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Saúde

Lepra: Jornada Mundial lembra que (ainda) não foi erradicada

O objectivo da iniciativa é sensibilizar a população e as autoridades sobre a doença, que surgiu na Antiguidade, mas que ainda não foi erradicada.

A estimativa é que 210 mil novos casos sejam diagnosticados todos os anos. “O paciente que tem Lepra pode ser tratado e curado. É preciso colocar um ponto final na rejeição aos doentes, que ainda existe em todos os países. É preciso lutar contra o ostracismo e pedir mais solidariedade em relação aos mais pobres”, disse, em entrevista à RFI-Brasil, o especialista em doenças tropicais, Bertrand Cauchoix.

O médico é uma das maiores referências científicas em Lepra e Tuberculose no Mundo e está passando duas semanas em Paris (vive em Madagáscar, na África Oriental), onde é conselheiro médico da Fundação e supervisiona as pesquisas e a acção das equipas do Ministério da Saúde naquele País banhado pelo Oceano Índico.

 

Doença tem tratamento e cura
A Hanseníase é uma Patologia infecto-contagiosa, que provoca lesões cutâneas, com diminuição de sensibilidade térmica, dolorosa e tátil. Seu agente causador, o Bacilo “Mycobacterium leprae”, foi identificado em 1873 e atinge as células cutâneas e nervosas do Sistema Periférico. O tratamento usa anti-bióticos como a Rifampina. Ele deve ser usado de seis até 12 meses, dependendo do estágio da doença e outras moléculas são associadas nos casos mais graves.

A Lepra tem cura, mas pode deixar graves sequelas físicas e deformações nos membros. Ainda está presente em 143 países. Apenas 12 por cento (%) deles concentram 94% dos casos identificados. A Índia e Madagascar são os mais atingidos.

A população afectada (em geral) vive em condições de extrema pobreza, em áreas rurais e sem atendimento médico. Os doentes ainda são estigmatizados: isso se deve a práticas passadas, quando eram isolados do resto da sociedade.

 

Cabeça coberta e “L” na mão
Nos anos 30, no Brasil – como citam historiadores -, os pacientes eram obrigados a andar com a cabeça coberta e calçados, e usar roupas com cores específicas e sinais como a letra “L” na mão, para identificá-los.

O Brasil ainda ocupa o segundo lugar do mundo entre os países que registram novos casos de Hanseníase, segundo o Ministério da Saúde.

Os doentes vivem, principalmente, no Norte e Nordeste. No ano passado, o Presidente Jair Bolsonaro reconheceu que essa posição é uma “vergonha”.

Para o especialista francês, essa situação reflecte as desigualdades existentes nos países menos desenvolvidos. “Nas conferências internacionais, trabalhamos muito com o Brasil, onde existem laboratórios de ponta, que trabalham com testes de resistência dos anti-bióticos e diagnósticos. Paradoxalmente, em áreas como a Amazônia, a penetração do Sistema de Saúde não acontece da maneira como deveria”, compara Bertrand Cauchoix.

 

Quimio-Profilaxia
Bertrand Cauchoix supervision, actualmente, um estudo em Madagáscar, iniciado no ano passado, sobre a “Eficácia da Quimio-Profilaxia” – um tratamento preventivo para pessoas que vivem perto de um doente.

A ideia – explica -, é impedir o desenvolvimento da doença, que pode demorar anos para se manifestar. Na primeira fase da pesquisa, cerca de 30 mil pessoas foram examinadas, o que mostrou que havia um número bem maior de contaminações – até cinco ou dez vezes mais – do que havia sido recenseado.

“Nosso estudo em Madagáscar consiste em saber se essa Profilaxia é viável em larga escala e se podemos prescrever os medicamentos para uma grande população, na tentativa de diminuir a emergência de novos casos. Não é simples: a questão que se coloca é se devemos dar um tratamento preventivo para alguém, sem saber se está, de facto, doente”, explica Bertrand Cauchoix.

As equipas do professor francês vão até vilarejos sem acesso a atendimento médico para visitar doentes e suas famílias. “Se as pessoas não são diagnosticadas é porque não existe médico, enfermeira, ou medicamentos disponíveis. É uma doença da pobreza extrema e, infelizmente, os sistemas de Saúde nesses países são desiguais entre ricos e pobres”, realça.

 

Sorologia
A despistagem sorológica, através de um exame de sangue, implica outros problemas estruturais em áreas afastadas. Segundo o especialista francês, nos próximos três anos, a equipa saberá se a nova terapia preventiva é viável.

“O interessante desse estudo em Madagáscar é que, indo à casa das pessoas, passamos à despistagem activa, em oposição à despistagem passiva, defendida pela OMS (Organização Mundial da Saúde) há cerca de 20 anos e que eu e muitos consideramos como um erro”, diz.

“Se você não faz uma consulta para verificar se tem uma lepra no início, não será considerado como um doente, mas na verdade tem a doença”, explica. “Há um debate. A OMS começa a aceitar certas estratégias. No início havia certas reticências. Não podemos afirmar que a Lepra foi erradicada”, alerta Bertrand Cauchoix.

A pesquisa é financiada pela Fundação francesa. A doença – diz Cauchoix -, não interessa aos laboratórios farmacêuticos, pelo pouco retorno financeiro que o investimento representaria, e os Estados mais ricos, onde a doença é inexistente ou pouco presentes.

“O financiamento é quase totalmente caritativo. Em nosso estudo, especificamente, a União Europeia contribui somente com o custo da pesquisa”, ressalta, a modos de conclusão.

Com: RFI

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