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Economia

Jorge Maurício, PCA da ENAPOR : “Este ano devemos ultrapassar um milhão de toneladas de carga no Porto Grande”

O Porto Grande do Mindelo (na Ilha de São Vicente) deve ultrapassar, este ano, um milhão de toneladas de carga movimentada. A informação foi avançada ao A NAÇÃO por Jorge Maurício, presidente do Conselho de Administração da ENAPOR. Esse responsável revela alguns dos números que traduzem o crescimento deste porto e, entre outros dados, explica o porquê das obras do terminal de cruzeiros ainda não terem arrancado. O “bunkering” – garante -, tem crescido “e muito”. 
A NAÇÃO – A movimentação de navios de cargas é um dos maiores activos do porto Grande. Essa movimentação satisfaz? 
Jorge Maurício – Satisfaz. Mas nós queremos sempre mais. E é esta, também, a nossa missão. Mas eu costumo dizer que nós não conseguimos nunca crescer mais que a nossa população, e nem mais que a nossa economia. Portanto, são dois elementos essenciais, e que determinam o crescimento também dos portos. Mas, nós, ainda assim procuramos, e fazemo-lo de forma diferente. Aumentamos à custa do mercado internacional. E no mercado internacional há o transbordo. E, nós, aqui, fazemos, para além do transbordo dos contentores, também o transbordo do pescado. 
A operação de pescado que se faz aqui em São Vicente é muito importante para Cabo Verde. Recebemos mais de 350 navios de pesca, por ano. E já fazemos mais de 40 toneladas, por ano. Isto movimenta mais de 17 milhões euros, por ano, em São Vicente. Portanto, é um tráfego importantíssimo para nós, e é um tráfego internacional. Ou seja, na verdade, somos um dos maiores exportadores de serviço, a nível nacional. Para além da fir oceânica da ASA, nenhum outro sector exporta mais do que os portos de Cabo Verde, senão o Turismo que também é forte. 
E esses números têm vindo a aumentar nos últimos anos? 
Tem aumentado, não só o tráfego de navios, como também a quantidade do tráfego. Hoje há mais carga, há mais pescado. Isso é bom porque faz-se o transbordo aqui da carga e descarga, e, depois, há uma logística de contentorização, a utilização do entreposto frigorífico do Porto Grande e, depois, há a reexportação do pescado. Isto acaba por ter duas valências importantes para o sector portuário. Porque promove não só a carga de importação, mas também de exportação. E tem crescido e, isso, proporciona muito emprego e acaba por ser determinante na vida do porto, e também da própria ilha. 
Quantas pessoas trabalham no porto incluído estivadores?
Eu habitualmente digo, e gosto de reforçar isto, o porto é dos únicos sectores que provoca emprego directo, indirecto, induzido e emprego relacionado. Nós, aqui, produzimos muito emprego. Só para dar um exemplo, há dois meses atrás, num mês só, foram recrutadas mais de cinco mil pessoas para trabalhar apenas no tráfego do pescado. Cinco mil pessoas é um número considerável.
São empregos sazonais…
Sem dúvida, mas acabam por trazer muitos benefícios. Há a tráfego habitual, normal, que está a crescer. Este ano, eventualmente, devemos ultrapassar um milhão de toneladas de cargas no Porto Grande. No porto da Praia, eventualmente, vamos passar também. E a nossa meta, na globalidade, é, dentro de pouco tempo, passarmos a barreira de três milhões de toneladas em Cabo Verde. 
Estamos a falar de que percentagens em termos de crescimento? 
Nos últimos três anos, temos tido um crescimento à volta de 11 a 12 %, o que é muito bom. 
Esse crescimento resulta do quê? 
É resultado não só do movimento no porto, mas também da administração da empresa, que tem a sua orientação estratégica que tem influência no aspecto estratégico dos tráfegos internacionais, que nós trabalhamos, mas também a nível do preço da competitividade nesse domínio. Mas, acima de tudo, deve-se ao crescimento económico. 
Portanto, o país a crescer 5 a 6% ao ano, acaba também por influenciar directamente a vida do porto. Aliás, não havendo crescimento económico e populacional, os portos seriam praticamente utilizados para o tráfego internacional. E neste aspecto esses factores têm condicionado e nós temos crescido muito, 11 a 12%, o que é óptimo, quando o normal, o habitual, é entre 3 a 5% ao ano.  Isto demostra também uma vitalidade mais da economia nacional do que do próprio porto. 
Contentorização lidera 
A contentorização representa a maior fatia do negócio portuário?
Sim. É o que traz mais carga. Não só em quantidade unitária, mas também em toneladas, mas, acima de tudo, em termos financeiros. É o que gera mais tráfego, mais valor acrescentado, financeiramente, para o porto. E, também, financeiramente para os trabalhadores, pois é na movimentação de carga  onde há maiores salários para os estivadores. Portanto, o tráfego de contentores é muito importante. 
Volta  e meia os estivadores estão greve. Como está a situação, tendo em conta que são uma peça da actividade de um porto?
Isso depende, às vezes, da relação. E a nossa relação com a classe do trabalho portuário e com os próprios sindicatos tem sido diferente. Temos uma relação intensa, uma troca de informação constante. Saber comunicar bem com os trabalhadores e com os seus representantes. Isto tem sido muito importante. Se repararmos, era habitual termos greve no sector portuário, hoje, nos últimos três anos, só tivemos uma greve no porto da Praia, há cerca de um ano e meio. E uma greve infundada. Depois os trabalhadores acabaram por entender, e  questionar porque é que isso não foi feito há muito tempo. Até era uma reforma muito interessante, muito boa até para os trabalhadores, mas que não foi compreendida porque não houve a tal comunicação bem feita. E, isto, temos melhorado muito. 
Temos dois pilares importantes, a comunicação e recursos humanos para o desenvolvimento da empresa.  A comunicação é uma luta intensa, nossa. Não só interna como externa. A comunicação externa tem sido melhor avaliada é verdade porque nós fazemos avaliações periódicas e ainda temos muitas lacunas a nível da comunicação interna, porque somos uma empresa enorme com mais de mil de trabalhadores. 
GC
(Publicado no A NAÇÃO impresso, nº 640, de 05 de Dezembro de 2019)

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