O frequente desaparecimento de pescadores em Cabo Verde, que se dedicam à pesca artesanal, constituiu desde sempre um calvário para as respectivas famílias, bem como uma grande dor de cabeça para as entidades governamentais.
Pensando nisso, a Escola “Nhô Fula” desenvolveu, em colaboração com o mentor, Silas Leite, o projecto “Salvar o homem e o bote com flutuadores”.
Como o próprio nome sugere, o projecto consiste na adaptação de flutuadores nas bordas das embarcações de pesca do país. Assim sendo, pretende-se prestar um contributo em questões da salvaguarda da vida humana no meio aquático e com a mais-valia de se salvar “tudo e todos”, ou seja, o homem e o seu meio de sustento.
A contribuição no reforço de parceria para acções-conjuntas na prevenção de afogamentos e intervenções de salvamento aquático é outro dos objectivos, segundo o mentor da iniciativa.
“Esta ideia ganha muito mais força e com convicção determinada, quando, todos sabem que, anualmente, várias vidas humanas e embarcações se perdem no decurso da faina piscatória. Porquê? Por negligência aos meios de segurança e de salvamento. Se a responsabilidade maior de tais consequências é de quem ocupa tão frágeis embarcações, principalmente, as de boca aberta, há que se aceitar a outra quota de responsabilidade do sector marítimo e da sociedade civil organizada que, talvez, não tenha, ainda, colocado devidamente, a mão na ferida”, sustenta o mentor Silas Leite, também ele, presidente de “Nhô Fula”.
Este Projecto tem as embarcações de Pesca Artesanal como foco, num primeiro momento, mas não descarta que, “lá mais para a frente” seja adaptado às embarcações da Marinha Mercante.
“Pensamos o Projecto tendo em vista todos os profissionais da Pesca Artesanal em embarcações de boca aberta de todas as comunidades piscatórias de Cabo Verde, enquanto beneficiários directos, e das famílias e da sociedade cabo-verdiana, como beneficiários indirectos”, acrescenta o presidente da ENAFSALVA.
Apresentação
O Projecto – segundo Silas Leite -, “ainda está em fase de socialização”, pelo que para o que resta de 2019, estão propostas algumas actividades da sua apresentação às autoridades e aos beneficiários directos e indirectos.
“Vamos demonstrar, em contexto real, de bote com flutuadores e dois a três ocupantes capotando e colocado, de novo, na sua posição normal, pelos ocupantes, antes de serem lançados ao mar. Propomos o acompanhamento por representantes da Autoridade Marítima, Guarda Costeira, Câmara Muncipal de São Vicente, instituições e associações que lidam directa e indirectamente com a Pesca”, explica Silas Leite, ao Jornal A NAÇÃO.
Neste sentido, a realização do Mindelo “Ocean Week” bem como a Expomar são boas oportunidades. “Pretendemos fazer a apresentação, no marco do ‘Ocean Week’, de um Painel de Segurança Marítima. Para tal, está na nossa agenda contactos com os organizadores, em ordem a para sabermos se isso pode ser encaixado lá. Depois, queremos fazer, também, uma apresentação na Expomar”, revela Silas Leite.
ENAFSALVA tem 20 anos de vida
A Escola de Natação e de Salvamento Aquático “Nhô Fula” (ENAFSALVA) foi criada em 1999. Actualmente é presidida por Silas Leite, mentor do Projecto “Salvar o homem e o bote com flutuadores.
De 1999 a esta parte, contam-se como “ganhos mais relevantes” da ENAFSALVA, a formação de mais de 150 instrutores de Natação, mais de dois mil novos nadadores, de todas as idades, género e estratos sociais, a par da implementação de projectos sociais, como a inclusão de crianças e adolescentes carenciados no processo do ensino/aprendizagem da natação – a custo zero -, a realização de seminários e conferências temáticos, em torno da Natação Preventiva e Salvamento Aquático.
“Já enviámos, também, vários estudantes a Portugal, para a formação profissional em áreas das mais diversas”, conclui Silas Leite.
JF
(Publicado no A Nação impresso, nº 632, de 10 de Outubro de 2019)