O desejo de conhecer e desmistificar o mundo levou o engenheiro florestal brasileiro Guilherme Canever a tirar um ano sabático com a esposa para, literalmente, se aventurar no desconhecido. Já viajou por mais de 130 países e, pela sua diversidade, elegeu a África como o seu continente favorito. Encontra-se em Cabo Verde, mais precisamente em São Vicente, onde diz encontrar-se em casa.
Neto de um grande pesquisador na área de geologia, a paixão de Guilherme Canever por viagens começou ainda pequeno, no seio da família, alimentada pelas inúmeras expedições do avô, João José Bigarella.
Começou com pequenas viagens e acampamentos na América do Sul, até que, em 2009, decidiu sair para um ano sabático com a esposa, Bianca.
O objectivo era fazer uma pausa na carreira de engenheiro florestal e repensar o estilo de vida que seguia na altura.
Até então conhecia o continente africano de fotos e vídeos, mas, como conta, tinha esta grande curiosidade de viajar e conhecer de perto aquilo que muitas vezes é encarado, sobretudo no Brasil, como um todo homogéneo: África.
Primeira aventura
A primeira viagem começou na Cidade do Cabo, na África do Sul, e foi até Muscat, em Omã, numa aventura de mais de seis meses, unicamente por terra, por quinze países africanos.
“Foi uma viagem que me marcou muito, por conhecer as ligações com o Brasil, e descobrir coisas que não estava na mídia nem nos livros de história”, diz ao A NAÇÃO.
Dessa viagem surgiu o livro “De Cap Town a Muscat: uma aventura pela África”, que fala, num estilo de relatos de viagens, de países e lugares desconhecidos pelo mundo, pouco explorados e de culturas diferentes, na perspectiva de um brasileiro.
Esse foi o primeiro livro do autor, seguindo-se “De Istambul a Nova Delhi: uma aventura na rota da seda”, na Ásia Central, e “Uma viagem pelos países que não existem”, que retrata países da África, Ásia e Europa não reconhecidos pela ONU.
No seu quarto livro, “Destinos Invisíveis: uma nova aventura pela África”, Guilherme Canever retoma as viagens pelo continente africano e apresenta mais dezoito países, numa coletânea onde, além da percepção do escritor enquanto viajante, o leitor conhece um pouco da história e cultura de cada destino.
“Apesar deste ser o quarto livro, antes de escritor, eu me considero um viajante e um grande curioso, apaixonado pelo mundo”, confessa.
A motivação deste viajante não está em atingir nenhum recorde ou “saltar de país em país”, mas, acima de tudo, ir à raiz e conhecer a cultura e a história de cada nova paragem.
Em Cabo Verde, o nosso entrevistado diz-se impressionado pelas semelhanças com o seu país, nomeadamente no que concerne a sua história e contornos coloniais: “No Brasil, as pessoas falam da África como um todo. São 54 países membros na Nações Unidas, tratados como iguais, apesar de muito heterogéneos.”
E é precisamente por isto que este último livro se chama “Destinos Invisíveis”. Para fugir, segundo explica, da visão eurocêntrica com que as coisas são vistas no Brasil.
“Na escola, não aprendemos sobre grandes civilizações africanas. Eu quis ir para estes lugares para participar, conhecer e interagir da melhor forma com o local e com as pessoas. Portanto, eu não diria que seja uma viagem de turismo, mas sim de conhecimento.”
Desmistificar
O objectivo passa também por desmistificar ideias pré-concebidas deste continente e que podem inibir, de certa forma, que as pessoas o elejam como destino.
No sector do turismo, Guilherme Canever defende o tipo de turismo que interage com o país e que conhece a fundo a sua cultura e história, para além do turismo de resorts.
“O Zimbabué, por exemplo, recebe muitos turistas, mas, vão para as Cataratas Vitória, na fronteira com a Zâmbia e voltam. Enquanto isto, existem diversas vertentes no país que acabam não sendo conhecidas.”
Sair de casa, sem ideias pré-concebidas e com uma mente aberta a receber experiências diferentes, debater e assimilar choques culturais e/ou sociais e tentar enxergar o mundo do ponto de vista de cada região, sem julgamentos é a forma como Guilherme e sua família encaram as viagens. “O que erroneamente as pessoas chamam de exótico é na verdade a realidade de cada povo e, quando nós chegamos lá, somos também diferentes”, defende.
Cabo Verde na rota
Até o último livro, foram 35 países africanos visitados. Mas as viagens continuam, e desta vez o viajante desembarca no Mindelo, onde aproveita a estadia para apresentar, no Centro Cultural, “Destinos Invisíveis: Uma nova aventura pela África”, no dia 04 de Janeiro.
Guilherme Canever não se vê como um “colecionador” de países, portanto, não sabe se vai concluir a viagem pelo continente, nem se escreverá um novo livro no qual Cabo Verde viria a figurar. “Se fosse para escolher um continente para conhecer todos os países, eu acho que seria a África”, conclui.