maioritariamente católica, que é considerado época de jejum.
O termo muito antigo e sem tradução “Kabum” é usado como um pré-aviso daquilo que não é aceitável ou não é bom. O mês de Agosto também não é muito aconselhável para o enlace, por causa da sementeira, e, todos têm que estar atento às chuvas: perder uma chuva é perder uma “as água” , ideal é a de Maio a Julho, considerados meses de festas e arraiais (festas tradicionais). Se chover no dia de casamento atribuem culpa ao noivo que escolheu um mau dia para se casar.
“Chuva no dia do casamento é sinónima de homem que come na panela” um dizer de santiaguense.
O aspecto da festa
O foguete dá sinal de festa. A falta de previsibilidade faz com que haja comida para todos. No casamento tradicional santiaguense, feijão pedra , bode, xerém não podem faltar. São sinais de festa “rija”.
Os dias que antecedem ao casório, todos os familiares juntam-se em casa da noiva para preparação da cerimónia, é um momento de muitas comemorações. Mas, a festa não é só por causa do casamento em si, mas também, por falta falta de abrigo porque muitas vezes a casa tem poucos compartimentos, então faz-se a festa com o objectivo de todos ficarem acordados durante a noite. Nas tradicionais «tchabetas» da batucadeiras, a noiva é chamada para o terreiro para dançar e cumprimentar os presentes.
O aspecto de bênção no casamento
Bênção é uma nota forte no casamento tradicional. Durante a cerimónia os noivos devem ser abençoados pelo padre, e em casa também serão abençoados pelos pais.
É obrigatório ter pessoas de família para os receber e dar bênção.
O ritual de Bênção
Ao homem é dado uma bênção para “fora de casa” pois é ele quem trabalha e trás a comida à casa, ao contrário da mulher que recebe bênção para dentro de casa, ela que tem o papel de cuidar e preservar a família.
O «copo de água»
O copo de água é servido em casa dos pais da noiva. A meio da festa, ela desaparece misteriosamente, mas, por detrás disso, tem um aparato de formalidades. Pessoas que esperam num lugar meio escondido para fugir com a noiva que passa a pertencer a família do marido. Junto com a fugitiva levam a sua mala ou “trouxa” com os seus pertences. A mãe ao dar por falta da filha chora a perda do elemento da família.
A festa continua em casa dos pais do noivo, que vê o seu elenco familiar acrescido com a chegada da nova que passa a ser considerada uma “filha”.
Trabalho de: Cândida Barros
Fonte: Padre Constantina Bento
Casamento Tradicional em Cabo Verde- Rituais
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