Num discurso de 16 minutos, o ex-Presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, foi solto nesta sexta-feira, 8, depois de 580 dias detidos na Sede da Super-Intendência da Polícia Federal do Paraná, em Curitiba. Lula atacou sectores do Judiciário, o actual ministro da Justiça, Sérgio Moro, e se referiu ao Presidente Jair Bolsonaro “como o mentiroso das redes sociais.”
“No meu coração só tem espaço para amor, porque o amor vai vencer nesse País. Não é o ódio que vai vencer”, disse o ex-Presidente, diante de uma multidão de partidários.
“Actualmente, o povo está passando mais fome, está desempregado, o povo trabalha para a Uber ou para entregar pizzas de bicicleta”, afirmou.
O ex-Presidente cumpria, desde Abril de 2018, uma pena de oito anos de dez meses de prisão, por corrupção passive e lavagem de capitais.
No seu discurso, Lula também denunciou “o lado podre da Justiça, o lado podre do Ministério Público, o lado podre da Polícia Federal, o lado podre da Receita Federal, capaz de trabalhar para tentar criminalizar a esquerda, criminalizar o PT, criminalizar o Lula.”
Na sua saída, ele estava sendo aguardado pelas principais lideranças do Partido dos Trabalhadores (PT), movimentos sociais e as pessoas que acamparam na frente da Sede da Polícia, desde que foi preso. Esta, também, foi a primeira vez que ele se expôs em público ao lado da namorada, a socióloga Rosângela da Silva. Disse que pretende se casar.
O ex-Presidente também declarou que irá para São Paulo e, depois, sairá em caravana pelo País, assumindo seu papel de líder da Oposição para as Eleições Presidenciais de 2022. Lula não exclui sua candidatura, mas sua soltura não o devolve seus direitos políticos – ele é réu em sete acções criminais.
Lula foi beneficiado por uma decisão tomada, na véspera, pelo Supremo Tribunal Federal, que proibiu o cumprimento de penas de prisão enquanto os acusados não tenham esgotado todos os recursos judiciais: ninguém pode ser condenado antes do chamado trânsito em julgado.
Lula foi condenado por, supostamente, receber um apartamento da empreiteira OAS no Guarujá, litoral de São Paulo, em troca de mediação para contratos na Petrobras.
Mas o ex-sindicalista nega as acusações e disse, na ocasião, ser vítima de uma manobra jurídica para impedi-lo de disputar as Eleições Presidenciais de 2018, nas quais Jair Bolsonaro foi eleito. Sua posição ganhou força quando Bolsonaro nomeou o então juiz Sergio Moro, símbolo da Operação Lava-Jato e autor da primeira condenação contra o ex-Presidente (2003-2010), como ministro da Justiça e Segurança Pública.
Dois dos filhos do Presidente Bolsonaro já publicaram diversas mensagens no “Twitter”. “Milhares de presos serão soltos e atordoarão a todos que independente (sic) de escolha política, gerará (sic) reflexos sociais e económicos seríssimos internos e externos, para quem está aí ou quem virá”, condenou o vereador do Rio de Janeiro, Carlos Bolsonaro.
O deputado Eduardo Bolsonaro, por sua vez, retuitou mensagem do líder de um movimento conservador: “Lula não será adversário porque está acabado politicamente”.
Segundo analistas, o ex-Presidente fortalecerá tanto o PT quanto, paradoxalmente, Bolsonaro, que soube canalizar o ódio de parte do eleitorado contra o ex-líder sindical, prometendo inclusive fazer com que o ex-Presidente apodrecesse na prisão.
Com RFI