Cinco tamboreiros das ilhas de São Vicente, Santo Antão, Fogo e Brava
participam da residência criativa Tambor D´Ilha, no âmbito da URDI.
O objectivo é partilhar experiências, modos de fazer diferentes, e, através
da sua arte, lançar uma chamada de atenção para o risco de o fabrico de
tambores vir a cair em esquecimento ou mesmo desaparecer, num futuro
próximo.
“Trata-se de uma situação quase inédita, visto que muitos deles já se
conheciam, mas é a primeira vez que trabalham em conjunto. E a grande
riqueza desta experiência tem sido precisamente o cruzamento de
conhecimento entre eles” considera Eneida Tavares, designer portuguesa
que coordena a residência criativa.
Durante duas semanas, o grupo constrói e desconstrói tambores para
identificar as diferenças entre eles, nomeadamente entre as ilhas do norte
e as ilha do sul de arquipélago, mas também para mostrar ao público
como se desenvolve todo o processo de produção.
“Apesar de ter raiz cabo-verdiana, eu não tinha noção da importância que
este instrumento tem no país e na diáspora. Portanto, venho numa
perspetiva de ter um olhar crítico sobre um ofício com algum risco de cair
no esquecimento”, explica Eneida, para quem, apesar da sua celebração
ser ainda muito forte, há poucas pessoas a construir tambores. Exemplo
disso, é o facto dos tamboreiros que participam nesta residência
estarem todos acima dos 60 anos de idade.
Para além de tentar chamar mais pessoas para a construção de tambores,
a ideia passa também por incentivar quem tenha legitimidade para isso, a
pensar em algum modelo pedagógico, escola ou laboratórios oficinais em
que se ensina a confecção de tambores.
José Miranda, natural de São Vicente, aprendeu a fabricar tambores desde
criança, ao lado do pai. Este artesão mostra-se apreensivo em relação à
continuidade deste fabrico e pede que seja levado a cabo alguma
intervenção no sentido de manter viva a arte.
Do Fogo, Valdemir Dias fala da grande variedade de toques tradicionais
produzidos pelo tambor desta ilha, que se distancia do tambor de casco
de madeira, utilizando, em vez disso, um casco de metal.
Para ambos, tem sido uma experiência “muito rica”, onde todos
aprendem alguma coisa uns com os outros e partilham a experiência de
largos anos de trabalho.
A residência criativa Tambor D´Ilha já vai na sua segunda e última semana
e termina com u exposição de tambores dos artistas participantes.
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São Vicente: Tamboreiros das ilhas apelam ao resgate da tradição
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