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Cultura

Marcelo Rodrigues, encadernador, uma arte em extinção: “Restaurar livros é como salvar vidas”

Com toda a paciência e a minúcia que o ofício exige, Marcelo Rodrigues senta-se ao pé de uma pilha de livros, pega num e o começa a desmontar. Primeiro retira a capa e, de seguida, cuidadosamente, separa, folha a folha, até não se reconhecer livro no amontoado de papel. Com perícia, para não se perder nenhum elemento importante da identificação da obra e para preservar a sua originalidade, Marcelo dá início a um novo processo.

Sempre com a mesma calma, primeiro limpa, depois estica as arestas e organiza, tudo bem alinhado, antes de ser colado e costurado. Da capa aproveita-se tudo o que de informação possa conter. Recorta-se e junta-se a um novo material que vai ser o cartão de visita para a história no seu interior. E, neste quesito, Marcelo capricha para que a aparência seja a mais convidativa possível. Afinal, um livro não é apenas o seu conteúdo, mas também um objecto de atracção.

Durante a sua carreira, este mestre da arte de encadernar já passou por várias instituições do país. Desde o Arquivo Histórico Nacional (na cidade da Praia) a câmaras municipais, escolas e bibliotecas. Não possuindo uma oficina própria, desloca-se aonde o seu engenho e arte forem solicitados. É também uma forma, mais prática, de realizar a tarefa e poupar os livros, já desgastados, dos estragos de uma eventual viagem.

Actualmente, Marcelo Rodrigues é o único que faz este tipo de trabalho em São Vicente e dos poucos que ainda restam em Cabo Verde inteiro. Além de São Vicente, já prestou os seus serviços nas ilhas de Santiago, Fogo e Brava e, garante, trabalho não lhe falta.

“Só para dar um exemplo, houve uma altura e que fui chamado para trabalhar durante três meses na ilha Brava e acabei por ficar lá durante quatro anos. Havia muito trabalho a ser feito”, recorda. Neste momento, por coincidência, prepara-se para mais uma maratona na ilha das flores, terra de Eugénio Tavares, nome incontornável da cultura cabo-verdiana.

Arte em extinção

Marcelo Rodrigues lamenta, entretanto, que esta seja uma caminhada solitária. Não há interesse dos jovens em aprender este ofício que ele aprendeu com o pai, que morreu em 2002.

Pensando precisamente no futuro da encadernação artesanal, Marcelo convidou um grupo de dez jovens para receberem dele uma formação gratuita. Do grupo, resta apenas um dos elementos, no caso uma jovem estudante, Vanusa Delgado, chegou ao fim da formação e que agora continua ao seu lado, a trabalhar.

NA
(Leia mais no A Nação impresso, nº 635, de 31 de Outubro de 2019)

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