Há fortes indícios de infiltração do narcotráfico na Polícia Nacional (PN), através de um suposto grupo de agentes que consomem drogas pesadas. Uma alta patente dessa Corporação revela que vários efectivos têm sido encaminhados para tratamento de desintoxicação. Mas não é só na PN que o problema da infiltração se coloca.
A recente medida de coacção de prisão preventiva aplicada ao agente suspeito do homicídio de Hamilton Morais (Tutú), ocorrido na madrugada do dia 29 de Outubro (na Cidade da Praia), veio confirmar a tese do A NAÇÃO de “fogo amigo”, ou, eventualmente, de “fogo negligente”. Tirando este Jornal, mais nenhum outro órgão de comunicação abordou a questão nesse ponto de vista.
Por outro lado, fica no ar uma certa incógnita em relação ao episódio e às circunstâncias que ditaram a morte de Hamilton Morais, sobretudo, depois da declaração do director Nacional da PN, Emanuel Moreno, que, contrariando a Polícia Judiciária e até o tribunal, afirmou, praticamente um mês após a ocorrência, de que, “em princípio”, tratava-se de um “acidente”.
Mas, alguns especialistas, contactados por A NAÇÃO, não descartam a hipótese de envolvimento de narco-traficantes nesse alegado “acidente”, que vitimou Hamilton Morais, que, conforme avançamos na edição nº 637 deste jornal, estaria a investigar um eventual infiltrado na PN.
Uma certa protecção que alguns traficantes, na Cidade da Praia, gozam, alegadamente, no seio da PN, “é um facto”, afirma o nosso interlocutor.
“Fornecem drogas a determinados agentes e até mesmo graduados, para o consumo, em troca de uma certa protecção e fornecimento de informações privilegiadas sobre eventuais rusgas nas suas zonas de actuação”, revela.
Para o interlocutor do A NAÇÃO, querendo, a Direcção da PN pode, “facilmente”, encontrar os agentes que consomem drogas pesadas.
“É só fazer testes aleatórios que, certamente, encontrarão alguns efectivos com indícios de consumo de estupefacientes. Havendo confirmação de casos de consumo de drogas, a PN deve, imediatamente, accionar o mecanismo de demissão desses efectivos, porquanto, uma pessoa sob efeito de estupefacientes muda totalmente o seu estado psíquico e não estará em condições de prestar serviço na Polícia”, vinca. Para confirmar a preocupação – de acordo com a mesma fonte -, vários agentes já foram, supostamente, mandados para tratamento de desintoxicação.
Despistar a investigação
O nosso interlocutor considera, entretanto, que “o cenário montado” e a tentativa de incriminar “Jamaica” – de forma apressada -, “foi uma forma de despistar a investigação, porque, se foi, realmente, um acidente, isso teria que ser assumido na hora” em que o caso aconteceu.
Mas não é só na PN que, hipoteticamente, se verifica esse tipo de situação. Na Polícia Judiciária, conforme avançámos também na edição nº624 de 15 de Agosto último, há, também, suspeitas de ligação entre um inspector dessa Polícia e uma rede de narcotráfico do bairro Eugénio Lima (na Praia), que foi desmantelada recentemente.
Ainda de acordo com a fonte do A NAÇÃO, há fortes indícios de existirem “tentáculos” entre os magistrados e oficiais de secretarias, junto das magistraturas e das alfândegas. Algumas câmaras municipais não escapam a essas suspeições. “É só ver quem financia determinados festivais”, sustenta a nossa fonte.
A NAÇÃO tentou obter uma reacção do director Nacional da PN, sobre as denúncias de alegados envolvimento de agentes no mundo do tráfico, via consumo de drogas pesadas, mas, infelizmente, até à hora do fecho desta edição não obtivemos qualquer reacção de Emanuel Estaline Moreno.
Aliás, o silêncio da PN para as demandas do A NAÇÃO são já frequentes, principalmente, quando o tema contém algum melindre.
DA
(Leia mais no A NAÇÃO impresso, nº 639, de 28 de Novembro de 2019)
Consumo de drogas pesadas: Há agentes “reféns” de traficantes
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